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Militares aceitam volta negociada de Zelaya
Em nota, Forças Armadas afirmam apoio a conversas no marco do Acordo de San José, mediado pelo presidente costa-riquenho
Posição pode marcar fissura com o governo interino, que até agora não admitia hipótese de retorno do
líder deposto a Honduras
Jose Cabezas/France Presse
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Apoiadores de Zelaya em tenda improvisada em El Paraíso; cerca de 500 militantes hondurenhos conseguiram chegar à fronteira
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A OCOTAL
(NICARÁGUA)
As Forças Armadas de Honduras emitiram anteontem à
noite um comunicado no qual
afirmam que não se oporiam a
um retorno negociado de Manuel Zelaya, que ontem completou quatro semanas de exílio. É a primeira manifestação
de uma instituição importante
hondurenha admitindo o retorno do presidente deposto.
O documento, publicado no
site oficial das Forças Armadas,
afirma que os militares apoiam
uma solução "por meio de um
processo de negociação no
marco do Acordo de San José.
Dessa forma, reiteramos o nosso apoio irrestrito aos resultados da mesma."
Pelo Acordo de San José,
proposto pelo presidente da
Costa Rica e mediador das negociações, Óscar Arias, Zelaya
voltaria à Presidência, mas renunciaria à tentativa de convocar uma Assembleia Constituinte -o pivô da crise política.
O governo interino, de Roberto Micheletti, tem dito que
só aceita que Zelaya volte para
que ele responda a um processo
judicial. Mas, na semana passada, admitiu que levaria o plano
de Arias para ser analisado formalmente pelo Congresso e pela Corte Suprema de Justiça,
que ainda não se pronunciaram
sobre a proposta.
Segundo o jornal americano
"The New York Times", o comunicado teve a sua primeira
versão escrita em Washington
após conversas entre oficiais
militares hondurenhos e assessores do Congresso. A intenção,
afirma o diário, é mostrar que a
cúpula militar não desafiaria
um acordo negociado pelos Poderes civis.
Anteontem à noite, o comandante das Forças Armadas, general Romeo Vásquez, surpreendeu o país ao dar uma
longa entrevista à rádio Globo,
principal meio de comunicação
pró-Zelaya e que várias vezes
foi tirada do ar por intervenção
do governo Micheletti.
Bloqueios
As Forças Armadas e a Polícia foram mobilizadas para assegurar o toque de recolher
-ampliado até as 6h de hoje-
na fronteira de Honduras e Nicarágua, onde Zelaya chegou na
sexta-feira para tentar voltar ao
país. Ao menos um manifestante apareceu morto, em circunstâncias ainda não esclarecidas.
Os bloqueios militares têm
obrigado os militantes de Zelaya a andar cerca de sete horas
até a região de Las Manos, onde
o presidente deposto está organizando albergues para recebê-los na cidade de Ocotal, a 25 km
da fronteira.
Ontem, Zelaya disse que ficaria na região por tempo indeterminado para esperar seus
simpatizantes e cobrou uma
posição mais clara dos EUA.
"Que a secretária [de Estado,
Hillary] Clinton enfrente a ditadura com força para saber
verdadeiramente qual é o posicionamento dos EUA diante do
golpe de Estado", disse Zelaya,
em cima de uma camionete e
com um megafone na mão,
diante de um punhado de simpatizantes, em Ocotal.
Segundo o organizador da
mobilização, Carlos Reina, até
ontem à tarde haviam chegado
cerca de 500 militantes de várias partes do país.
Um deles, José Oliva Domingues, 43, chegou ontem de manhã. Vindo de Tocoa (nordeste
de Honduras), estava acompanhado da mulher, Carla -os
dois filhos ficaram sob os cuidados de uma vizinha.
O casal, dono de uma pequena olaria, conseguiu chegar de
ônibus até El Paraíso, a 12 km
da fronteira. Depois, foi obrigado a dormir num acampamento improvisado numa das montanhas da região.
Viajando desde quarta, os
dois vieram só com a roupa do
corpo e comeram pela primeira
vez ontem às 13h, quando chegaram ao local onde dormiriam, um galpão sem paredes e
piso de cimento.
"Parecíamos imigrantes dentro de nosso país", disse Domingues, comparando sua viagem à travessia dos imigrantes
irregulares do México aos EUA.
"Fugimos dos militares, nos
agachamos quando ouvíamos
helicóptero, mas estávamos em
Honduras."
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