São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 2011

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ANÁLISE

Europeus barram imigrantes agora, mas precisarão deles

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Não importa muito o que digam Sarkozy, Berlusconi nem mesmo a extrema-direita xenófoba.
O fato é que, no futuro, os países europeus vão precisar trazer consideráveis contingentes de imigrantes, se quiserem manter seu sistema de aposentadorias e seus níveis de riqueza.
Mais do que uma questão ideológica, trata-se de um problema aritmético. A Europa ocidental vive o fenômeno do envelhecimento populacional, caracterizado pelas baixas taxas de fecundidade e de mortalidade e pela elevada expectativa de vida.
Traduzindo o demografês: os europeus vivem cada vez mais e têm cada vez menos filhos. Ao menos a primeira parte da equação é em princípio uma boa notícia, mas que tem implicações complexas.
De acordo com projeções do FMI, de 2006 até 2050 a UE passará de uma média de quatro pessoas em idade de trabalho (15 a 64 anos) para cada aposentado (mais de 65 anos) para apenas duas.
Não é necessário PhD em economia para perceber que menos pessoas contribuindo para a Previdência e mais gente dela sacando por períodos mais longos é sinônimo de encrenca, não só para as contas públicas como também para a economia do país como um todo.
Descartadas as soluções extremas de matar os velhinhos ou fazê-los labutar até o fim da vida, a única forma de equilibrar o sistema é agregando mais trabalhadores à população.
Como os europeus não parecem dispostos a ter filhos, a única saída é a importação de mão de obra.
A pergunta não é se vai ser necessário fazê-lo, mas sim em que proporção. Trabalho recente de Mikko Myrskylä ("Nature", agosto de 2009) sugere que, à medida que os países atingem os níveis ótimos de desenvolvimento -IDH, que vai de 0 a 1, aproximando-se e ultrapassando o 0,9-, a fecundidade para de cair e volta a subir.
Trata-se, porém, de um achado estatístico e que comporta exceções (Canadá, Japão e Coreia do Sul não seguem o padrão). Mesmo que se materializasse, tal cenário não dispensaria a entrada de imigrantes para manter os países europeus funcionais.
Seria melhor que os líderes da UE deixassem de chancelar as teses populistas da extrema-direita e começassem a preparar seus países para lidar um pouco melhor com o fenômeno da imigração, com o qual vão ter de conviver.


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