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Pacto Brasil-Irã segue roteiro de Obama
Folha obteve íntegra de carta do americano a Lula; acordo segue todas as solicitações de texto de 20 de abril
Presidente dos EUA estimulou brasileiro
a convencer Teerã
a enviar seu estoque
de urânio à Turquia
Alex Brandon/Associated Press
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Barack Obama deixa o palco após discursar em fábrica na Califórnia; em carta a Lula, ele detalhou "caminho a seguir"
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O acordo nuclear entre o
Brasil, a Turquia e o Irã segue, ponto a ponto, todas as
solicitações que o presidente
Barack Obama havia exposto
em carta a seu colega Luiz
Inácio Lula da Silva, datada
de 20 de abril, apenas três semanas antes, portanto, da
viagem de Lula ao Irã, da
qual resultou o acordo.
A Folha obteve, com exclusividade, cópia integral
da carta, na qual Obama escreve que o objetivo era oferecer "explicação detalhada"
de sua perspectiva "e sugerir
um caminho a seguir".
Brasil e Turquia seguiram
o caminho, conforme se comprova pela comparação entre
os itens expostos por Obama
e os que constam do acordo.
É natural, por isso, que haja perplexidade na diplomacia brasileira com a reação
negativa de Washington ao
acordo, antes e depois de o
Irã ter formalizado o entendimento por meio de carta à
AIEA (Agência Internacional
de Energia Atômica).
Primeira coincidência:
Obama refere-se elogiosamente à proposta que a AIEA
apresentara ao Irã, em outubro passado. "A proposta da
AIEA foi modelada para ser
justa e equilibrada, e para
que ambos os lados ganhem
confiança", escreve Obama.
O acordo Brasil-Turquia-Irã segue o molde proposto
pela AIEA. Prevê, tal como
especificava Obama na carta,
que o Irã transfira 1.200 quilos de LEU (iniciais em inglês
para urânio levemente enriquecido) para outro país.
"Quero enfatizar que este elemento é de fundamental importância para os EUA."
A carta de Obama pede,
ainda, um "papel central para a Rússia", o que também
consta do acordo, na medida
em que Moscou será responsável pelo enriquecimento
do urânio a ser enviado ao
Irã, em troca de seu LEU.
O presidente dos EUA
queixa-se de que o Irã havia
rejeitado a proposta da agência tanto em janeiro como em
fevereiro deste ano e insistia
em reter o LEU no próprio território iraniano. O acordo
com Brasil e Turquia prevê o
envio do LEU à Turquia, em
vez de retê-lo no Irã.
PORTA ABERTA
Mais: o Irã deixou de exigir
a simultaneidade entre a entrega de seu urânio levemente enriquecido e o recebimento do urânio enriquecido
a 20%, suficiente para reatores de pesquisa, mas insuficiente para fabricar a bomba.
A carta de Obama, aliás,
era específica e forte na menção à Turquia: "Gostaria de
estimular o Brasil a deixar
claro ao Irã a oportunidade
representada por esta oferta
[da AIEA] de depositar seu
urânio na Turquia, enquanto
o combustível nuclear está
sendo produzido".
É rigorosamente o que
consta do acordo de Teerã.
Por fim, Obama cobra que,
"para começar um processo
diplomático construtivo, o
Irã tem que transmitir à AIEA
um compromisso construtivo de engajamento por meio
de canais oficiais". Foi o que
Irã fez na segunda-feira, ao
encaminhar à AIEA a carta
em que se compromete a
cumprir o acordo firmado
com Brasil e Turquia.
O compromisso com a
AIEA, a entidade que pode
dar validade jurídica ao acordo, constava também do documento Brasil/Irã/ Turquia.
A carta afirma ainda que
os EUA, "enquanto isso" [enquanto durarem as gestões
turco-brasileiras], continuariam a buscar sanções ao Irã,
mas deixa claro que o presidente americano "manterá a
porta aberta para o engajamento com o Irã".
A primeira afirmação correspondeu aos fatos: no dia
seguinte ao anúncio do acordo em Teerã, Washington divulgava na ONU pacote de
sanções com apoio dos cinco
membros permanentes do
Conselho de Segurança (Rússia, China, França e Reino
Unido, além dos EUA). Mas a
porta não foi mantida aberta,
pelo menos não até agora.
Leia as íntegras da carta
de Obama a Lula e do
acordo Brasil-Irã
folha.com.br/101464
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