São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 2007

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Asilos a venezuelanos disparam nos EUA

Maioria alega perseguição política pelo governo de Hugo Chávez; concessões pularam de nove em 1997 para 961 em 2005

Salto é o maior da região, que registra crescimento de asilados de outros países; beneficiado diz ter tido facilidade em obter papéis

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

Balanço do Serviço de Imigração americano revela um crescimento de 10.677% na concessão de asilos político a cidadãos venezuelanos nos EUA desde a eleição do presidente Hugo Chávez para o Palácio de Miraflores em 1998.
Segundo dados do Centro de Estatísticas de Imigração divulgados nesta semana, 2.256 venezuelanos receberam asilo político nos EUA entre 2004 e 2005. Em 1997, antes da ascensão de Chávez, apenas nove tiveram o mesmo benefício.
A justificativa: perseguição política e o "perigo vermelho de um regime comunista prestes a se instalar" em Caracas. Em 2005, mais de 1.400 venezuelanos pediram asilo a tribunais de imigração -contra 102 petições em 1997- e cerca de 11 mil conseguiram o "green card", a residência legal -mais do que o dobro que no ano 2000.
Para receber asilo político nos EUA, o imigrante deve provar o risco que corre em seu país de origem devido a raça, religião, nacionalidade, posição política ou minoria. Em alguns casos, só o depoimento do exilado é suficiente para concessão do benefício por um agente de imigração. Em situações mais complexas, o caso é levado a um tribunal de imigração.
Na América Latina, Colômbia e Haiti, palcos de confronto e violência social, o número de concessões de asilo também saltou (veja quadro). Na contramão, Argentina e Chile tiveram aumento insignificante.
Pelo número baixo de pedidos, o levantamento do governo americano classifica a concessão de asilo político a brasileiros como "outros". Para o escritório de advocacia Fowler White Burnett, especializado em imigração, os brasileiros têm um perfil distinto dos demais imigrantes latinos: vêm para se aventurar, poupar dinheiro e voltar após alguns anos, enquanto os hispânicos, em geral, buscam permanecer.

Retaliação
Em 1959, o pai do venezuelano José Lopez Cuenca trocou Cuba por Caracas, na fuga da perseguição política da ditadura castrista. Em 2004, depois de dois anos desempregado, Cuenca, 42, deixou o país e imigrou para Miami na busca de alternativas ao governo chavista.
Engenheiro da estatal de petróleo PDVSA, ele participou da greve contra o governo em 2002. Foi exonerado e banido do funcionalismo. Empresas privadas, por medo de retaliação do governo, diz Cuenca, não quiseram empregá-lo. Segundo relata, obteve facilmente asilo político e permissão de trabalho na Flórida.
"É triste ver a Venezuela ir cada vez mais rápido na direção da ditadura de Fidel Castro. As pessoas estão fugindo não por crise econômica, mas por perseguição política. O regime comunista não é mais uma possibilidade, é fato", diz Cuenca.
Chávez nunca chegou a falar em instalar um regime comunista. Mas o discurso de sua terceira posse -no último dia 10, quando prometeu conduzir a Venezuela ao "socialismo do século 21"- foi suficiente para levar escritórios de assistência em imigração ouvidos pela Folha em Miami a preverem um aumento ainda maior na concessão de asilo a venezuelanos.
Associações de expatriados venezuelanos pedem a Washington prerrogativas iguais às concedidas a cidadãos cubanos pela Lei de Ajustamento, que dá status de refugiados e privilégios, como concessão quase automática de "green card".
Segundo o Centro de Estatísticas de Imigração, além do asilo político, o número de imigrantes venezuelanos subiu sensivelmente nos últimos anos. Muitos vêm com visto de turismo, negócios ou estudo e ficam ilegalmente nos EUA.


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