São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

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Ditador egípcio endurece e prende 700

Mubarak promete não tolerar mais as manifestações antirregime; desde terça, já são 6 os mortos em confrontos

Alvo é o regime do país, que dura três décadas; onda de manifestações é inspirada em episódio que derrubou tunisiano

Mohammed Abed/France Presse
Manifestantes protestam contra o ditador Hosni Mubarak, há três décadas no cargo, nas ruas do Cairo; desde terça-feira, são seis mortes registradas

REBECA ROCHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO CAIRO (EGITO)

"Protestos não serão mais tolerados", afirmou ontem o Ministério do Interior do Egito. Demonstrações públicas, consideradas ilegais no país -porém normalmente toleradas pelo governo-, foram declaradamente banidas.
Segundo as autoridades, a partir de agora os participantes poderão ser presos e processados. Ontem, mais de 700 pessoas foram detidas.
Os protestos, iniciados anteontem, durante o feriado nacional em homenagem à polícia, duraram até as primeiras horas de ontem.
Inspirados pelas manifestações que derrubaram o ditador da Tunísia Zine el Abidine Ben Ali há cerca de duas semanas, os egípcios começaram onda de protestos.
Os manifestantes protestavam contra a pobreza, o aumento dos preços e os altos índices de desemprego. O alvo é o ditador Hosni Mubarak, há 30 anos no poder e que se reelege sucessivamente de forma fraudulenta.
O ponto alto foi o protesto de anteontem, considerado um dos maiores que o país já teve em três décadas. Cerca de 10 mil, segundo o governo, e 30 mil, segundo os organizadores, tomaram o centro do Cairo e de outras cidades, como Suez e Alexandria.
Um policial e dois manifestantes morreram. Ontem, mais três mortes foram registradas -uma delas, de um policial. Cerca de 200 participantes ficaram feridos.
Depois do primeiro dia de manifestações, o dia ontem parecia mais calmo, porém ainda podia se perceber uma tensão na rotina.
"As pessoas estão se reunindo novamente para protestar de norte a sul do Cairo. Preferi ficar em casa hoje, pois estou assustada e não sei que proporção isso vai tomar", afirmou a estudante egípcia Amina F, que não quis fornecer o sobrenome.
Algumas pessoas evitavam sair nas ruas, principalmente durante o final do dia, e muitas empresas finalizaram o expediente duas ou três horas antes, para não causar riscos a funcionários.
Segundo o engenheiro Ahmed El D., que participou das manifestações, podia-se perceber ontem uma maior agressividade dos policiais.
"A polícia aborda qualquer um digitando no celular ou fazendo ligações. Mesmo assim, pela indignação nas pessoas contra o governo, sei que os protestos seguirão."

EUA E UE
Os EUA, que têm no Egito um dos seus principais aliados na região, hesitaram em manifestar claro apoio a Mubarak. E a secretária americana de Estado, Hillary Clinton, afirmou que o regime egípcio deveria permitir os protestos pacíficos, e não reprimi-los.
A União Europeia foi mais dura e disse que as manifestações demonstram a necessidade de democratização e maior respeito aos direitos humanos e civis no Egito.


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