São Paulo, sábado, 27 de fevereiro de 2010

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Justiça veta terceiro mandato de Uribe

Por 7 votos a 2, Corte Constitucional da Colômbia diz que projeto de referendo sobre o tema viola "princípios democráticos"

Fim de suspense sobre a rerreeleição abre corrida na base governista por apoio de presidente no pleito de maio; independente empata


Luis Robayo/France Presse
Álvaro Uribe, em fórum em Cali, no centro-oeste da Colômbia

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Corte Constitucional da Colômbia rejeitou ontem, por 7 votos a 2, a proposta de realizar um referendo para permitir a Álvaro Uribe disputar seu terceiro mandato na Presidência da Colômbia, em maio.
Após um dia inteiro de suspense, o tribunal anunciou que a proposta contém não apenas "irregularidades formais, mas também violações substanciais ao princípio democrático".
"Aceito e respeito a decisão da Corte Constitucional", disse Uribe, que nesta semana defendeu que a decisão final sobre sua rerreleição deveria ser tomada pelos "colombianos", não pela Justiça.
O revés para o presidente abre de vez a corrida entre os candidatos da base governista para se estabelecer como herdeiros do popular presidente na eleições de 30 de maio -no momento, o prognóstico é que haverá segundo turno.
O presidente conservador terá de deixar o palácio presidencial em agosto, sem perspectiva de voltar a ser candidato -a não ser que seus partidários tentem aprovar novo referendo autorizando que ele, no poder desde 2002, concorra em 2014.
Confirmando os rumores e reportagens dos últimos dias, a corte seguiu o parecer do relator do caso, Humberto Sierra, apresentado neste mês. Segundo Sierra, ao menos cinco erros insanáveis contaminaram a proposta, entre eles irregularidades no financiamento da campanha para recolher assinaturas para o referendo e atropelos em seu trâmite no Congresso.

Herdeiros do uribismo
Como se acumulavam obstáculos no caminho do referendo -inclusive o tempo hábil para fazê-lo-, o mundo político especula há semanas se, com a derrota, o presidente apostará suas fichas em um candidato da base para o qual tentará transferir sua popularidade, em torno de 80%.
O presidente conservador vinha dando sinais ambíguos, uma vez que ele próprio era um pré-candidato. Uribe repete que os colombianos devem reeleger "a segurança democrática" -simbolizada na ofensiva militar contra a guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) que marcou seus oito anos no poder- e a "atração de investimento" -política macroecômica estrita e incentivos fiscais para instalação de empresas.
O analista político Alfredo Rangel, próximo do uribismo, disse ontem à Folha não acreditar que Uribe aponte um herdeiro: "É uma questão aberta. Não vejo que Uribe se sinta completamente identificado com uma única liderança".
Estudo do instituto Datexco, publicado pelo jornal "El Tiempo", aponta que, em cenários sem Uribe, os mais bem posicionados na disputa estão empatados com só 12%: o ex-ministro da Defesa Juan Manuel Santos, do Partido Social da Unidade Nacional (Partido de la U), e o ex-prefeito de Medellín Sergio Fajardo, independente que se diz "nem uribista nem não uribista".
No entanto, Santos disputa a preferência de Uribe com o ex-ministro da Agricultura Andrés Felipe Arias, que, pela semelhança com o presidente foi batizado de "Uribito".
Arias é do governista Partido Conservador, mas, para ser candidato, terá de vencer as primárias de sua legenda. Uribe disse que seu ex-auxiliar é "sua versão melhorada". E sem disfarçar o jogo de suspense com sua base, disse: "Deixo aí a inquietação..."


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