São Paulo, terça-feira, 27 de abril de 2004

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Diante de dilema, EUA adiam ação em Fallujah

DO "NEW YORK TIMES"

Temendo acirrar o sentimento antiamericano no Iraque, mas sem poder condescender com os insurgentes, o presidente George W. Bush pediu ontem a seus militares que estendessem a negociação em Fallujah, a cidade sunita 50 km a oeste de Bagdá que se transformou no maior foco de tensão do pós-guerra.
Ainda assim, um fuzileiro naval dos EUA e oito iraquianos foram mortos em um tiroteio que durou horas, apesar do cessar-fogo vigente há mais de uma semana.
Invadir ou não Fallujah constitui para Bush um dos dilemas mais complexos da ocupação. Depois de declarar, na sexta-feira, que os EUA "nunca seriam expulsos do Iraque por um bando de bandidos e assassinos", o presidente passou o fim de semana reunido com assessores em videoconferências com seus comandantes militares no Iraque.
"Está claro que não dá para deixarmos que alguns milhares de insurgentes aterrorizem uma cidade e nos ataquem", disse um dos participantes da reunião. "A questão é como entrar na cidade provocando o mínimo possível de baixas."
No sábado, o chefe da Autoridade Provisória da Coalizão (APC), o americano Paul Bremer, e o comandante das forças de ocupação no Iraque, general Ricardo Sanchez, estiveram em Fallujah no que aparentou ser um último esforço de negociação. Nesse dia, os comandantes locais estudavam alvos potenciais e montavam eventuais linhas de ataque.
A cidade, uma mistura de largas avenidas para pedestres com becos às margens do rio Eufrates, representa um campo de combate urbano extremamente complexo e perigoso, segundo os militares.
Embora o governo diga que quer executar um ataque preciso contra os cerca de 2.000 insurgentes ali alojados, os militares dizem não haver maneira de resolver a situação com mísseis teleguiados ou bombas de precisão.
Em vez disso, a tática em estudo prevê ataques intensos com fuzileiros navais escoltados por helicópteros, que buscariam os líderes da insurgência e seus atiradores. Paralelamente, os civis seriam estimulados a sair da cidade.
É uma situação especialmente delicada para Bush, que já enfrenta o pior mês em termos de baixas entre suas forças -incluídos os meses da guerra propriamente dita, março e abril de 2003.
Lançar o ataque -e dar seu aval para a morte de civis, como deve ficar claro no noticiário das emissoras árabes- pode detonar uma onda de levantes não só nas regiões sunitas como também nas áreas de maioria xiita, normalmente menos tensas. Isso tudo a menos de dez semanas da anunciada transferência de poder, em 30 de junho, quando a APC deixará de existir e será criado um governo interino iraquiano.
Em silêncio, os militares que cercam a cidade já começaram a tomar as medidas para uma invasão que, embora ainda aguardem o sinal de Bush, consideram inevitável.


Com agências internacionais

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