São Paulo, quinta-feira, 27 de maio de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Brasil é prova de que diversidade é boa"

Jorge Sampaio, que dirige Aliança das Civilizações, diz que característica virou 4º vetor do desenvolvimento

Crise econômica torna mais importante luta contra xenofobia, diz ex-líder de Portugal antes de reunião no Rio


ENVIADA A NOVA YORK

A crise econômico-financeira nos países ricos torna mais importante lutar contra "a tentação fácil do racismo e da xenofobia", diz o político social-democrata português Jorge Sampaio, que presidiu seu país de 1996 a 2006 e é o alto representante da ONU na Aliança de Civilizações. Abaixo, a entrevista concedida à Folha, por e-mail. (CLAUDIA ANTUNES)

FOLHA - A Aliança de Civilizações foi criada em um momento, após o 11 de Setembro, em que muitos nos EUA e na Europa acreditavam ou afirmavam acreditar que estava sendo movida, a partir de países de maioria islâmica, uma guerra contra o Ocidente "cristão e democrático". Em que medida essa visão está superada? JORGE SAMPAIO - Essa visão está parcialmente superada, muito embora se encontrem adeptos e defensores da mesma. Eu os agruparia em dois conjuntos: há os seguidores de [Samuel] Huntington, que fazem da teoria do choque de civilizações a única leitura da história contemporânea e dos problemas do mundo. E há os que, negando a pertinência dessas teses, se autointerditam o uso deste prisma de análise das dificuldades atuais do diálogo intercultural e da convivência harmoniosa entre religiões. Ora, nem mitos nem tabus contribuem para a solução. Duas notas: em primeiro lugar, entendo que a governança democrática da diversidade cultural se tornou questão central do desenvolvimento sustentável enquanto o seu quarto pilar, para além das dimensões econômica, social e ambiental. Em segundo lugar, a questão das relações entre o Ocidente e o islã comporta uma vertente global, e nesse sentido interessa a todos independentemente do tecido étnico, cultural e religioso de cada.

Muitos argumentam que os conflitos de aparência cultural e religiosa servem sobretudo para encobrir causas e interesses econômicos e geopolíticos. O senhor compartilha desse diagnóstico? Eu penso que é necessário reconhecer que a maior parte dos conflitos, sobretudo os que se prolongam no tempo, acaba sempre por adquirir um feixe, mais ou menos complexo, de dimensões. Assim, mesmo que na raiz haja causas de determinada natureza, um conflito acaba sempre por ganhar coloração cultural porque, ao jogar povos e comunidades uns contra os outros, desencadeia dinâmicas identitárias.

Acontecimentos na Europa, como o referendo suíço sobre minaretes e a discussão parlamentar sobre a identidade francesa, sublinham o temor de setores políticos de que o continente esteja sendo minado por imigrantes. Num tempo de instabilidade, temos de ter presente que a crise financeira tem tido gravíssimas consequências para todas as economias. Perante este endurecimento das condições, é muito importante lutar contra a tentação fácil da xenofobia e do racismo de toda a espécie.

Que papel tem o Brasil no diálogo que o Fórum promove? O Brasil tem papel único na promoção da boa governança da diversidade cultural. "Diversidade é bom" poderia ser seu lema no âmbito da Aliança das Civilizações.

Leia a íntegra

folha.com.br/1014615



Texto Anterior: Opinião: Ao dar legitimidade a Ahmadinejad, Lula envergonha o Brasil
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.