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Raúl defende mudanças em Cuba
Líder interino quer atrair mais investimentos estrangeiros e oferece diálogo a próximo presidente dos EUA
Em comemoração de data nacional, irmão de Fidel fala de "mudanças estruturais" e pede a cubanos senso crítico e mais
produção
Adalberto Roque/France Presse
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Raúl discursa para 100 mil em Camagüey, no leste de Cuba, diante de monumento com as imagens de Fidel Castro e Che Guevara
DA REPORTAGEM LOCAL
O general Raúl Castro, 76,
que substitui interinamente o
irmão Fidel à frente do regime
em Cuba, defendeu ontem
"mudanças estruturais no país"
e a atração de investimentos
externos, além de oferecer um
canal de diálogo para o presidente que suceder George W.
Bush na Casa Branca.
"Se as novas autoridades norte-americanas deixarem de lado a prepotência e decidirem
conversar de modo civilizado,
bem-vindas sejam. Se não for
assim, estamos dispostos a continuar enfrentando sua política
durante outros 50 anos se for
necessário", discursou Raúl,
durante a comemoração da
maior data nacional do país, o
Dia da Rebeldia, em Camagüey,
a 540 km de Havana.
Em seu balanço do primeiro
ano sem Fidel Castro no comando -o ditador, no poder
desde 1959, teve de passá-lo ao
irmão em 2006 para se submeter a cirurgias no intestino-,
Raúl afirmou que "foram necessários ajustes e adiamentos". "Não descartamos que haverá outros no futuro."
Em seu discurso, ele reconheceu que Cuba não superou
ainda o "período especial", época da penúria provocada com o
fim da ajuda da antiga União
Soviética. Citou ainda os baixos
salários, a escassa produtividade e a autocomplacência, mas
disse que não existem "soluções espetaculares".
"Precisamos trabalhar com
senso crítico e criativo, temos o
dever de questionar tudo o que
fazemos, visando transformar
conceitos e métodos que foram
adequados em seu momento,
mas que foram superados."
Raúl também reconheceu
que o salário, de US$ 15 mensais, "é claramente insuficiente
para satisfazer as necessidades,
e praticamente deixou de cumprir seu papel de assegurar o
princípio socialista de que cada
um aporte segundo sua capacidade e receba seu trabalho".
Mas ponderou que, para receber mais, "temos que produzir mais, com mais racionalidade e eficiência".
O líder interino defendeu
que a produção seja recuperada
para reduzir as importações e
disse que estuda como atrair
mais investimentos estrangeiros - "sob condições, para não
repetir erros do passado".
"Que se invista sempre em
capital, tecnologia ou mercado
com empresários sérios e sobre
bases jurídicas bem definidas,
que preservem o papel do Estado e o predomínio da propriedade socialista", disse. Mas não
detalhou nenhum plano.
Após acusar o governo de
George W. Bush de "retrógrado
e fundamentalista", o líder interino disse que mantém a disposição de dialogar com os
EUA quando Bush partir.
A oferta de diálogo ocupou a
manchete do site do diário oficial do Partido Comunista, o
"Granma", maior jornal da ilha.
Raúl ainda negou que haverá
"transição" ou "paralisia" em
Cuba, provocadas pela ausência de Fidel. "O inimigo insiste
em continuar batendo com a
mesma pedra, mas por mais
que fechem os olhos, a realidade se encarrega de destruir seus
sonhos tresnoitados", disse.
"Fidel já realiza uma atividade cada vez mais intensa e sumamente valiosa, e nem nos
momentos mais graves de sua
doença deixou de aportar sua
sabedoria e experiência diante
de cada problema."
Sobre um eventual retorno
do irmão, nenhuma palavra.
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