São Paulo, sábado, 27 de fevereiro de 2010

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Dissidentes cubanos iniciam greve de fome

Opositores dizem prestar homenagem a Zapata, morto na terça, e exigem libertação de estimados 200 detidos políticos

Quatro dos novos grevistas cumprem penas de prisão por supostamente servir ao governo dos EUA; ex-preso político também adere


DA REDAÇÃO

Desde a morte, na terça-feira, do prisioneiro político cubano Orlando Zapata Tamayo, após 85 dias em greve de fome, quatro outros presos políticos e um dissidente do regime recorreram ao mesmo meio de protesto contra o regime comunista, informou ontem a Comissão Cubana de Direitos Humanos.
Segundo o órgão -ilegal, mas tolerado por Havana-, os quatro grevistas hoje detidos o foram durante a onda de repressão promovida pelo ex-ditador cubano Fidel Castro em 2003 e que resultou na prisão de 75 dissidentes, no episódio conhecido como a "primavera negra".
Diosdado González, 47, Eduardo Díaz, 58, Fidel Suárez, 49, e Nelson Molinet, 45, cumprem penas de mais de 20 anos de reclusão por supostamente servir ao governo dos EUA em prisões em Pinar del Río (150 km a oeste da capital) e foram transferidos para celas "de alto castigo e solitárias", segundo a comissão.
O quinto dissidente agora em greve de fome é o ex-preso político Guillermo Fariñas, 48, que se encontra em sua residência na cidade de Placetas (região central) e afirma se negar "inclusive a beber água". Fariñas possui histórico de prisões e de adesão à medida de protesto.
Ao anunciar as novas greves de fome, a comissão de direitos humanos disse se opor às medidas, uma vez que "o governo não responde humanamente a esse tipo de protesto pacífico".
À agência de notícias Efe Fariñas afirmou ter iniciado a greve de fome em homenagem à "imolação" de Zapata e para que Raúl Castro, "não incorra em outros assassinatos de presos políticos cubanos".
Fariñas disse ainda ter escrito uma carta dirigida a Raúl na qual pede ao dirigente máximo cubano, que na quarta completou dois anos no cargo, que demonstre aos cubanos e aos observadores estrangeiros que não é "cruel nem desumano".
"Se a morte de Zapata não foi uma vingança política planejada, ordene a libertação imediata dos réus", cobrou.
Fariñas afirmou ter tomado a decisão anteontem, depois de ser detido e ter sofrido maltratos pelos agentes de segurança ao tentar comparecer -sem sucesso, assim como outros opositores- ao enterro de Zapata.
Os grevistas cobram ainda a libertação dos estimados 200 presos políticos mantidos pelo regime comunista, segundo a comissão de direitos humanos.
A morte de Zapata provocou fortes protestos internacionais e criou uma saia-justa para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que fazia sua viagem de despedida ao país como mandatário brasileiro.
Ao lado do brasileiro, Raúl atribuiu as mortes à "confrontação" com os EUA, que mantêm um embargo econômico à ilha desde 1962. Segundo o dirigente, o dissidente, detido também em 2003, era outro que servia ao governo americano.
Os EUA retorquiram, afirmando que o dissidente se encontrava sob custódia cubana e que, portanto, sua morte era de responsabilidade de Havana.

"Granma"
Ontem, sem até o momento ter noticiado a morte de Zapata, por meio do "Granma", jornal oficial do Partido Comunista, o regime dos irmãos Castro voltou a atacar os EUA, qualificando de "vergonhosas" as prisões americanas, "em que morrem 7.000 pessoas" todo ano.
Recorrendo a fontes da imprensa americana em alguns casos e a nenhuma fonte em outros, o jornal listou problemas do sistema carcerário do país, "profundamente racista" contra negros e hispânicos.
A morte de Zapata só foi noticiada indiretamente, por meio das declarações de Raúl negando responsabilidade pelo caso na quarta-feira, no site Cubadebate. A notícia, no entanto, foi logo depois retirada do ar.

Com agências internacionais



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