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Rivais governarão Irlanda do Norte
Inimigos históricos na região, católicos e protestantes formarão gabinete conjunto a partir de maio
Protestante Ian Paisley deve ser o premiê; governo britânico pressionou por acordo e prometeu ajuda extra de R$ 4 bilhões
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES
Inimigos históricos por décadas, os líderes dos principais
partidos protestante e católico
da Irlanda do Norte reuniram-se ontem pela primeira vez e
chegaram a um acordo sobre
um governo conjunto a partir
de 8 de maio.
O reverendo Ian Paisley, 80,
do protestante Partido Democrático Unionista (DUP), quebrou seu juramento de nunca
negociar com o Sinn Fein ao
sentar-se ao lado do líder católico Gerry Adams, 58, para
anunciar que os dois partidos,
os mais votados nas eleições do
último dia 7, dividirão o Poder
Executivo na Irlanda do Norte.
"Não devemos permitir que
nossa abominação às tragédias
do passado se torne uma barreira à criação de um futuro
melhor e mais estável", disse
Paisley na Assembléia.
"Acredito que o acordo feito
entre o Sinn Fein e o DUP marca o início de uma nova era política", disse Adams.
A decisão saiu no último dia
do prazo imposto pelos premiês Tony Blair (Reino Unido)
e Bertie Ahern (República da
Irlanda) para que os partidos
chegassem a um acordo que
permitisse a devolução da autonomia política ao país, hoje sob
controle do governo britânico.
"A população da Irlanda do
Norte demonstrou que queria
paz, divisão de poderes e trabalho conjunto; e os políticos agiram para realizar esse desejo",
afirmou Blair. "Tudo que fizemos nos últimos dez anos foi
em preparação para este momento", completou.
Gabinete
Uma legislação emergencial
será levada ao Parlamento hoje
para validar o acordo que marca o início do governo de coalizão em 8 de maio.
Paisley, como líder do partido mais votado, deve ser indicado primeiro-ministro, e Martin McGuinness, negociador-chefe do Sinn Fein, será o indicado dos católicos para o cargo
de vice-premiê.
O novo governo da Irlanda do
Norte terá quatro ministros do
DUP, três do Sinn Fein, dois do
UUP (Partido Unionista da Irlanda do Norte) e um do SDLP
(Partido Trabalhista e Social-Democrata). Os ministérios serão decididos em um esquema
de escolhas alternadas entre os
partidos.
Com a formalização do acordo, o governo norte-irlandês
ganhará uma verba extra de 1
bilhão de libras (R$ 4 bilhões),
prometida pelo ministro das
Finanças britânico, Gordon
Brown, além dos 35 bilhões (R$
142 bilhões) já reservados para
os próximos quatro anos.
Paz negociada
Os conflitos que mataram
milhares de pessoas na Irlanda
do Norte têm raízes políticas e
religiosas que remontam a divisões seculares e foram particularmente acirrados nas três últimas décadas do século 20.
A comunidade protestante,
maioria no país, favorece a permanência da região como parte
do Reino Unido, enquanto a
minoria católica é a favor de um
retorno à união com a Irlanda.
As negociações de paz no país
ganharam impulso com o Acordo da Sexta-Feira Santa, em
1998, mas a última tentativa de
formar um governo de coalizão
foi encerrada em 2002, após
alegações de espionagem por
parte do IRA (Exército Republicano Irlandês).
Desde então, os católicos seguiram as exigências estabelecidas pelos governos britânico
e irlandês, como o desarmamento do IRA -confirmado
em 2005 por uma comissão independente- e o reconhecimento, pelo Sinn Fein, da validade do sistema judiciário e policial da Irlanda do Norte.
Apesar da devolução da autonomia política sacramentada
ontem, o país continuará a ter a
Justiça e a polícia sob a guarda
do Reino Unido, que manterá
um ministro para a região.
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