São Paulo, quarta-feira, 27 de maio de 2009

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análise

EUA podem ter pela frente uma "crise nuclear"

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O governo de Barack Obama estaria a caminho de ter de lidar com uma "crise nuclear". A previsão, que já circulava anteriormente em centros de estudos, sobretudo conservadores, foi feita publicamente por William Perry, secretário da Defesa dos Estados Unidos entre 1994 e 1997.
Ela causou preocupação entre especialistas em Washington por contar com elementos de veracidade comprovada. Comporiam o eixo central a disposição de Israel de não permitir que o Irã desenvolva um programa nuclear armamentista e movimentações nesse sentido, como a convocação para entrevista com o primeiro-ministro israelense do principal articulador, nos anos 80, do ataque ao reator do Iraque.
O encontro coincidiu com treinamento de aviões de Israel tendo como alvos "hipotéticos" instalações nucleares do Irã. O aviso de Perry voltou à cena com o encontro entre Obama e o primeiro-ministro israelense, o conservador Binyamin Netanyahu, na semana passada, em Washington.
Ficou claro que os dois divergem sobretudo quanto a prazos. Obama adotou como estratégia um possível entendimento direto com o Irã, combinado ao mesmo tempo com uma escalada de pressões multilaterais que façam o país desistir de imaginar-se o futuro portador da bomba atômica. Isso teria de acontecer até 2010, enquanto Israel se mostra convencido de que é preciso dar um basta ainda neste ano, com a opção militar em cima da mesa.
Obama propôs aos russos a retomada de negociações envolvendo o tratado de redução de armas estratégicas com a esperança de que isso contivesse ambições nucleares de modo geral. Seria a antevisão de um universo livre de artefatos de destruição em massa. Em mente, estavam sobretudo a Coreia do Norte e o Irã.
Mas a Coreia do Norte explodiu um segundo artefato, apesar das sanções que se lançaram contra ela após o teste de 2006, e o Irã observa o potencial de contenção da comunidade internacional.
Se ela não consegue imobilizar as pretensões nucleares do regime de Kim Jong-il, por que não também ir em frente com as suas? A turma do ex-presidente George W. Bush já se coloca em campo procurando capitalizar as dificuldades de Obama nesse campo, chamando de erro "potencialmente desastroso" uma política de "maior engajamento" diplomático com adversários dos EUA. Ou seja, de esforços de convencimento que por enquanto "congelam" a opção militar.
Eles disseminarão "fraqueza e indecisão" por parte dos Estados Unidos e não conseguirão estancar a proliferação, disse Nile Gardner, da Heritage Foundation, um dos centros de estudos neoconservadores que propõem, ou propunham, dado o fracasso de Bush, usar o poder militar dos Estados Unidos na construção de uma ordem capitalista mundial. A invasão do Iraque, um desastre, seria a abertura. Agora tratam de explorar, e com isso recuperar terreno, o que acusam de fraqueza de Obama.
Entram aí o teste norte-coreana e a decisão reiterada do Irã de alcançar o status já alcançado por Israel, o de potência nuclear. A ONU tem razão quando fala em maior ameaça à humanidade.

O jornalista NEWTON CARLOS é especialista em questões internacionais



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