São Paulo, terça-feira, 27 de abril de 2010

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Em visita ao Irã, Amorim diz ver tempo para acordo

Chanceler brasileiro se reúne hoje com Ahmadinejad, que recebe Lula em maio

Ministro encerra giro que o levou à Turquia e à Rússia em busca de um acerto que permita troca de urânio e evite sanções contra Teerã


Mohammad Reza Abbasi/Mehr News/France Press
O chanceler Celso Amorim (à esq.) é recebido pelo presidente do Parlamento iraniano, Ali Larijani

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Em meio à pressão internacional liderada pelos EUA por sanções mais duras contra o Irã, o chanceler Celso Amorim considera que um acordo nuclear ainda é possível com o país persa.
Amorim está desde a noite de domingo em Teerã, onde hoje se reunirá com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. O objetivo da visita é ajustar posições para a visita do presidente Lula ao Irã, em meados do próximo mês, mas sobretudo testar possíveis saídas para o impasse nuclear.
O tema também foi abordado nas consultas que Amorim fez na Turquia e na Rússia nos últimos dias, antes de chegar ao Irã. Segundo ele, Turquia e Brasil estão "afinados" na rejeição a sanções e na busca de uma solução negociada.
"Não é um julgamento de valor, se merece ou não merece [sanções], não se trata disso, mas de saber o que melhor conduz a uma solução satisfatória para todos. Nós achamos que sanção é contraproducente: pode conduzir a um efeito contrário ao que se deseja", disse à Folha por telefone.
Ontem o ministro esteve com o principal negociador nuclear iraniano, Saeed Jalili, e com o antecessor no cargo e atual presidente do Parlamento, Ai Larijani. Cada conversa durou uma hora e meia e abordou "em profundidade" a questão nuclear, disse Amorim.
O chanceler não quis entrar em detalhes sobre as ideias discutidas. Mas afirmou que todas são "variações" da proposta feita no fim do ano passado pelo P5+1, grupo que reúne as cinco potências com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, França, Reino Unido e China) e a Alemanha.
"Tudo se resume a um problema de tempo, lugar e quantidade. Não são questões tão difíceis e que sejam inconciliáveis" afirmou Amorim. De acordo com a proposta do P5+1, feita por intermédio da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), o Irã enviaria 85% de seu estoque de urânio pouco enriquecido para outro país e receberia combustível enriquecido a 20%, adequado para uso médico mas não para fins militares.
O Irã resistiu à proposta, temendo que o urânio não seja devolvido, o que motivou um impasse e o aumento da pressão das potências ocidentais, lideradas pelos EUA, por uma quarta rodada de sanções no Conselho de Segurança.
As ideias em discussão por Amorim em Teerã colocam a Turquia como "fiel depositária" do urânio iraniano e tentam estabelecer um calendário para a troca dos materiais aceitável para as duas partes. "Até pouco tempo atrás havia uma resistência dos iranianos de que depositário ficasse com todo o seu estoque. Temos que explorar as alternativas, o que seria necessário do ponto de vista do Irã para que essa possibilidade seja utilizada."
O Irã diz que seus reatores não têm objetivos bélicos, mas é criticado pela falta de transparência pela própria AIEA. Para Amorim, que minimiza os dados compilados pela AIEA por considerá-los ultrapassados, é possível achar um "meio-termo" para que não seja necessário votar uma nova rodada de sanções. Para que a resolução seja aprovada são necessários nove votos dos 15 membros do conselho, incluindo de todos os cinco permanentes.
Nos últimos dias o Irã saiu em busca do apoio dos membros não permanentes contra as sanções. Ahmadinejad esteve em Uganda, e o chanceler Manouchehr Mottaki, passou pela Áustria e pela Bósnia-Herzegóvina. Os três países, como o Brasil, são atualmente membros do conselho.
Amorim descarta uma coordenação do Brasil com outros países em um voto sobre sanções. "Não estamos aqui para aliciar o voto de ninguém. Não dei nenhum telefonema para outro membro não permanente para convencer A ou B. Cada um age conforme sua cabeça."
Antes de ir a Teerã, Amorim jantou em Moscou com o chanceler russo, Serguei Lavrov, e ficou com a impressão de que o país não tem pressa em aprovar sanções. "Se eu dissesse que eles estão muito otimistas, estaria exagerando para o meu lado. Mas, se dependesse dos russos, eles esperariam para ver o resultado dessas gestões."

FOLHA ONLINE
"Querem satanizar o Irã", diz Marco Aurélio Garcia
www.folha.com.br/1011617



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