|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Asilos a venezuelanos disparam nos EUA
Maioria alega perseguição política pelo governo de Hugo Chávez; concessões pularam de nove em 1997 para 961 em 2005
Salto é o maior da região,
que registra crescimento de
asilados de outros países;
beneficiado diz ter tido
facilidade em obter papéis
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI
Balanço do Serviço de Imigração americano revela um
crescimento de 10.677% na
concessão de asilos político a
cidadãos venezuelanos nos
EUA desde a eleição do presidente Hugo Chávez para o Palácio de Miraflores em 1998.
Segundo dados do Centro de
Estatísticas de Imigração divulgados nesta semana, 2.256
venezuelanos receberam asilo
político nos EUA entre 2004 e
2005. Em 1997, antes da ascensão de Chávez, apenas nove tiveram o mesmo benefício.
A justificativa: perseguição
política e o "perigo vermelho de
um regime comunista prestes a
se instalar" em Caracas. Em
2005, mais de 1.400 venezuelanos pediram asilo a tribunais
de imigração -contra 102 petições em 1997- e cerca de 11 mil
conseguiram o "green card", a
residência legal -mais do que o
dobro que no ano 2000.
Para receber asilo político
nos EUA, o imigrante deve provar o risco que corre em seu
país de origem devido a raça,
religião, nacionalidade, posição
política ou minoria. Em alguns
casos, só o depoimento do exilado é suficiente para concessão do benefício por um agente
de imigração. Em situações
mais complexas, o caso é levado
a um tribunal de imigração.
Na América Latina, Colômbia e Haiti, palcos de confronto
e violência social, o número de
concessões de asilo também
saltou (veja quadro). Na contramão, Argentina e Chile tiveram aumento insignificante.
Pelo número baixo de pedidos, o levantamento do governo americano classifica a concessão de asilo político a brasileiros como "outros". Para o escritório de advocacia Fowler
White Burnett, especializado
em imigração, os brasileiros
têm um perfil distinto dos demais imigrantes latinos: vêm
para se aventurar, poupar dinheiro e voltar após alguns
anos, enquanto os hispânicos,
em geral, buscam permanecer.
Retaliação
Em 1959, o pai do venezuelano José Lopez Cuenca trocou
Cuba por Caracas, na fuga da
perseguição política da ditadura castrista. Em 2004, depois
de dois anos desempregado,
Cuenca, 42, deixou o país e imigrou para Miami na busca de alternativas ao governo chavista.
Engenheiro da estatal de petróleo PDVSA, ele participou
da greve contra o governo em
2002. Foi exonerado e banido
do funcionalismo. Empresas
privadas, por medo de retaliação do governo, diz Cuenca,
não quiseram empregá-lo. Segundo relata, obteve facilmente
asilo político e permissão de
trabalho na Flórida.
"É triste ver a Venezuela ir
cada vez mais rápido na direção
da ditadura de Fidel Castro. As
pessoas estão fugindo não por
crise econômica, mas por perseguição política. O regime comunista não é mais uma possibilidade, é fato", diz Cuenca.
Chávez nunca chegou a falar
em instalar um regime comunista. Mas o discurso de sua terceira posse -no último dia 10,
quando prometeu conduzir a
Venezuela ao "socialismo do
século 21"- foi suficiente para
levar escritórios de assistência
em imigração ouvidos pela Folha em Miami a preverem um
aumento ainda maior na concessão de asilo a venezuelanos.
Associações de expatriados
venezuelanos pedem a Washington prerrogativas iguais às
concedidas a cidadãos cubanos
pela Lei de Ajustamento, que
dá status de refugiados e privilégios, como concessão quase
automática de "green card".
Segundo o Centro de Estatísticas de Imigração, além do asilo político, o número de imigrantes venezuelanos subiu
sensivelmente nos últimos
anos. Muitos vêm com visto de
turismo, negócios ou estudo e
ficam ilegalmente nos EUA.
Texto Anterior: Confrontos em Gaza deixam 14 mortos Próximo Texto: Evo Morales aceita prazo maior para Constituinte Índice
|