São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2007

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Raúl defende mudanças em Cuba

Líder interino quer atrair mais investimentos estrangeiros e oferece diálogo a próximo presidente dos EUA

Em comemoração de data nacional, irmão de Fidel fala de "mudanças estruturais" e pede a cubanos senso crítico e mais produção

Adalberto Roque/France Presse
Raúl discursa para 100 mil em Camagüey, no leste de Cuba, diante de monumento com as imagens de Fidel Castro e Che Guevara

DA REPORTAGEM LOCAL

O general Raúl Castro, 76, que substitui interinamente o irmão Fidel à frente do regime em Cuba, defendeu ontem "mudanças estruturais no país" e a atração de investimentos externos, além de oferecer um canal de diálogo para o presidente que suceder George W. Bush na Casa Branca.
"Se as novas autoridades norte-americanas deixarem de lado a prepotência e decidirem conversar de modo civilizado, bem-vindas sejam. Se não for assim, estamos dispostos a continuar enfrentando sua política durante outros 50 anos se for necessário", discursou Raúl, durante a comemoração da maior data nacional do país, o Dia da Rebeldia, em Camagüey, a 540 km de Havana.
Em seu balanço do primeiro ano sem Fidel Castro no comando -o ditador, no poder desde 1959, teve de passá-lo ao irmão em 2006 para se submeter a cirurgias no intestino-, Raúl afirmou que "foram necessários ajustes e adiamentos". "Não descartamos que haverá outros no futuro."
Em seu discurso, ele reconheceu que Cuba não superou ainda o "período especial", época da penúria provocada com o fim da ajuda da antiga União Soviética. Citou ainda os baixos salários, a escassa produtividade e a autocomplacência, mas disse que não existem "soluções espetaculares".
"Precisamos trabalhar com senso crítico e criativo, temos o dever de questionar tudo o que fazemos, visando transformar conceitos e métodos que foram adequados em seu momento, mas que foram superados."
Raúl também reconheceu que o salário, de US$ 15 mensais, "é claramente insuficiente para satisfazer as necessidades, e praticamente deixou de cumprir seu papel de assegurar o princípio socialista de que cada um aporte segundo sua capacidade e receba seu trabalho".
Mas ponderou que, para receber mais, "temos que produzir mais, com mais racionalidade e eficiência".
O líder interino defendeu que a produção seja recuperada para reduzir as importações e disse que estuda como atrair mais investimentos estrangeiros - "sob condições, para não repetir erros do passado".
"Que se invista sempre em capital, tecnologia ou mercado com empresários sérios e sobre bases jurídicas bem definidas, que preservem o papel do Estado e o predomínio da propriedade socialista", disse. Mas não detalhou nenhum plano.
Após acusar o governo de George W. Bush de "retrógrado e fundamentalista", o líder interino disse que mantém a disposição de dialogar com os EUA quando Bush partir.
A oferta de diálogo ocupou a manchete do site do diário oficial do Partido Comunista, o "Granma", maior jornal da ilha.
Raúl ainda negou que haverá "transição" ou "paralisia" em Cuba, provocadas pela ausência de Fidel. "O inimigo insiste em continuar batendo com a mesma pedra, mas por mais que fechem os olhos, a realidade se encarrega de destruir seus sonhos tresnoitados", disse.
"Fidel já realiza uma atividade cada vez mais intensa e sumamente valiosa, e nem nos momentos mais graves de sua doença deixou de aportar sua sabedoria e experiência diante de cada problema."
Sobre um eventual retorno do irmão, nenhuma palavra.


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