São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / RINGUE DEMOCRATA

Hillary mina candidatura de Obama

Idéia seria fortalecer candidato republicano para poder concorrer de novo em 2012, dizem assessores

Tática foi batizada com o nome da ex-patinadora Tonya Harding, que em véspera de competição mandou espancar rival

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Hillary Clinton já reconheceu que não tem mais chances de ser a indicada à sucessão presidencial nos EUA pelo Partido Democrata e por isso aumentou nos últimos dias -e aumentará cada vez mais nos próximos- o tom dos ataques ao provável escolhido, Barack Obama. A idéia é enfraquecer o senador ante a opinião pública para que o republicano John McCain vença em novembro.
Segundo o raciocínio, com a derrota de Obama nas urnas e pela idade do candidato da situação, que terá 72 anos e será o político mais velho a assumir a Casa Branca na história dos EUA caso vença, Hillary voltaria à disputa já em 2012, dessa vez como a favorita. Se Obama ganhar, ele seria o candidato natural do partido à reeleição.
Quem diz isso são membros do comando da campanha da ex-primeira-dama, que preferem não ser identificados, em conversas com jornalistas norte-americanos. A estratégia foi batizada de "Tática Tonya Harding", alusão à patinadora norte-americana que em 1994 mandou quebrar os joelhos da concorrente, Nancy Kerrigan, durante as eliminatórias de um campeonato.
O pensamento, segundo esses relatos, é o de que Hillary chegará à convenção nacional democrata, no final de agosto, atrás de Obama em número de delegados (participantes votantes) e votos populares e empatada em número de superdelegados, que são membros do partido que podem votar em qualquer um dos dois candidatos -isso tornaria a escolha do senador inevitável.

Patriotismo
Daí os ataques dos últimos dias. Entre outros, a senadora voltou a tocar na relação do polêmico pastor Jeremiah Wright com Obama, dizendo que "ele não seria meu pastor", o ex-presidente Bill Clinton sugeriu que o senador não era tão patriota quanto sua mulher e McCain e o governador Bill Richardson foi chamado de "Judas" pelo marqueteiro James Carville, ligado aos Clinton, ao anunciar seu apoio ao rival.
Em evento na tarde de ontem, Hillary disse que não era boa em desistir. Em conferência telefônica, seus assessores fizeram o mesmo. Mais recentemente, começaram a bater numa nova tecla, a de que os delegados escolhidos em prévias democratas até agora não devem votar de acordo com o desejo dos eleitores, mas de acordo com sua consciência.
"Como você sabe, Mark, cada delegado, com muito poucas exceções, é livre para decidir em quem ele ou ela vai votar", disse ela a um jornalista da revista "Time", em entrevista que foi colocada no ar na tarde de ontem no site da revista. "Espera-se de cada delegado que exerça livremente sua escolha." Foi a terceira vez em dois dias que ela defendeu a tese.

"Divisão profunda"
A "Tática Tonya Harding" parece encontrar justificativa entre os que preferem a senadora. Segundo pesquisa do Gallup divulgada ontem, 28% dos que se declaram eleitores de Hillary Clinton dizem que votarão no republicano John McCain caso Barack Obama seja o escolhido dos democratas. Já entre os obamistas, esse índice cai para 19%.
"Alguns eleitores de Hillary se opõem tão fortemente a Obama ou são tão leais à senadora que chegariam ao ponto de votar no candidato de outro partido", disse Frank Newport, do Gallup. "Quando quase três em cada dez eleitores de Hillary preferem votar em McCain a votar em Obama, isso sugere que a divisão está ficando mais profunda no partido", segundo o levantamento.
"Se a briga pela candidatura continuar até a convenção de Denver no final de agosto, o partido pode sofrer alguns danos ao tentar se reagrupar para as eleições de novembro."
A pesquisa foi feita entre 7 e 22 de março, ouviu 6.600 eleitores democratas e tem margem de erro de dois pontos percentuais em ambas as direções.


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