São Paulo, terça-feira, 27 de julho de 2010

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Sob fogo amigo, Casa Branca se defende

Arquivos revelados por mídia mostrando abusos e segredos da guerra no Afeganistão são criticados até por democratas

Governo Obama alega que vazamento ameaça tropas americanas; site WikiLeaks anuncia que há mais a divulgar


Rodrigo Abd/Associated Press
Soldado americano coloca arame farpado para proteger a base militar de Nolen, localizada no vale de Arghandab, em Candahar, no Afeganistão

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Sob críticas inclusive de aliados democratas, a Casa Branca tentou se defender ontem do escândalo da divulgação, no domingo, de documentos secretos da guerra no Afeganistão, divulgados no site WikiLeaks e em três publicações -"Guardian", "New York Times" e "Der Spiegel". Ela afirmou que o vazamento é uma "séria ameaça" às tropas e à estratégia militar dos EUA.
O vazamento, uma coleção de 91.731 documentos de períodos entre 2004 a 2009, revela que o grupo radical Taleban está cada vez mais forte; que os EUA estão furiosos com o contínuo apoio da inteligência do Paquistão -suposto aliado- aos insurgentes afegãos; que mais civis do que se supunha foram mortos; e que o esforço no Afeganistão vai de mal a pior.
A resposta política não demorou: democratas no Congresso afirmaram que intensificarão o escrutínio da estratégia do presidente Barack Obama e que os documentos poderão tornar mudanças de rumo ainda mais urgentes.
O episódio ocorre quando a Casa Branca se prepara para uma dura batalha de convencimento de revisão da estratégia no Afeganistão, prevista para dezembro.
O governo passou o dia tentando, sem muito sucesso, convencer a opinião pública de que os papéis publicados não têm novidades nem efeitos no esforço de combate. O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse "não haver nada nos documentos que já não tenha sido discutido publicamente".
Evitou dizer se o escândalo provocará um recuo na estratégia dos EUA de aumentar o número de soldados e aliar-se à população local.
Em vez disso, criticou o vazamento. "Além de ser contra a lei, [a divulgação] tem o potencial de ser muito perigosa para os militares, os que cooperam com os militares e os que trabalham para nos manter seguros."
Ontem, Julian Assange, responsável pela divulgação dos documentos e um dos fundadores do WikiLeaks, afirmou que "está apenas começando" a liberar os dados confidenciais. Para ele, ainda há "milhares de crimes de guerra" relatados.
Funcionários da Casa Branca atacaram Assange, destacando entrevista que concedeu à "Spiegel" em que afirma "gostar de esmagar sacanas".
Apesar das críticas, os documentos são contundentes por dois motivos. 1) Comprovam temores de que a situação em campo é bem pior do que as Forças Armadas querem admitir. 2) Deixam claro que os EUA falham há anos em convencer os paquistaneses a pararem com o jogo duplo de auxílio ao Taleban.
Apenas o Paquistão negou o conteúdo dos papéis. Já Cabul reclamou da morte de civis por ataques americanos, mas afirmou não considerar os documentos "injustos".


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