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Kosovo deverá se declarar independente, diz jornal
Segundo "Financial Times", Província prefere deixar a Sérvia com aval da ONU
Negociador da ONU anuncia
plano mais modesto, que
prevê manutenção de laços
com sérvios, mas também
independência diplomática
DA REDAÇÃO
A Província de Kosovo, sob a
administração das Nações Unidas -mas formalmente ainda
integrada à República Sérvia-,
quer declarar sua independência "nos próximos meses".
A informação foi dada ao "Financial Times" por diplomatas
que participaram ontem, em
Viena, da reunião do grupo de
contato sobre Kosovo -Estados Unidos, Reino Unido,
França, Itália, Rússia e Alemanha -, em que o mediador da
ONU sobre o território, o finlandês Martti Ahtisaari, apresentou seu plano.
Pelo texto do diplomata, a
Sérvia poderia financiar o dispositivo de segurança dos encraves em que os sérvios de Kosovo são majoritários (eles representam só 7% da população
total da Província), e os kosovares poderiam ter dupla nacionalidade. Mas Kosovo teria relações diplomáticas com outros
países.
Há dois sérios problemas no
caso de a Província atropelar a
proposta de Ahtisaari e adotar
uma independência unilateral.
O primeiro é a própria Sérvia,
que não aceitaria passivamente
um novo desmembramento de
seu território -no ano passado
Montenegro, com um plebiscito, tornou-se Estado soberano.
O segundo problema é a Rússia, histórica aliada da Sérvia
(afinidade cultural, o cristianismo ortodoxo) e dona de poder
de veto no Conselho de Segurança, que deveria "em termos
ideais", diz o "Financial Times", dar retaguarda à operação de independência.
Muhamet Hamiti, conselheiro da maioria etnicamente albanesa da Província, disse ao
jornal britânico que as lideranças locais cogitam a independência, mas que "prefeririam"
que ela viesse com o aval da
ONU -o que supõe superar as
objeções russas.
Por enquanto, os russos se
dizem apenas "céticos" com o
plano de Ahtisaari.
O território está há oito anos
sob a administração da ONU,
em razão da guerra em que a
Otan (aliança militar ocidental)
interveio em 1999 para socorrer os etnicamente albaneses
(88% da população), quando
tropas da República Sérvia tentaram o que se considerou então uma nova "limpeza étnica".
Missão de contatos
Ahtisaari viajará dentro de
seis dias a Belgrado, capital da
Sérvia, e a Pristina, capital de
Kosovo, para conversar com os
interessados. O presidente sérvio, Boris Tadic, deverá recebê-lo. O primeiro-ministro Vojislav Kostunica, demissionário
depois das eleições legislativas
de domingo, prefere que Ahtisaari se aviste com seu sucessor, ainda não indicado.
A situação interna da Sérvia é
confusa, já que o Partido Radical, de tendência ultranacionalista, foi o mais votado, mas não
chefiará o novo gabinete. Os radicais são os herdeiros do ex-presidente Slobodan Milosevic,
que morreu em Haia (Holanda)
durante seu julgamento por genocídio num tribunal internacional. O partido se opõe à independência de Kosovo.
O primeiro-ministro kosovar, Agim Ceku, rejeitou ontem
a possibilidade de a independência ser postergada e tomou
a proposta de Ahtisaari como
um roteiro definitivo.
Pelo plano da ONU, os santuários ortodoxos sérvios seriam colocados sob proteção, e
a Província teria como supervisora a União Européia. Para
evitar confrontos étnicos, a
Otan manteria seu contingente
de 16.500 militares.
Rússia e França
Diplomatas em Viena disseram que o grupo de contato estava "profundamente dividido", em razão das objeções russas, baseadas na exigência de
não tomar decisões enquanto a
Sérvia não conseguisse formar
um novo governo.
A necessidade de esperar que
a Sérvia forme seu novo gabinete também é defendida, embora por motivos diferentes, pela
França, que integra o grupo de
contato, e pela Espanha, que
exprimiu sua posição como integrante da União Européia.
Para efeitos externos, no entanto, os russos não opõem ao
plano da ONU uma rejeição
frontal. O vice-chanceler Vladimir Titov disse ontem em Moscou que o sucesso do projeto
depende da reação de Belgrado
-que previsivelmente reagirá
mal- e de Pristina.
Com agências internacionais
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