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Annan reconhece danos à imagem da ONU
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
O secretário-geral da ONU, Kofi
Annan, reconheceu ontem que a
credibilidade do organismo internacional foi prejudicada com a
guerra no Iraque e só será restabelecida se o Conselho de Segurança
implementar um amplo programa humanitário no país.
"Passamos por um momento
de profundas cisões que, se não
forem sanadas, deixarão consequências nos sistemas internacionais e nas relações entre os Estados", disse Annan ao Conselho,
ontem em Nova York, no primeiro debate aberto sobre o Iraque
desde o início da guerra, dia 20.
Segundo avaliação feita ontem
por órgãos e diplomatas da ONU,
o Iraque deverá precisar do maior
programa de ajuda humanitária
da história. Mas colocá-lo em andamento não será simples.
Primeiro, porque o próprio Iraque ataca a discussão. Seu embaixador na ONU, Mohammed al
Douri, criticou duramente os demais membros do Conselho por
estarem discutindo a ajuda humanitária a seu país em vez de
buscarem um meio de parar o
ataque da coalizão anglo-americana -hipótese quase impossível, já que o CS não conseguiu
nem evitar o início do ataque.
Além disso, há dúvidas sobre o
aval de EUA e Reino Unido,
membros permanentes do Conselho, a uma ação humanitária via
ONU. Enquanto ontem chegou
ao porto iraquiano de Umm Qasar a primeira ajuda do governo
britânico, o primeiro-ministro
Tony Blair, que está nos EUA, diz
que ainda tenta convencer seu colega George W. Bush a facilitar a
ação da entidade no Iraque.
Não se sabe também como retomar o programa de troca "Petróleo por Comida", interrompido às
vésperas dos ataques.
Annan propôs ao Conselho que
a entidade assuma os contratos de
petróleo do Iraque para continuar
o programa. Mas essa idéia encontra oposição da Rússia, cujas
empresas têm o maior filão dos
atuais contratos para exploração
do petróleo iraquiano.
Hoje há US$ 8,9 bilhões em
compras de alimentos e medicamentos já aprovados para o Iraque sob o programa, mas a entrega só será feita após implantação
do novo modelo de assistência ao
país. A ONU estima que 60% da
população iraquiana dependa do
plano para se alimentar.
Há também um outro complicador. Países que se opuseram ao
início da guerra, como França,
Rússia e China, dizem que a ação
da ONU deve ser feita de maneira
-e sob uma linguagem- a não
dar impressão de aval ao conflito
ou diminuir as responsabilidades
de EUA e Reino Unido com a população iraquiana.
Enquanto os diplomatas tentam
se entender, o braço da própria
ONU para programas de alimentação diz que a situação é grave.
Em Roma, a WFP (World Food
Program) calculou que um plano
emergencial para o Iraque custaria mais que US$ 1 bilhão. "Prevemos que será um programa enorme, provavelmente a maior operação humanitária da história. Teremos que alimentar 27 milhões
de pessoas, toda a população do
país", disse à agência Reuters Trevor Rowe, porta-voz da entidade.
A agência tem 30 mil toneladas
de alimentos estocados em países
vizinhos ao Iraque, mas precisa
do aval da ONU para mandar seu
pessoal de volta ao país.
A WFP teria a maior fatia do pacote humanitário, estimado em
US$ 2 bilhões, caso o Conselho
atinja o consenso em Nova York.
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