São Paulo, domingo, 27 de janeiro de 2002

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COLAPSO DA ARGENTINA

25 mil nas ruas de Buenos Aires fazem maior protesto contra Duhalde; 15 das 23 Províncias fazem protesto

Megapanelaço tem 21 feridos e 67 presos

Associated Press
Policiais argentinos mantêm deitados manifestantes que faziam panelaço na praça de Maio, em Buenos Aires, ontem de madrugada


FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES

O maior protesto enfrentado pelo presidente Eduardo Duhalde nas suas pouco mais de três semanas de governo terminou com um saldo de 67 pessoas detidas e pelo menos 21 feridos.
O megapanelaço que se espalhou pela Argentina na noite de sexta e se estendeu até a madrugada de ontem foi conduzido de forma pacífica até pouco depois das 24h (1h em Brasília) de sexta. Foi quando a polícia resolveu dispersar os manifestantes que se concentravam na praça de Maio, mesmo sob a forte chuva que caía no momento.
O choque entre os manifestantes, que atiravam pedras, e a polícia, que respondia com balas de borracha e gás lacrimogêneo, aconteceu nas ruas que cercam a Casa Rosada e em frente ao Congresso. O resultado foi de 10 policiais e 11 manifestantes levemente feridos.
Desta vez, não houve atos de vandalismo registrados nas ruas de Buenos Aires após o panelaço. O protesto foi convocado pelos "partidos de vizinhos" (grupos sem ligação partidária formados nos bairros).
O fim do curralzinho (o bloqueio das contas bancárias) e a renúncia dos membros da Suprema Corte centralizaram as reivindicações dos panelaços realizados simultaneamente em pelo menos 15 das 23 Províncias argentinas. Estimativas da televisão argentina apontam que pelo menos 25 mil pessoas se concentraram na praça de Maio no auge do protesto.
O comissário Héctor Roncati, um dos responsáveis pela ação policial, disse que "a repressão foi uma resposta da polícia à agressão sofrida e teve a finalidade de restabelecer a ordem".
Durante o tenso dia de sexta, ameaças de saques voltaram a ser registradas em Buenos Aires.
O presidente Duhalde acompanhou passo a passo os protestos pela televisão. Segundo o porta-voz da Presidência, Eduardo Amadeo, enquanto via a evolução dos episódios, Duhalde conversava ao telefone com o secretário de Segurança Juan José Alvarez. O presidente também discutiu o panelaço, por telefone, com os ministros Jorge Vanossi (Justiça), Jorge Remes Lenicov (Economia) e Carlos Ruckauf (Relações Exteriores).
Amadeo afirmou que a manifestação foi encarada pelo governo como pacífica. "Os protestos mostram a profunda insatisfação geral com o funcionamento das instituições na Argentina nos últimos anos."
Duhalde alertou a população ontem, em transmissão radiofônica, para que tenha "muito cuidado durante os protestos". "Nossa dor não pode gerar uma tragédia ainda maior", disse Duhalde, em referência aos atos violentos que caracterizam muitos dos panelaços ocorridos nas últimas semanas.
O presidente também afirmou que em poucos dias será conhecido seu plano econômico. A inflação deste mês não vai superar os 2%, segundo Duhalde.


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