São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

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Famílias se preparam para receber reféns

Parentes de seqüestrados em poder das Farc estão em Caracas; Uribe promete colaborar para libertação hoje

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

A um dia do fim de mais de seis anos de separação, familiares dos quatro reféns que devem ser soltos hoje pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) saíram ontem às compras em Caracas para preparar a chegada dos ex-parlamentares. Em Bogotá, o presidente Álvaro Uribe se comprometeu a colaborar com a Venezuela e facilitar a missão, da qual participará também o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
A maioria dos familiares chegou à capital venezuelana há três semanas, logo após as Farc anunciarem que entregariam ao governo venezuelano Gloria Polanco, Luis Eladio Pérez e Orlando Beltrán -o nome do quarto refém, Jorge Eduardo Gechem, só foi informado na semana passada.
O único que falou às dezenas de jornalistas de plantão no luxuoso hotel Meliá foi Jaime Felipe Lozada, 23, filho de Polanco. "Depois de seis anos e meio, será um encontro muito emotivo, muito difícil. Mas feliz, porque vivemos muitas adversidades, e graças a Deus poderemos vê-la amanhã. Isso nos faz muitíssimo felizes mas também ansiosos", afirmou, antes de saírem de carro para um centro comercial da cidade, escoltados pela Guarda Presidencial de Hugo Chávez.

História trágica
A história da família Polanco Lozada é um dos maiores símbolos do drama dos seqüestrados. Jaime, seu irmão Juan Sebástian e Gloria foram levados de sua própria casa pelas Farc, em 2001. O alvo inicial era o pai, o ex-governador do departamento de Huila Jaime Lozada, que estava viajando. Os dois rapazes foram soltos três anos mais tarde, após o pagamento de resgate. Pouco depois, porém, o pai foi morto pela guerrilha numa emboscada.
"Sempre pensávamos que voltaríamos a ser a família de antes do seqüestro, sempre pensávamos que os cinco nos reuniríamos. Infelizmente, meu pai não está entre nós. Mas isso nunca foi motivo para esmorecer, ao contrário, deu mais força para conseguir a libertação da minha mãe e dos demais. E estamos os três aqui para suprir o espaço do meu pai", disse ontem Jaime Felipe.
A operação de hoje deve ser semelhante à de 10 de janeiro, quando foram liberadas a ex-candidata a vice-presidente Clara Rojas e a ex-deputada Consuelo González. Um helicóptero venezuelano com a cruz vermelha do CICV vai buscar os reféns em área indicada pelas Farc na selva colombiana e levá-los para território venezuelano. O reencontro deve ocorrer em Caracas.
Ontem, o chanceler colombiano, Fernando Araújo, enviou uma nota a Caracas autorizando a operação para recuperar os reféns. Bogotá voltou a negar que existam operações militares perto do provável local da missão, como tem dito o governo venezuelano.
Segundo explicou anteontem o ministro do Interior venezuelano, Ramón Rodríguez Chacín, as coordenadas dadas pelas Farc ao governo venezuelano só serão reveladas ao piloto do helicóptero durante o vôo.
A guerrilha disse que liberará o grupo sob a condição de serem entregues ao governo Chávez e à senadora colombiana oposicionista Piedad Córdoba, cujas mediações para um acordo entre o governo colombiano e o grupo foram interrompidas em novembro por Uribe.
Na semana passada, Uribe rejeitou uma proposta franco-brasileira para um grupo de países mediar um acordo entre a Colômbia e as Farc a fim de libertar mais 40 reféns do grupo esquerdista em troca de 500 guerrilheiros presos.


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