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"Momento é catastrófico para os palestinos", diz cientista político
DA EDITORA DE MUNDO
"É um momento catastrófico
para os palestinos. Há divisão,
estamos sem voz", diagnostica
o cientista político Bashir Bashir, palestino de Jerusalém e
co-autor do documento "Retomando a Iniciativa", publicado
em agosto pelo Grupo Palestino de Estudos Estratégicos.
Bashir deplora as tensões entre o Fatah e o Hamas, e acusa o
grupo islâmico de tentar "seqüestrar o mapa político palestino". Ele condena a "estupidez
moral e política" dos atentados
da Segunda Intifada, no final de
2000. Mas considera falsa a
alegação, feita com freqüência
por dirigentes israelenses, de
que não há parceiros para a paz:
"Desde 1988 [quando a Organização para a Libertação da
Palestina reconheceu a existência de Israel] eles tiveram os
parceiros mais moderados que
podiam ter, e nunca perderam
a oportunidade de miná-los",
disse o cientista político em seminário sobre as relações entre
Israel e seus vizinhos realizado
no fim de novembro na Universidade Hebraica de Jerusalém.
Para Bashir, Israel optou por
negociações "perpétuas", sem
atender de fato às aspirações
palestinas. Por isso, afirma, é
preciso desmistificar tanto o
discurso do "processo de paz"
quanto o da "construção de nação", que pretende que a Autoridade Nacional Palestina mantenha instituições estáveis sem
um Estado soberano.
"Fala-se em processo de paz
como se fossem duas partes
com poder simétrico, quando
os palestinos estão sob ocupação. Fala-se em construir o Estado palestino quando não há
autodeterminação."
Bashir, cuja trabalho em
ciência política está ligado à tese habermasiana da "democracia deliberativa", é um dos intelectuais palestinos que passaram à defesa do Estado binacional, sob a forma de uma confederação dos dois povos.
Anátema para 99% dos judeus israelenses, a idéia também é minoritária entre os palestinos, como ele próprio admite. Mas o cientista político
afirma que parte de "uma realidade prática" em que a penetração israelense na Cisjordânia tende a inviabilizar o estabelecimento de dois Estados.
"Na solução binacional não
seria necessário corrigir uma
situação criando outros problemas, uma injustiça criando outra", argumenta. "Posso ser
acusado de idealista ou escapista, mas acredito que o único caminho adiante deve ser motivado por razões humanitárias de
justiça e pela perspectiva de
uma reconciliação histórica."
Bashir diz, entretanto, que
não se oporia à solução dos dois
Estados, "se ela atender a parâmetros mínimos", em sua avaliação ausentes de todas as propostas já apresentadas por Israel nas negociações. Como outros palestinos e vários analistas israelenses, ele crê que a libertação por Israel de Marwan
Barghouti, o mais popular dos
líderes formados nos territórios ocupados (e não no exílio),
"aumentaria as chances de reconciliação no movimento nacional palestino".
(CA)
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