São Paulo, quarta-feira, 27 de maio de 2009

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Coreia do Norte provoca com 3 novos mísseis

País lança artefatos de curto alcance e acusa os EUA de adotarem posição de confronto após teste nuclear de domingo

Para Washington, medida é "provocativa"; Conselho de Segurança tenta resolução, mas esbarra em resistência chinesa a endurecimento


Peter Parks/France Presse
Soldados norte-coreanos patrulham fronteira com a China; país teme desestabilização do vizinho

DA REDAÇÃO

A Coreia do Norte voltou ontem a desafiar a comunidade internacional, que condenara de maneira unânime e veemente seu segundo teste nuclear, realizado no domingo à noite, ao lançar dois novos mísseis de curto alcance no mar do Japão. Um terceiro artefato foi lançado na manhã de hoje (local).
O regime do ditador Kim Jong-il diz agir em "defesa própria" e acusou ontem os EUA de adotar posição de confronto em relação ao país. "O governo americano promove as mesmas políticas temerárias do seu antecessor", afirmou autoridade à agência de notícias oficial.
Citando fontes sul-coreanas, a agência de notícias Yonhap, da Coreia do Sul, disse que a movimentação na costa oeste do vizinho indicava ontem que novos disparos poderiam ser feitos nos próximos dias. Três mísseis do mesmo tipo haviam sido lançados na segunda.
Os novos lançamentos provocaram a reiteração das críticas desferidas a Pyongyang na véspera. A embaixadora americana na ONU, Susan Rice, afirmou que os disparos foram uma medida "provocativa, desestabilizadora e uma ameaça".
A Coreia do Sul anunciou que passará a integrar operação regular dos EUA de interceptação de navios suspeitos de transportar armas de destruição em massa na região. Pyongyang afirmara em outras oportunidades que a medida seria considerada declaração de guerra.
O teste nuclear de domingo à noite provocou a convocação pelo Japão de uma reunião de emergência do CS (Conselho de Segurança) da ONU para a elaboração de uma reação conjunta a Kim. Foi divulgada, porém, apenas nota expressando "forte oposição e condenação".
As potências ocidentais e mesmo tradicionais aliados de Pyongyang, como Rússia e China, endossaram a acusação de violação da resolução aprovada em 2006, em reação à detonação do primeiro teste nuclear norte-coreano, que incluía sanções e proibição a explosões.

Nova resolução
Os cinco membros permanentes do CS (EUA, Rússia, China, Reino Unido e França), além de Japão e Coreia do Sul, se reuniram à noite para tentar mais uma vez redigir uma nova resolução contra a Coreia do Norte -duas já estão em vigor.
São consideradas positivas nesse sentido as reações de Pequim e Moscou, que deixaram de lado posições usualmente contidas para fazer críticas contra a Coreia do Norte.
A agência de notícias russa Interfax disse, citando funcionário da Chancelaria da Rússia, que Moscou considera provavelmente inevitável a adoção de uma resolução dura, uma vez que é a própria credibilidade do CS que está em jogo.
Mas da China espera-se uma posição menos determinada, já que o país é o principal aliado e parceiro comercial da Coreia do Norte. Pequim teme sobretudo, segundo analistas, o cenário de deslocamento em massa de refugiados norte-coreanos no caso de um colapso econômico no empobrecido vizinho.
Rice elogiou a posição até o momento do país. "Pequim tem cumprido um papel construtivo", disse. A representante dos EUA na ONU disse que "a porta está aberta para a diplomacia" com Pyongyang, mas voltou a utilizar o bordão consagrado pela política externa de George W. Bush. "Obviamente, não descartamos nenhuma opção."

Ameaça
Anteontem à noite, o presidente Barack Obama, que qualificara o episódio de ameaça à segurança internacional, garantiu a "defesa inequívoca" dos aliados Coreia do Sul e Japão em uma eventual deterioração da situação regional.
A possibilidade é, no entanto, remota, segundo analistas. A maior ameaça de uma Coreia do Norte com capacidade nuclear para fins militares estaria na venda de tecnologia no mercado negro internacional.
Apesar das reações, o novo teste não foi exatamente uma surpresa, uma vez que Pyongyang alertara para a retomada do programa nuclear após o endurecimento das sanções na ONU ao país depois do lançamento de um foguete em abril.
Entre as causas imediatas da ação estão o objetivo norte-coreano de ser reconhecido como um país do seleto clube nuclear e uma tentativa de aplacar a pressão da linha dura interna na disputa sucessória. Acredita-se que Kim se encontre em frágil situação de saúde.
A intensidade da explosão é incerta, mas avaliada preliminarmente entre 10 e 20 quilotons, o equivalente às bombas que explodiram nas japonesas Hiroshima e Nagasaki ao final da Segunda Guerra Mundial. A explosão de 2006 é estimada em apenas um quiloton.

Com agências internacionais



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