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Putin sobe o tom e ameaça romper acordo
Presidente russo congela adesão a tratado de armas assinado no fim da Guerra Fria em retaliação a escudo antimísseis dos EUA
Em novo ataque a Ocidente, Putin critica interferência externa; preocupação do Kremlin com sistema de defesa é "ridícula", diz Rice
DA REDAÇÃO
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, usou ontem o seu
último discurso anual sobre o
estado da nação para subir o
tom contra o Ocidente e o avanço militar dos Estados Unidos
na esfera de influência da antiga União Soviética.
Diante do Congresso russo, o
presidente repetiu os recentes
ataques de seu governo ao Ocidente -que acusou de interferência ao "estilo colonial" nos
assuntos domésticos da Rússia-, mas foi um passo além da
retórica: Putin ameaçou suspender o cumprimento do Tratado sobre Forças Convencionais na Europa (CFE, na sigla
em inglês), um marco da segurança no continente.
O secretário-geral da Otan
(aliança militar do Ocidente),
Jaap de Hoop Scheffer, disse
que o anúncio de Putin causa
"grave preocupação".
A ameaça foi o destaque de
um discurso em tom de despedida, no qual Putin descartou
um terceiro mandato, mas
frustrou os que esperavam que
apontasse um preferido para
sua sucessão, nas eleições presidenciais de janeiro.
Vetada pela Constituição, a
possibilidade de um terceiro
mandato consecutivo chegou a
ser sugerida a Putin no mês
passado pelo presidente do Senado russo. Observadores políticos especulam que o presidente ainda não descartou totalmente a idéia de uma emenda na legislação para ficar no
poder mais quatro anos.
Testamento prematuro
"O próximo discurso sobre o
estado da nação será feito por
outro chefe de Estado", disse
Putin, antes de dar sua explicação para não nomear um sucessor, arrancando gargalhadas e
deixando no ar que não pretende sair de cena. "É cedo para eu
fazer um testamento político."
Ao anunciar que pretende
decretar uma moratória no
acordo de armas, Putin acentua
a crescente irritação da Rússia
com o escudo antimísseis que
os Estados Unidos pretendem
estender ao território europeu.
No começo do ano, o governo
americano anunciou a intenção
de instalar parte do sistema de
defesa na República Tcheca e
na Polônia, para proteger-se de
ataques de países como o Irã.
Em Oslo (Noruega) para uma
reunião da Otan com a chancelaria russa, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice,
voltou a negar que o escudo antimísseis seja contra a Rússia e
afirmou esperar que o Kremlin
honre seus compromissos.
"Sejamos realistas: a idéia de
que dez interceptadores e uns
poucos radares no Leste Europeu vão ameaçar a estratégia de
defesa soviética é simplesmente ridícula", disse Rice, num ato
falho -o uso do adjetivo "soviética"- que pode ter sido inspirado por sua antiga especialidade no país inimigo dos EUA durante a Guerra Fria.
Pouco depois, a Otan confirmou que o chanceler russo comunicou oficialmente que congelará sua adesão ao CFE.
Putin não especificou o que
quis dizer com "moratória",
mas sugeriu que a Rússia poderá deixar o tratado se não houver um resultado satisfatório
nas negociações entre a Otan e
a Rússia. ""Está mais que na hora de nossos parceiros provarem seu comprometimento
com a redução de armas", disse.
O comentário arrancou as
palmas mais efusivas dos 70
minutos de discurso, em um
Congresso dominado por aliados do Kremlin. Assinado em
1990 para limitar e realocar as
armas pesadas convencionais
na Europa, o CFE sofreu uma
revisão em 1999 para refletir as
mudanças causadas pela desintegração da União Soviética.
A nova versão foi ratificada
pela Rússia, mas EUA e outros
membros da Otan se recusaram a fazer o mesmo até que
Moscou retire suas tropas da
Geórgia e de Moldova.
Além de dar o troco aos EUA
pelo controvertido escudo antimísseis, a disposição de abandonar o CFE reflete as frustrações do governo russo com os
acordos negociados pelo Kremlin nos anos 90, quando o país
ainda ressentia-se do colapso
soviético e estava fragilizado
demais para impor-se diante
dos inimigos da Guerra Fria.
Embora o anúncio de Putin
seja ainda parte da inflamada
retórica anti-Ocidente que ele
vem repetindo desde o discurso
que fez em fevereiro, atacando
o expansionismo militar americano, o gesto é carregado de
simbolismo. Firmado entre a
Otan e o antigo Pacto de Varsóvia, a aliança militar comunista,
o tratado praticamente estabeleceu uma nova ordem de defesa no continente, marcando o
fim da Guerra Fria.
Com agências internacionais
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