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HAITI EM RUÍNAS
EUA controlam maior porto haitiano
Operação não faz parte de pacto entre americanos e ONU para gestão de pontos estratégicos da capital
Da orla, é possível visualizar cinco navios americanos, entre eles o porta-aviões USS Carl Vinson; França tem duas fragatas pequenas
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE
Mesmo fora do acordo assinado entre os EUA e a ONU para administração dos pontos
estratégicos de Porto Príncipe,
o porto da capital haitiana também está sendo controlado por
tropas americanas.
Centenas de militares do
Exército, da Marinha e da
Guarda Costeira patrulham o
local e trabalham no conserto
de 1 dos 2 terminais de carga
danificados (o outro é considerado um caso perdido).
O porto da capital do Haiti foi
bastante atingido pelo terremoto. Onde havia espaço para
navios atracarem, há guindastes e contêineres tombados. O
chão tem várias rachaduras.
Da orla, é possível visualizar
cinco navios americanos, entre
eles o porta-aviões USS Carl
Vinson. Outros estão mais afastados, dizem militares ouvidos
pela Folha. Ao menos 16 mil
soldados dos EUA estão sendo
enviados ao país caribenho.
A França também marca
presença -mais discreta, com
duas pequenas fragatas.
Anteontem, a Folha viu pelo
menos 300 americanos no
principal porto do país. Vários
estão acampados num dos extremos de um dos píeres. Um
diminuto grupo de 20 franceses observava a movimentação
num canto do porto.
Na semana passada, com a
súbita chegada de milhares de
tropas americanas, um memorando de entendimento foi assinado às pressas com a Minustah, a força de paz das Nações
Unidas, liderada pelo Brasil.
O acordo deu aos americanos
controle interno do aeroporto,
e um papel na segurança dos
comboios de ajuda humanitária. No papel, nada além disso.
Na prática, a presença dos
EUA é cada vez mais visível em
patrulhas pela cidade, a pé ou
em jipes militares Hummer. É
da esfera americana, por exemplo, o entorno do antigo palácio
presidencial, hoje em ruínas.
Em entrevista à Folha, o almirante Samuel Perez Jr., comandante da operação militar
americana no porto, disse que
não sabia quantos homens tinha sob seu comando naquele
momento. "Sei que parece estranho, mas eu não sei. Eles
chegam tão rápido! Os números só mudam. E mais virão para a reconstrução", declarou ao
ser indagado sobre o tamanho
do contingente que chefiava.
Desde a semana passada, militares americanos estão trabalhando na recuperação do local. Mergulhadores estão verificando o estado das fundações
do terminal que foi menos avariado, para determinar quanto
peso pode suportar.
"Nossa função é reabrir o
porto, de forma a priorizar o
recebimento de suprimentos
para mitigar o sofrimento no
Haiti. Temos danos extensivos
aqui", afirmou Perez.
No início da semana, um outro terminal, a cerca de 2 km de
distância, voltou a receber gasolina, também após ter sido
reparado pelas tropas dos EUA.
A capacidade é de 9.000 galões (34 mil litros) de combustível, o que deve ajudar a baixar
um pouco seu preço nos poucos postos que restaram de pé.
Nos dias seguintes ao sismo,
a escassez de gasolina -que já
faltava antes da tragédia- fez o
combustível triplicar de valor e
causou longas filas nos postos.
Perez afirma que já conseguiu elevar a capacidade de
descarregamento para 122 contêineres por dia. Em até 12 semanas, a ideia é que a capacidade seja elevada para 450 contêineres por dia.
Num primeiro momento,
apenas ajuda humanitária está
sendo descarregada, mas em
seguida o movimento de exportação e importação seria retomado, conforme seus planos.
"Temos de pensar em como
manter a economia funcionando e também em como colocar
haitianos de volta no trabalho",
afirma Perez.
Ele nega que os EUA estejam
controlando o local. "Nós só temos mais pessoas. Então
acham que estamos no controle. Mas não é verdade. O governo do Haiti tem a palavra final
sobre o que fazemos", afirma.
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