São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

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Moscou tolhe imprensa, diz Anistia

Relatório enumera casos de intimidação e expõe piora de cenário desde dezembro

Para analista próximo ao Kremlin, intuito da ONG é deslegitimar o processo político russo; observadores vêem complacência popular

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

A Anistia Internacional divulgou ontem relatório em que acusa Moscou de ter aumentado as restrições a liberdades individuais desde as eleições parlamentares, em dezembro passado. E prevê que críticos do Kremlin terão problemas se protestarem contra o pleito presidencial deste domingo.
"As autoridades dispersaram de forma violenta alguns atos da oposição, enquanto eventos pró-governo ocorreram sem problemas", diz a Anistia no relatório "Liberdade limitada".
Não houve resposta imediata do governo. Segundo disse à Folha Sergei Markov, consultor político próximo ao presidente Vladimir Putin, a divulgação era "esperada". "Teremos muito mais desses supostos relatórios. A idéia é tirar a legitimidade do processo eleitoral russo, enfraquecer nosso sistema de poder, que incomoda muito o Ocidente. Ou você acha que é casual isso agora?"
A Anistia se antecipou à crítica. "Os direitos à liberdade de expressão, assembléia e associação são uma pedra angular em uma sociedade civil funcional. As autoridades russas os coibem como parte da estratégia para conter a chamada influência ocidental", diz nota de seu diretor Nicola Duckworth.
O relatório, sem novidades, compila casos, começando pela repressão policial a militantes do grupo Outra Rússia, com a prisão de ativistas como o enxadrista Garry Kasparov, antes das eleições de 2 de dezembro.
"É notório que não há democracia plena na Rússia, que nosso trabalho acaba se resumindo à divulgação na internet", disse a assessoria do Outra Rússia, que marcou para a segunda após a eleição marchas de protesto em Moscou, São Petersburgo e outras cidades grandes.
A lista da Anistia segue com assassinatos de jornalistas e o fato de o Estado controlar as principais redes de TV e ter forte influência na mídia impressa. Cita intimidação legal e, por fim, a lei de 2006 que coibiu a instalação de ONGs que recebem fundos do exterior, por "trabalharem contra o Estado".
Observadores mais neutros vêem limitações nos anos Putin, mas crêem que, de forma geral, o panorama econômico favorável sob os altos preços de petróleo e gás abundantes no país e o passado bem mais duro de opressão induzam a uma complacência generalizada.


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