São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 2007

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Kosovo deverá se declarar independente, diz jornal

Segundo "Financial Times", Província prefere deixar a Sérvia com aval da ONU

Negociador da ONU anuncia plano mais modesto, que prevê manutenção de laços com sérvios, mas também independência diplomática

DA REDAÇÃO

A Província de Kosovo, sob a administração das Nações Unidas -mas formalmente ainda integrada à República Sérvia-, quer declarar sua independência "nos próximos meses".
A informação foi dada ao "Financial Times" por diplomatas que participaram ontem, em Viena, da reunião do grupo de contato sobre Kosovo -Estados Unidos, Reino Unido, França, Itália, Rússia e Alemanha -, em que o mediador da ONU sobre o território, o finlandês Martti Ahtisaari, apresentou seu plano.
Pelo texto do diplomata, a Sérvia poderia financiar o dispositivo de segurança dos encraves em que os sérvios de Kosovo são majoritários (eles representam só 7% da população total da Província), e os kosovares poderiam ter dupla nacionalidade. Mas Kosovo teria relações diplomáticas com outros países.
Há dois sérios problemas no caso de a Província atropelar a proposta de Ahtisaari e adotar uma independência unilateral.
O primeiro é a própria Sérvia, que não aceitaria passivamente um novo desmembramento de seu território -no ano passado Montenegro, com um plebiscito, tornou-se Estado soberano.
O segundo problema é a Rússia, histórica aliada da Sérvia (afinidade cultural, o cristianismo ortodoxo) e dona de poder de veto no Conselho de Segurança, que deveria "em termos ideais", diz o "Financial Times", dar retaguarda à operação de independência.
Muhamet Hamiti, conselheiro da maioria etnicamente albanesa da Província, disse ao jornal britânico que as lideranças locais cogitam a independência, mas que "prefeririam" que ela viesse com o aval da ONU -o que supõe superar as objeções russas.
Por enquanto, os russos se dizem apenas "céticos" com o plano de Ahtisaari.
O território está há oito anos sob a administração da ONU, em razão da guerra em que a Otan (aliança militar ocidental) interveio em 1999 para socorrer os etnicamente albaneses (88% da população), quando tropas da República Sérvia tentaram o que se considerou então uma nova "limpeza étnica".

Missão de contatos
Ahtisaari viajará dentro de seis dias a Belgrado, capital da Sérvia, e a Pristina, capital de Kosovo, para conversar com os interessados. O presidente sérvio, Boris Tadic, deverá recebê-lo. O primeiro-ministro Vojislav Kostunica, demissionário depois das eleições legislativas de domingo, prefere que Ahtisaari se aviste com seu sucessor, ainda não indicado.
A situação interna da Sérvia é confusa, já que o Partido Radical, de tendência ultranacionalista, foi o mais votado, mas não chefiará o novo gabinete. Os radicais são os herdeiros do ex-presidente Slobodan Milosevic, que morreu em Haia (Holanda) durante seu julgamento por genocídio num tribunal internacional. O partido se opõe à independência de Kosovo.
O primeiro-ministro kosovar, Agim Ceku, rejeitou ontem a possibilidade de a independência ser postergada e tomou a proposta de Ahtisaari como um roteiro definitivo.
Pelo plano da ONU, os santuários ortodoxos sérvios seriam colocados sob proteção, e a Província teria como supervisora a União Européia. Para evitar confrontos étnicos, a Otan manteria seu contingente de 16.500 militares.

Rússia e França
Diplomatas em Viena disseram que o grupo de contato estava "profundamente dividido", em razão das objeções russas, baseadas na exigência de não tomar decisões enquanto a Sérvia não conseguisse formar um novo governo.
A necessidade de esperar que a Sérvia forme seu novo gabinete também é defendida, embora por motivos diferentes, pela França, que integra o grupo de contato, e pela Espanha, que exprimiu sua posição como integrante da União Européia.
Para efeitos externos, no entanto, os russos não opõem ao plano da ONU uma rejeição frontal. O vice-chanceler Vladimir Titov disse ontem em Moscou que o sucesso do projeto depende da reação de Belgrado -que previsivelmente reagirá mal- e de Pristina.


Com agências internacionais


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