São Paulo, terça-feira, 27 de março de 2007

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Rivais governarão Irlanda do Norte

Inimigos históricos na região, católicos e protestantes formarão gabinete conjunto a partir de maio

Protestante Ian Paisley deve ser o premiê; governo britânico pressionou por acordo e prometeu ajuda extra de R$ 4 bilhões

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES

Inimigos históricos por décadas, os líderes dos principais partidos protestante e católico da Irlanda do Norte reuniram-se ontem pela primeira vez e chegaram a um acordo sobre um governo conjunto a partir de 8 de maio.
O reverendo Ian Paisley, 80, do protestante Partido Democrático Unionista (DUP), quebrou seu juramento de nunca negociar com o Sinn Fein ao sentar-se ao lado do líder católico Gerry Adams, 58, para anunciar que os dois partidos, os mais votados nas eleições do último dia 7, dividirão o Poder Executivo na Irlanda do Norte.
"Não devemos permitir que nossa abominação às tragédias do passado se torne uma barreira à criação de um futuro melhor e mais estável", disse Paisley na Assembléia.
"Acredito que o acordo feito entre o Sinn Fein e o DUP marca o início de uma nova era política", disse Adams.
A decisão saiu no último dia do prazo imposto pelos premiês Tony Blair (Reino Unido) e Bertie Ahern (República da Irlanda) para que os partidos chegassem a um acordo que permitisse a devolução da autonomia política ao país, hoje sob controle do governo britânico.
"A população da Irlanda do Norte demonstrou que queria paz, divisão de poderes e trabalho conjunto; e os políticos agiram para realizar esse desejo", afirmou Blair. "Tudo que fizemos nos últimos dez anos foi em preparação para este momento", completou.

Gabinete
Uma legislação emergencial será levada ao Parlamento hoje para validar o acordo que marca o início do governo de coalizão em 8 de maio.
Paisley, como líder do partido mais votado, deve ser indicado primeiro-ministro, e Martin McGuinness, negociador-chefe do Sinn Fein, será o indicado dos católicos para o cargo de vice-premiê.
O novo governo da Irlanda do Norte terá quatro ministros do DUP, três do Sinn Fein, dois do UUP (Partido Unionista da Irlanda do Norte) e um do SDLP (Partido Trabalhista e Social-Democrata). Os ministérios serão decididos em um esquema de escolhas alternadas entre os partidos.
Com a formalização do acordo, o governo norte-irlandês ganhará uma verba extra de 1 bilhão de libras (R$ 4 bilhões), prometida pelo ministro das Finanças britânico, Gordon Brown, além dos 35 bilhões (R$ 142 bilhões) já reservados para os próximos quatro anos.

Paz negociada
Os conflitos que mataram milhares de pessoas na Irlanda do Norte têm raízes políticas e religiosas que remontam a divisões seculares e foram particularmente acirrados nas três últimas décadas do século 20.
A comunidade protestante, maioria no país, favorece a permanência da região como parte do Reino Unido, enquanto a minoria católica é a favor de um retorno à união com a Irlanda.
As negociações de paz no país ganharam impulso com o Acordo da Sexta-Feira Santa, em 1998, mas a última tentativa de formar um governo de coalizão foi encerrada em 2002, após alegações de espionagem por parte do IRA (Exército Republicano Irlandês).
Desde então, os católicos seguiram as exigências estabelecidas pelos governos britânico e irlandês, como o desarmamento do IRA -confirmado em 2005 por uma comissão independente- e o reconhecimento, pelo Sinn Fein, da validade do sistema judiciário e policial da Irlanda do Norte.
Apesar da devolução da autonomia política sacramentada ontem, o país continuará a ter a Justiça e a polícia sob a guarda do Reino Unido, que manterá um ministro para a região.


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