São Paulo, domingo, 27 de junho de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Atentado mata ao menos 15; após cúpula com UE na Irlanda, Bush dá como encerrada desavença com europeus

Terror ameaça decapitar 3 reféns turcos

DA REDAÇÃO

Terroristas iraquianos supostamente ligados a Abu Musab al Zarqawi, que tem vínculos com a Al Qaeda, seqüestraram três trabalhadores turcos no Iraque e ameaçam decapitá-los em 72 horas, a menos que a Turquia retire todos os homens e empresas que mantêm no país árabe.
A informação foi dada pela rede de TV Al Jazira, que recebeu um comunicado e um vídeo que teriam sido enviados pelos grupos Jamaat al Tawhid e Jihad, ligados a Zarqawi. O vídeo traz imagens de três homens segurando o que parecem ser passaportes, sob o poder de mascarados armados.
Segundo a Al Jazira, na gravação os reféns dizem os seus nomes. O comunicado conclama os turcos a se manifestarem contra a visita do presidente dos EUA, George W. Bush, à Turquia, onde chegou ontem e participará uma reunião de cúpula da Otan, a aliança militar ocidental. O prazo para a decapitação dos reféns ocorrerá antes do fim da cúpula, que acontecerá amanhã e terça.
A Turquia não faz parte da força multinacional de ocupação do Iraque, mas muitos turcos prestam serviços para as forças norte-americanas. De acordo com a Al Jazira, o comunicado exige que as "forças turcas e companhias que apóiam as forças de ocupação no Iraque saiam em três dias ou os trabalhadores serão mortos".
Na semana passada, o mesmo grupo assumiu a responsabilidade pela decapitação de um refém sul-coreano depois que Seul rejeitou a exigência de retirar seus soldados. Em maio, o grupo de Zarqawi assumiu a responsabilidade pela decapitação do executivo norte-americano Nicholas Berg.
A explosão de um carro-bomba na cidade de maioria xiita de Hil- la, 100 km ao sul de Bagdá, matou pelo menos 17 pessoas e feriu 40.
Em outros episódios de violência no Iraque ontem, ao menos nove pessoas morreram, seis delas insurgentes, em confrontos e ataques no centro e no norte do país. O recrudescimento da violência ocorre às vésperas da transferência da soberania para o governo provisório, no dia 30.

Cúpula EUA-UE
Na Irlanda, o presidente Bush, declarou ontem o fim das desavenças com a União Européia por causa da Guerra do Iraque, mas obteve pouco apoio ao seu apelo por ajuda militar contra a insurgência no país árabe.
"As amargas diferenças quanto à guerra acabaram", disse o presidente após encontro de cúpula EUA-União Européia, em entrevista coletiva que teve de ser adiada por causa de protestos anti-Bush. Cerca de 6.000 homens -um terço das forças de segurança irlandesas- isolaram o encontro realizado no castelo de Dromoland dos manifestantes.
Os EUA estão considerando o compromisso da UE e da Otan de treinar as tropas do governo interino iraquiano como prova de que as desavenças surgidas com a guerra acabaram. Segundo alguns diplomatas, porém, ele é apenas o mínimo denominador comum para os dois lados.
"A Otan tem a capacidade e, creio eu, a responsabilidade de ajudar o povo iraquiano a derrotar a ameaça terrorista que paira sobre o país", disse Bush.
O premiê irlandês, Bertie Ahern, cujo país ocupa atualmente a presidência rotativa da UE, enfatizou a importância da cooperação transatlântica a poucos dias da posse de um novo governo interino em Bagdá: "É vital que caminhemos juntos nos próximos dias com a aproximação da transferência da soberania".
É a segunda viagem de Bush à Europa neste mês. O presidente, que decidiu ir à guerra no ano passado mesmo sem o aval da ONU e de aliados tradicionais, vê o apoio ao conflito despencar entre os americanos e agora se esforça para dividir o fardo da administração do caótico e violento Iraque com a UE e outros aliados como o Japão e a Coréia do Sul.
Questionado sobre pesquisas de opinião mostrando sua grande impopularidade na Europa, Bush disse que estava mais preocupado com a imagem de seu país do que com a dele e que as pesquisas que o interessavam mais eram as sobre as eleições presidenciais americanas em novembro.

Otan
A Otan chegou a um acordo sobre o treinamento das forças de segurança iraquianas após pedido urgente do premiê do Iraque, disseram diplomatas ontem.
O acordo deve ser assinado durante o encontro de cúpula da aliança em Istambul, que adotou um esquema de segurança sem precedentes após explosões na semana passada que mataram ao menos quatro pessoas.
A oposição liderada por França e Alemanha à guerra impediu um comprometimento maior da Otan com o país, apesar do pedido do premiê Iyad Allawi. Berlim disse ainda que não enviará instrutores militares ao Iraque, mas que pode treinar iraquianos em outros lugares.


Com agências internacionais

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