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Moscou tolhe imprensa, diz Anistia
Relatório enumera casos de intimidação e expõe piora de cenário desde dezembro
Para analista próximo ao Kremlin, intuito da ONG é deslegitimar o processo político russo; observadores vêem complacência popular
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU
A Anistia Internacional divulgou ontem relatório em que
acusa Moscou de ter aumentado as restrições a liberdades individuais desde as eleições parlamentares, em dezembro passado. E prevê que críticos do
Kremlin terão problemas se
protestarem contra o pleito
presidencial deste domingo.
"As autoridades dispersaram
de forma violenta alguns atos
da oposição, enquanto eventos
pró-governo ocorreram sem
problemas", diz a Anistia no relatório "Liberdade limitada".
Não houve resposta imediata
do governo. Segundo disse à
Folha Sergei Markov, consultor político próximo ao presidente Vladimir Putin, a divulgação era "esperada". "Teremos muito mais desses supostos relatórios. A idéia é tirar a
legitimidade do processo eleitoral russo, enfraquecer nosso
sistema de poder, que incomoda muito o Ocidente. Ou você
acha que é casual isso agora?"
A Anistia se antecipou à crítica. "Os direitos à liberdade de
expressão, assembléia e associação são uma pedra angular
em uma sociedade civil funcional. As autoridades russas os
coibem como parte da estratégia para conter a chamada influência ocidental", diz nota de
seu diretor Nicola Duckworth.
O relatório, sem novidades,
compila casos, começando pela
repressão policial a militantes
do grupo Outra Rússia, com a
prisão de ativistas como o enxadrista Garry Kasparov, antes
das eleições de 2 de dezembro.
"É notório que não há democracia plena na Rússia, que nosso trabalho acaba se resumindo
à divulgação na internet", disse
a assessoria do Outra Rússia,
que marcou para a segunda
após a eleição marchas de protesto em Moscou, São Petersburgo e outras cidades grandes.
A lista da Anistia segue com
assassinatos de jornalistas e o
fato de o Estado controlar as
principais redes de TV e ter forte influência na mídia impressa. Cita intimidação legal e, por
fim, a lei de 2006 que coibiu a
instalação de ONGs que recebem fundos do exterior, por
"trabalharem contra o Estado".
Observadores mais neutros
vêem limitações nos anos Putin, mas crêem que, de forma
geral, o panorama econômico
favorável sob os altos preços de
petróleo e gás abundantes no
país e o passado bem mais duro
de opressão induzam a uma
complacência generalizada.
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