São Paulo, terça-feira, 26 de dezembro de 2006

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Na contramão, Canadá busca imigrantes

Com baixa natalidade, falta de mão-de-obra e crescimento econômico, país estima precisar de 680 mil estrangeiros

Alvo maior é trabalhador especializado, mas gama é vasta e vai de astrônomos a encanadores; governo do Québec paga aula de francês

CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A MONTRÉAL

Na corrente contrária à de grande parte da Europa, o Canadá está estimulando uma onda de imigração com o objetivo de sanar o déficit de trabalhadores especializados no país. O cálculo oficial, com base em variáveis como a baixa taxa de natalidade -uma média de 1,5 filho por mulher- , necessidade de força de trabalho e crescimento econômico, é de que sejam necessárias 680 mil pessoas para suprir o mercado canadense até 2009.
Um dos focos tradicionais de atração de imigrantes, a Província do Québec estabeleceu como meta trazer 48 mil trabalhadores no próximo ano -para este ano, a meta era de 46 mil, 2.000 a mais que em 2005. O alvo são trabalhadores especializados, sobretudo profissionais liberais com alto nível de escolaridade, que passam por uma seleção rigorosa sob responsabilidade do governo provincial. Hoje 67% de toda a imigração nessa região atende a esse perfil econômico.
Um requisito essencial é falar francês, língua tida como condição necessária para a integração no Québec. O governo, por sua vez, se encarrega de pagar aulas da língua ao imigrante. "Construímos este país com a imigração. Somos um povo velho e precisamos de imigração para nos desenvolver", disse Lise Thériaut, ministra de Imigração e Comunidades Culturais da Província de Québec. "Selecionamos pessoas jovens, que saibam falar francês, que sejam qualificadas e que correspondam às nossas necessidades de trabalhadores."

Flexibilização
Segundo Thériaut, estão em estudo mudanças nos processos para atrair empregados para funções específicas, como encanadores e padeiros, com outra exigência de qualificação.
Isso já está ocorrendo nas Províncias de Alberta e da Colúmbia Britânica, onde o crescimento das indústrias de petróleo, mineração e química tem gerado déficits preocupantes de força de trabalho. Em novembro, o governo canadense flexibilizou a contratação de trabalhadores temporários estrangeiros em mais de 170 áreas de atuação nessas duas regiões, com o argumento de que as empresas locais "estão tendo muita dificuldade para achar empregados". A necessidade é de profissionais tão variados quanto engenheiros químicos, astrônomos, encanadores, veterinários, joalheiros, motoristas e faxineiros.
Para contratar estrangeiros, as empresas precisam realizar extensas campanhas domésticas de recrutamento com o fim de demonstrar que não há canadenses aptos ou disponíveis para a função. As novas regras reduzem os prazos para recrutamento.

Multiculturalismo
O Canadá recebe, em média, 250 mil novos imigrantes por ano. Essa forte tradição migratória explica-se em parte pela política de multiculturalismo adotada pelo país desde 1971 e que se transformou em lei em 1988.
Apenas em Montréal, a maior cidade da Província de Québec, convivem 125 diferentes nacionalidades -são 220 etnias em todo o país. Toronto, na Província de Ontário, é tida como a cidade mais multicultural: 20% da população é de origem estrangeira. De acordo com Víctor Armony, professor de Sociologia da Universidade de Québec em Montréal, estima-se que em 2016 as "minorias visíveis" (pessoas de origem asiática, árabe e latino-americana) serão 20% da população. "A imagem do "mosaico canadense", ou seja, de uma sociedade em que os diferentes grupos mantêm e projetam sua identidade distinta, contrasta com o modelo de caldeirão dos EUA, onde se buscou mais a assimilação rápida e completa dos imigrantes", explica Armony.


A jornalista CAROLINA VILA-NOVA viajou a convite do governo canadense

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