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São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2003

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Annan reconhece danos à imagem da ONU

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, reconheceu ontem que a credibilidade do organismo internacional foi prejudicada com a guerra no Iraque e só será restabelecida se o Conselho de Segurança implementar um amplo programa humanitário no país.
"Passamos por um momento de profundas cisões que, se não forem sanadas, deixarão consequências nos sistemas internacionais e nas relações entre os Estados", disse Annan ao Conselho, ontem em Nova York, no primeiro debate aberto sobre o Iraque desde o início da guerra, dia 20.
Segundo avaliação feita ontem por órgãos e diplomatas da ONU, o Iraque deverá precisar do maior programa de ajuda humanitária da história. Mas colocá-lo em andamento não será simples.
Primeiro, porque o próprio Iraque ataca a discussão. Seu embaixador na ONU, Mohammed al Douri, criticou duramente os demais membros do Conselho por estarem discutindo a ajuda humanitária a seu país em vez de buscarem um meio de parar o ataque da coalizão anglo-americana -hipótese quase impossível, já que o CS não conseguiu nem evitar o início do ataque.
Além disso, há dúvidas sobre o aval de EUA e Reino Unido, membros permanentes do Conselho, a uma ação humanitária via ONU. Enquanto ontem chegou ao porto iraquiano de Umm Qasar a primeira ajuda do governo britânico, o primeiro-ministro Tony Blair, que está nos EUA, diz que ainda tenta convencer seu colega George W. Bush a facilitar a ação da entidade no Iraque.
Não se sabe também como retomar o programa de troca "Petróleo por Comida", interrompido às vésperas dos ataques.
Annan propôs ao Conselho que a entidade assuma os contratos de petróleo do Iraque para continuar o programa. Mas essa idéia encontra oposição da Rússia, cujas empresas têm o maior filão dos atuais contratos para exploração do petróleo iraquiano.
Hoje há US$ 8,9 bilhões em compras de alimentos e medicamentos já aprovados para o Iraque sob o programa, mas a entrega só será feita após implantação do novo modelo de assistência ao país. A ONU estima que 60% da população iraquiana dependa do plano para se alimentar.
Há também um outro complicador. Países que se opuseram ao início da guerra, como França, Rússia e China, dizem que a ação da ONU deve ser feita de maneira -e sob uma linguagem- a não dar impressão de aval ao conflito ou diminuir as responsabilidades de EUA e Reino Unido com a população iraquiana.
Enquanto os diplomatas tentam se entender, o braço da própria ONU para programas de alimentação diz que a situação é grave.
Em Roma, a WFP (World Food Program) calculou que um plano emergencial para o Iraque custaria mais que US$ 1 bilhão. "Prevemos que será um programa enorme, provavelmente a maior operação humanitária da história. Teremos que alimentar 27 milhões de pessoas, toda a população do país", disse à agência Reuters Trevor Rowe, porta-voz da entidade.
A agência tem 30 mil toneladas de alimentos estocados em países vizinhos ao Iraque, mas precisa do aval da ONU para mandar seu pessoal de volta ao país.
A WFP teria a maior fatia do pacote humanitário, estimado em US$ 2 bilhões, caso o Conselho atinja o consenso em Nova York.


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