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São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

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URBANISMO

Cidade troca elevado por túnel com jardim em cima, ao custo de US$ 14,7 bi, mais cara obra pública dos EUA

Boston tenta revolucionar o trânsito urbano

ROBERTO DIAS
EM BOSTON

Imagine como seria derrubar o Minhocão que corta o centro da cidade de São Paulo e construir em seu lugar um longo túnel, com um grande jardim em cima.
Pois é essa a idéia da revolução que Boston começou a concretizar neste mês, quando iniciou a destruição de uma rampa da via elevada que atravessa sua região central. O plano é concluir até 2005 a reconstrução de seu sistema viário, maior obra pública da história dos EUA -mais custosa que o canal do Panamá.
Quando terminado, o projeto terá espalhado pela cidade um conjunto de "artérias", como são conhecidos os túneis. Boston então implodirá o restante da via elevada, que é pouco carinhosamente chamada de "Green Monster" (monstro verde).
São dois os os objetivos principais. Um é desafogar o trânsito, já que os túneis terão mais pistas que a via elevada, que passa mais de dez horas por dia congestionada e que, claro, não tem muito potencial de expansão. Outro é revalorizar regiões como a que cerca o porto, uma área que se deteriorou com a construção do elevado, nos anos 50 -quase duas décadas antes de seu similar paulistano.
Chamada, não sem motivo, de "The Big Dig" (a grande escavação), a construção foi iniciada em 1991 e espalhou canteiros de obras pela cidade. A última estimativa é de que chegará ao final com um custo de US$ 14,7 bilhões.
Em 1995, Boston terminou a primeira grande parte do projeto, um túnel sob o porto. Mas é a obra em andamento que tem o conceito mais polêmico.
"Tenho certeza de que outras cidades vão olhar isso", diz Thomas Nally, diretor de planejamento do Artery Business Comittee, uma associação de empresas locais formada nos anos 80 para fazer lobby pelo projeto. "Mas vão ver também que Boston fez um grande investimento e grandes sacrifícios durante este caminho. Então, elas terão que achar os recursos."
Outros especialistas, porém, apontam que o projeto poderia ser um pouco diferente. Romin Koebel, professor de planejamento urbano da Boston University, acha que uma saída seria destruir apenas parte da via elevada.
"Uma das desvantagens do túnel é que você tem a sensação de estar perdido. Se você tiver uma parte da pista num viaduto e outra parte num túnel, então você pode dirigir pela cidade e ver o que ela tem. Você expõe a cidade, e o setor imobiliário pode se valorizar", avalia Koebel.
Boston é o centro da sétima maior região metropolitana dos EUA, onde vivem cerca de 6 milhões de pessoas. Berço da independência americana, a cidade, que fica no meio de uma das mais ricas regiões do país, é hoje um importante centro de negócios e tem intensa vida universitária.
Mas há muito sofre com seu trânsito, sobretudo por causa do esgotamento da capacidade de sua via elevada, que hoje transporta mais que o dobro de veículos que circulavam inicialmente.
Assim, a cidade passou a discutir a idéia de substituí-la por um túnel no início do anos 80. Mas demorou quase uma década para arrumar dinheiro, e está levando mais de uma década para fazê-lo.
Espera-se, porém, que o retorno seja proporcional ao esforço. Além da melhora no trânsito, o governo acredita que o projeto valorizará os terrenos da cidade e a tornará mais atrativa para investimentos, aumentando o número de empregos. Um estudo feito antes do início da obra previa a criação de 20 mil postos de trabalho.
Além disso, a nova via deverá, de acordo com as estimativas, reduzir em 12% o nível de monóxido de carbono na cidade -apenas pelo fato de diminuir os índices de congestionamento.
Há ainda o aspecto estético. Na superfície, no lugar onde hoje está o elevado, a cidade vai construir um parque de 120 mil metros quadrados (equivale a 18 campos de futebol) em formato de tira.
"Rebaixar a artéria central para o subsolo é importante porque vai ajudar a reagrupar Boston. A via elevada é uma grande barreira entre as comunidades. Agora, a cidade poderá voltar a se ver como uma só", afirma Barry Bluestone, que é diretor do Centro para Política Urbana da Northeastern University, em Boston.
Outra questão com que a cidade se deparou durante a construção foi o destino a dar a toda a terra removida para construir os túneis, 12,2 milhões de metros cúbicos, suficientes para encher 15 vezes o estádio local. O buraco de Boston acabou servindo para aterrar um parque local e diversas outras obras pela região.


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