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entrevista
"Presidente traiu acordo de partidos"
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao propor consulta para
mudar a Constituição de
modo a contemplar a reeleição, o presidente hondurenho, Manuel Zelaya,
mais do que desafiar a legalidade, rompeu o acordo
tácito de acomodação entre os duas principais forças políticas do país, o seu
Partido Liberal e o opositor Partido Nacional, levando Honduras à maior
crise política desde a redemocratização, em 1981.
É o que diz o chileno
Marco Moreno, pesquisador da Flacso (Faculdade
Latino-Americana de
Ciências Social) e editor
do livro "Governabilidade,
Instituições e Desenvolvimento - América Latina e
Honduras" (2004).
FOLHA - Como vê o choque
entre Poderes em Honduras?
MARCO MORENO - É a crise
política mais importante
desde o retorno da democracia. Até agora Honduras vinha sendo um país
relativamente tranquilo,
porque a frágil governabilidade estava garantida
por uma elite que se alternava no poder, um pacto
entre os dois principais
partidos, o Nacional e o Liberal. Ambos são de centro-direita. As diferenças
entre eles não são substantivas, e a divisão responde a uma lógica histórica. É a ruptura desse pacto que causa a crise. Zelaya
está tentando mudar uma
espécie de modus vivendis
com a reeleição, e por isso
todos os atores envolvidos, partidos, Congresso,
Justiça, resistem.
FOLHA - O que move Zelaya?
MORENO - Penso que há
duas coisas: o interesse de
se manter no poder, mas
também o de introduzir
algumas mudanças. Zelaya liderava um setor um
pouquinho mais progressista do liberalismo, guardadas as proporções num
país com tantos problemas sociais.
A oposição tem um argumento público muito
bom contra ele, que é a defesa da legalidade. Por isso
que a arma de Zelaya é
chamar um referendo, como fizeram outros presidentes latino-americanos.
Ele assinala que, se a convocatória não é legal, ela é
legítima, que vai aprofundar a democracia.
Com a decisão de seguir
com a consulta, ele está
tensionando bem mais a
situação.E ele tampouco
pode recuar.
FOLHA - O sr. espera que uma
eventual saída do presidente
provoque reação popular?
MORENO - Os hondurenhos
são muito distantes da política em geral. Não creio
que haja uma reação em
termos de mobilização social. O principal apoio do
Zelaya vai estar dentro de
seu próprio partido e numa poderosa corrente internacional que vai pôr panos quentes neste conflito, porque seria um precedente muito ruim para a
América Latina. É um risco muito grande uma situação como essa, dado o
histórico de nossos países:
sabemos como começa o
conflito, mas ninguém sabe que roteiro vai seguir.
Nesse ponto, a elite local
houve bastante os EUA, de
importância enorme no
país, onde ainda têm um
encrave militar.
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