São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 2008

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EUA tiram Coréia do Norte do "eixo do mal"

Presidente americano recompensa país comunista por sua primeira declaração com os detalhes do programa nuclear

Ditadura norte-coreana fez teste nuclear em 2006; os EUA, com outros países, se comprometeram a premiar imediata desnuclearização

Pang Xinglei - 18.jun.08/Xinhua
O ditador Kim Jong-il (centro, à dir.) ao lado do vice-presidente chinês, Xi Jinping, em Pyongyang

DA REDAÇÃO

Em troca da declaração de 60 páginas sobre o possível desmantelamento de seu programa nuclear, a Coréia do Norte será recompensada pelos Estados Unidos com a supressão de algumas sanções comerciais e, dentro de um mês e meio, já analisado o documento, com o fim da designação de "país que patrocina o terrorismo".
"Esse pode ser o bom momento para a Coréia do Norte", disse o presidente americano, George W. Bush. Se ela "prosseguir com seu bom comportamento, superará os entraves de seu relacionamento com a comunidade internacional".
Mas o próprio Bush deixou claro que não há plena reconciliação. "Os Estados Unidos não têm ilusões quanto ao regime de Pyongyang. Continuamos profundamente preocupados com o desrespeito aos direitos humanos, enriquecimento de urânio, mísseis balísticos e as ameaças do país à Coréia do Sul e a seus vizinhos regionais."
Entre eles, o Japão discretamente lamentou que Bush tenha recompensado a ditadura norte-coreana sem que ela finalmente explicasse o paradeiro dos japoneses seqüestrados nos anos 70 e 80.
O regime comunista de Pyongyang, enquadrado há seis anos por Bush no "eixo do mal" (ao lado do Irã e do Iraque), explodiu uma bomba atômica em outubro de 2006. Sua desnuclearização, em troca de alimentos, combustível e fertilizantes, passou a ser negociada no início de 2007 pelos Estados Unidos, Coréia do Sul, China, Japão e Rússia.
A declaração norte-coreana, entregue ontem em Pequim pelo embaixador Choe Jin Su ao diplomata chinês Wu Dawei, representante de seu país no grupo de negociadores, não é ainda a definitiva.
Dentro de uma política chamada de "passo a passo", o ditador norte-coreano, Kim Jong-il, provavelmente revelará mais tarde qual o seu estoque de plutônio, se ainda tem bombas atômicas estocadas ou se comercializou componentes de reatores com terceiros, como a Líbia ou a Síria.

De 5 a 12 bombas
O Instituto pelas Ciências e Segurança Internacional, baseado em Washington, calcula que os norte-coreanos têm um estoque de 46 a 64 quilos de plutônio, o suficiente para produzir de 5 a 12 bombas.
O que os comunistas parecem ter desvendado são detalhes do reator de Yongbyon, a 130 km de Pyongyang, onde esse combustível foi obtido. O reator, desmontado com supervisão de inspetores americanos, terá a chaminé implodida hoje, em presença de jornalistas dos países que negociaram a desmobilização.
Ainda quanto ao "passo a passo", Washington deixa de aplicar aos norte-coreanos uma legislação que veta o comércio com países inimigos. A partir de agora, entre os 192 Estados filiados à ONU, a legislação será aplicada pelos americanos somente a Cuba.
Especialistas ouvidos pela Reuters acreditam que, na prática, os efeitos da decisão americana serão pequenos. A Coréia do Norte não integra o Banco Mundial ou a OMC (Organização Mundial do Comércio). Seus produtos estarão sujeitos a altas tarifas no mercado americano e são pouco competitivos, mesmo os minerais.
Além disso, há a fragilidade da situação política. Stephen Hadley, assessor de Segurança Nacional de Bush, disse que as sanções voltarão caso Pyongyang não entregue as novas informações combinadas.
Mesmo assim, Pyongyang terá benefícios com a distensão. O "Guardian" afirma que o regime comunista reuniu condições para superar décadas de miséria econômica. Há a promessa americana de 500 mil toneladas de alimentos.
O mesmo jornal britânico afirma sarcasticamente que Bush deu uma lição aos déspotas de todo o mundo: "Se quiserem sobreviver, construam um arsenal nuclear".


Com agências internacionais


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