São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2006

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Irã dá início a nova fase de reator nuclear

Em desafio à ONU, presidente inaugura usina que pode ser usada para produzir plutônio e diz que país não ameaça Israel

Conselho de Segurança deu prazo até quinta-feira para que Teerã interrompa seu programa atômico, sob o risco de enfrentar sanções

DA REDAÇÃO

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, participou ontem do lançamento de uma nova fase da usina de água pesada de Arak, a 190 km de Teerã. A cerimônia ocorreu apesar do prazo imposto pela ONU para que o país interrompa seu programa nuclear.
Ahmadinejad afirmou que o controverso programa nuclear iraniano não representa ameaça a nenhum país vizinho, nem mesmo a Israel "que é um inimigo definitivo" e que Teerã não desistirá do direito de desenvolver a tecnologia nuclear, apesar do temor ocidental de que o Irã consiga produzir bombas atômicas.
O governo de Israel preferiu não comentar as declarações de Ahmadinejad. No ano passado, o presidente iraniano afirmou que Israel deveria "ser varrido do mapa". O deputado Ephraim Sneh, do Partido Trabalhista, porém, disse que a produção de água pesada marca "um passo para o Irã avançar em direção à bomba atômica".
Durante o discurso, Ahmadinejad declarou que o Irã nunca irá abandonar seu programa nuclear e reiterou que a produção de armas nucleares não faz parte de suas metas.
As declarações do presidente iraniano ocorreram alguns dias antes do prazo estabelecido pelo Conselho de Segurança da ONU -próxima quinta-feira-, que exortou o Irã a pôr fim ao seu programa de enriquecimento de urânio ou que esteja preparado a enfrentar possíveis sanções econômicas.
Teerã considerou a resolução do CS "ilegal". Na terça-feira, o governo de Teerã declarou estar aberto a negociações ao entregar sua resposta ao pacote de incentivos oferecido pela potências para que suspenda suas atividades nucleares, mas disse não concordar com as exigências ocidentais de que a interrupção do enriquecimento de urânio seja uma condição prévia para as conversações.
Quarto maior exportador de petróleo do mundo, o Irã afirma que seu programa nuclear tem fins pacíficos e que o país busca apenas uma fonte alternativa de energia.
Quando for concluído, o projeto no complexo de Arak irá produzir plutônio como um subproduto que pode ser usado para construir ogivas atômicas. Mas o reator que irá produzi-lo ainda está em construção. Só deverá estar pronto em 2009.
Embora o governo de Teerã esteja sujeito a enfrentar sanções se não respeitar o prazo determinado pela ONU, a divisão entre as potências mundiais sobre como lidar com a república islâmica deve postergar uma ação mais concreta.
Segundo o "Los Angeles Times", Washington já deu sinais de que está disposto a formar uma coalizão, independente da decisão da ONU, para congelar os ativos iranianos e restringir o comércio, se necessário. Mas analistas dizem que a adoção de sanções sem adesão maciça teria impacto limitado.
Um representante do governo iraniano disse que o projeto de Arak não potencializa o risco, pois um reator nuclear do porte do que foi inaugurado ontem não tem uso militar.


Com agências internacionais


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