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São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2003

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AÇÃO MILITAR

Coalizão tenta nova alternativa de cerco a Bagdá, enquanto sofre contra-ataque

Revide faz EUA buscarem opções

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A tempestade de areia não causou apenas uma pausa no avanço americano. Pode ter sido o principal motivo de os iraquianos terem contra-atacado com forças mecanizadas -cerca de mil veículos de tipos variados em torno de Bagdá-, segundo relatos divulgados ontem pelos correspondentes junto da 3ª Divisão de Infantaria dos EUA.
Se de fato se confirmar que os iraquianos têm procurado atacar em massa com veículos de combate, isso significa uma boa notícia para os americanos. Em movimento, eles passam a ser alvos identificáveis pela aviação dos EUA, e podem ser atacados longe de áreas civis.
Mas justamente por isso o contra-ataque estaria acontecendo agora. A areia impediu os helicópteros Apache de voarem. Também dificultou a localização de alvos pelos caça-bombardeiros. Mesmo os modernos sistemas de visão noturna e infravermelho (detecção de calor) dos veículos blindados ficam inúteis em meio da tempestade de areia.
O poder de fogo dos EUA na ofensiva até Bagdá é altamente dependente da aviação, que age como se fosse uma "artilharia voadora". Em 1991 os EUA só atacaram depois que a aviação destruiu o que imaginavam ser 50% da capacidade de combate iraquiana (no pós-guerra se descobriu que muito do que fora destruído eram alvos falsos).
É uma tática que pode ser batizada de "abraço de tamanduá". Em campo aberto, o tamanduá não tem como vencer uma onça. Sua única chance seria fincar suas garras no dorso da onça em um abraço mortal.
Procurando se aproximar dos americanos, os iraquianos conseguiriam impedir os EUA de bombardeá-los, dado o risco de atingir suas próprias tropas (o curiosamente chamado "fogo amigo", também conhecido como "azul contra azul", a cor usada nos mapas para representar as forças próprias -o inimigo fica em vermelho).
A resistência iraquiana não era de todo imprevista. Praticamente todos analistas especularam que na defesa do regime os iraquianos mais fiéis a Saddam Hussein lutariam.
"Nunca acue um tigre, senão ele salta sobre você"; "o inimigo tem sempre três opções, e ele geralmente escolhe a quarta", costumavam dizer os antigos filósofos chineses da guerra, dos quais Sun Tzu é o mais famoso -e particularmente bem citado no livrinho de dois estrategistas americanos chamado "Choque e Pavor".
Uma correspondente do "The Washington Post" entrevistou um piloto de helicóptero Apache, Lance McElhiney, veterano tanto da Guerra do Vietnã como da Guerra do Golfo de 1991. McElhiney foi alvo de tiros de fuzis em 91 e agora de novo no fracassado ataque em que pelo menos um helicóptero foi forçado a pousar.
"Você não deve subestimar o inimigo", disse ele à repórter Mary Beth Sheridan; "no Vietnã, nós subestimamos o cara nos arrozais".
O grande problema da estratégia americana foi não ter obtido bases na Turquia. O plano inicial previa um avanço em duas frentes: na direção sul a partir da Turquia, na direção norte a partir do Kuait.
Esse avanço simultâneo diminuiria muito as opções de resistência dos iraquianos, tornando o cerco de Bagdá bem mais fácil. Um "cerco" só merece esse nome se não deixa nenhuma saída para o adversário.
Na falta de uma força terrestre grande saída da Turquia, os EUA começaram agora a procurar opções. Ontem se revelou que cerca de mil pára-quedistas da 173ª Brigada Aerotransportada foram lançados sobre uma pista de pouso em território controlado pelos curdos ao norte do Iraque. De posse da pista, podem chegar reforços por aviões de transporte. Mas mesmo o maior deles só pode levar um tanque Abrams por vez.


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