São Paulo, sábado, 27 de março de 2010

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EUA e Rússia fecham acordo para reduzir arsenal nuclear

Pelo novo tratado, cada país poderá manter no máximo 1.550 ogivas de longo alcance

Pacto, a ser assinado em abril, substitui Start-1, que expirou em dezembro, e faz parte da recomposição de relações entre as potências


Charles Dharapak/Associated Press
Obama anuncia acordo ao lado de Mike Mullen, chefe do Estado-Maior-Conjunto, e dos secretários Hillary Clinton e Robert Gates

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Os governos de EUA e Rússia anunciaram ontem que foi acertado um novo tratado de redução de armas nucleares para substituir o Start-1 (Tratado de Redução de Armas Estratégicas), que venceu em dezembro. O novo tratado reduz em 74% os limites do anterior, mas ainda permite até 1.550 ogivas estratégicas a cada país -o suficiente para destruir o mundo várias vezes.
Os detalhes do plano foram finalizados em um telefonema entre os governos russo e americano ontem pela manhã, e o acordo deverá ser assinado no próximo dia 8, em Praga. "Desde que assumi, estive empenhado em recomeçar nossa relação com a Rússia. Armas nucleares representam os piores dias da Guerra Fria e as mais inquietantes ameaças da nossa era", afirmou Obama ontem.
"O novo tratado marca um nível mais alto de cooperação entre a Rússia e os EUA no desenvolvimento de uma nova relação estratégica", disse o Kremlin em comunicado.
O prazo do novo tratado é de dez anos, prorrogáveis por mais cinco, e ele depende de ratificação em ambos os Parlamentos. O momento da assinatura foi escolhido para anteceder a cúpula nuclear mundial que Obama, que já declarou a intenção de "livrar o mundo das armas nucleares", fará em Washington em abril e da revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), que ocorrerá em Nova York em maio.
O limite de 1.550 ogivas estratégicas (de longo alcance, decisivas em uma guerra) inclui as destacadas em mísseis balísticos intercontinentais (ICBM) e mísseis balísticos submarinos (SLBM). Cada bombardeiro destacado com capacidade de levar armamento nuclear também conta como uma ogiva. Ainda serão permitidos um total de 800 lançadores de mísseis balísticos intercontinentais, lançadores de mísseis submarinos e bombardeiros equipados para armamento nuclear destacados e não destacados. É menos da metade do previsto no Start-1 para os veículos que carregam as ogivas.
Pelo Start-1, assinado em 1991, os arsenais estratégicos podiam chegar a 1.600 mísseis e 6.000 ogivas nucleares. O novo texto substituirá também o Sort (tratado de redução ofensiva estratégica, na sigla em inglês). Assinado em maio de 2002, o Sort limita cada lado a não mais de 1.700 a 2.200 ogivas nucleares estratégicas até 2012, mas não contém regras para contagem e verificação.
A falta de regras de checagem, fundamentais para a aplicação dos tratados, tornou o Sort obsoleto e manteve o Start-1 como o mais importante tratado de redução de armas nucleares entre EUA e Rússia.
Foram as dificuldades em definir novas regras (a Rússia já considerava o Start-1 muito intrusivo) que levaram, em grande medida, ao atraso na conclusão das negociações atuais. Ao final, os países concordaram em incrementar métodos de verificação mútua, incluindo checagem em campo e troca de dados de medições remotas.

Escudo
Não estão previstas no novo acordo quaisquer restrições relativas a escudos antimísseis ou mísseis convencionais (não nucleares) de longo alcance, que fazem parte dos planos dos EUA. "Essas reduções não vão afetar a força de nosso [arsenal estratégico] nem limitar planos de proteger os EUA e nossos aliados por meio do desenvolvimento de sistemas de defesa de mísseis", disse o secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates.
O governo Obama pretende adotar um sistema com foco na intercepção de mísseis de curto e médio alcance. Um interceptador deverá ser implantado na Romênia, enquanto dois navios com capacidade de interceptar projéteis monitoram a costa iraniana e baterias antimísseis irão para países do golfo.
O acordo tampouco versa sobre arsenais nucleares táticos (de alcance limitado). A Rússia conta cada vez mais com um grande arsenal nuclear tático para suprir deficiências de suas forças convencionais.
Para Michael O'Hanlon, analista de defesa do Instituto Brookings, "o novo tratado será útil por enquanto, mas não é suficiente".


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