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análise
EUA podem ter pela frente uma "crise nuclear"
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
O governo de Barack Obama estaria a caminho de ter
de lidar com uma "crise nuclear". A previsão, que já circulava anteriormente em
centros de estudos, sobretudo conservadores, foi feita
publicamente por William
Perry, secretário da Defesa
dos Estados Unidos entre
1994 e 1997.
Ela causou preocupação
entre especialistas em Washington por contar com elementos de veracidade comprovada. Comporiam o eixo
central a disposição de Israel
de não permitir que o Irã desenvolva um programa nuclear armamentista e movimentações nesse sentido, como a convocação para entrevista com o primeiro-ministro israelense do principal
articulador, nos anos 80, do
ataque ao reator do Iraque.
O encontro coincidiu com
treinamento de aviões de Israel tendo como alvos "hipotéticos" instalações nucleares do Irã. O aviso de Perry
voltou à cena com o encontro
entre Obama e o primeiro-ministro israelense, o conservador Binyamin Netanyahu, na semana passada, em
Washington.
Ficou claro que os dois divergem sobretudo quanto a
prazos. Obama adotou como
estratégia um possível entendimento direto com o Irã,
combinado ao mesmo tempo
com uma escalada de pressões multilaterais que façam
o país desistir de imaginar-se
o futuro portador da bomba
atômica. Isso teria de acontecer até 2010, enquanto Israel se mostra convencido de
que é preciso dar um basta
ainda neste ano, com a opção
militar em cima da mesa.
Obama propôs aos russos a
retomada de negociações envolvendo o tratado de redução de armas estratégicas
com a esperança de que isso
contivesse ambições nucleares de modo geral. Seria a antevisão de um universo livre
de artefatos de destruição
em massa. Em mente, estavam sobretudo a Coreia do
Norte e o Irã.
Mas a Coreia do Norte explodiu um segundo artefato,
apesar das sanções que se
lançaram contra ela após o
teste de 2006, e o Irã observa
o potencial de contenção da
comunidade internacional.
Se ela não consegue imobilizar as pretensões nucleares
do regime de Kim Jong-il,
por que não também ir em
frente com as suas?
A turma do ex-presidente
George W. Bush já se coloca
em campo procurando capitalizar as dificuldades de
Obama nesse campo, chamando de erro "potencialmente desastroso" uma política de "maior engajamento"
diplomático com adversários
dos EUA. Ou seja, de esforços
de convencimento que por
enquanto "congelam" a opção militar.
Eles disseminarão "fraqueza e indecisão" por parte
dos Estados Unidos e não
conseguirão estancar a proliferação, disse Nile Gardner,
da Heritage Foundation, um
dos centros de estudos neoconservadores que propõem,
ou propunham, dado o fracasso de Bush, usar o poder
militar dos Estados Unidos
na construção de uma ordem
capitalista mundial. A invasão do Iraque, um desastre,
seria a abertura. Agora tratam de explorar, e com isso
recuperar terreno, o que acusam de fraqueza de Obama.
Entram aí o teste norte-coreana e a decisão reiterada
do Irã de alcançar o status já
alcançado por Israel, o de potência nuclear. A ONU tem
razão quando fala em maior
ameaça à humanidade.
O jornalista NEWTON CARLOS é especialista em questões internacionais
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