São Paulo, quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

EUA controlam maior porto haitiano

Operação não faz parte de pacto entre americanos e ONU para gestão de pontos estratégicos da capital

Da orla, é possível visualizar cinco navios americanos, entre eles o porta-aviões USS Carl Vinson; França tem duas fragatas pequenas


FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Mesmo fora do acordo assinado entre os EUA e a ONU para administração dos pontos estratégicos de Porto Príncipe, o porto da capital haitiana também está sendo controlado por tropas americanas.
Centenas de militares do Exército, da Marinha e da Guarda Costeira patrulham o local e trabalham no conserto de 1 dos 2 terminais de carga danificados (o outro é considerado um caso perdido).
O porto da capital do Haiti foi bastante atingido pelo terremoto. Onde havia espaço para navios atracarem, há guindastes e contêineres tombados. O chão tem várias rachaduras.
Da orla, é possível visualizar cinco navios americanos, entre eles o porta-aviões USS Carl Vinson. Outros estão mais afastados, dizem militares ouvidos pela Folha. Ao menos 16 mil soldados dos EUA estão sendo enviados ao país caribenho.
A França também marca presença -mais discreta, com duas pequenas fragatas.
Anteontem, a Folha viu pelo menos 300 americanos no principal porto do país. Vários estão acampados num dos extremos de um dos píeres. Um diminuto grupo de 20 franceses observava a movimentação num canto do porto.
Na semana passada, com a súbita chegada de milhares de tropas americanas, um memorando de entendimento foi assinado às pressas com a Minustah, a força de paz das Nações Unidas, liderada pelo Brasil.
O acordo deu aos americanos controle interno do aeroporto, e um papel na segurança dos comboios de ajuda humanitária. No papel, nada além disso.
Na prática, a presença dos EUA é cada vez mais visível em patrulhas pela cidade, a pé ou em jipes militares Hummer. É da esfera americana, por exemplo, o entorno do antigo palácio presidencial, hoje em ruínas.
Em entrevista à Folha, o almirante Samuel Perez Jr., comandante da operação militar americana no porto, disse que não sabia quantos homens tinha sob seu comando naquele momento. "Sei que parece estranho, mas eu não sei. Eles chegam tão rápido! Os números só mudam. E mais virão para a reconstrução", declarou ao ser indagado sobre o tamanho do contingente que chefiava.
Desde a semana passada, militares americanos estão trabalhando na recuperação do local. Mergulhadores estão verificando o estado das fundações do terminal que foi menos avariado, para determinar quanto peso pode suportar.
"Nossa função é reabrir o porto, de forma a priorizar o recebimento de suprimentos para mitigar o sofrimento no Haiti. Temos danos extensivos aqui", afirmou Perez.
No início da semana, um outro terminal, a cerca de 2 km de distância, voltou a receber gasolina, também após ter sido reparado pelas tropas dos EUA.
A capacidade é de 9.000 galões (34 mil litros) de combustível, o que deve ajudar a baixar um pouco seu preço nos poucos postos que restaram de pé.
Nos dias seguintes ao sismo, a escassez de gasolina -que já faltava antes da tragédia- fez o combustível triplicar de valor e causou longas filas nos postos.
Perez afirma que já conseguiu elevar a capacidade de descarregamento para 122 contêineres por dia. Em até 12 semanas, a ideia é que a capacidade seja elevada para 450 contêineres por dia.
Num primeiro momento, apenas ajuda humanitária está sendo descarregada, mas em seguida o movimento de exportação e importação seria retomado, conforme seus planos.
"Temos de pensar em como manter a economia funcionando e também em como colocar haitianos de volta no trabalho", afirma Perez.
Ele nega que os EUA estejam controlando o local. "Nós só temos mais pessoas. Então acham que estamos no controle. Mas não é verdade. O governo do Haiti tem a palavra final sobre o que fazemos", afirma.


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