São Paulo, quinta-feira, 27 de agosto de 2009

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Morre aos 77 último expoente do clã Kennedy

Senador Ted Kennedy, irmão mais novo de presidente John e ícone do Partido Democrata, não resiste a câncer no cérebro

Político, em seus 46 anos no Senado, teve uma atuação destacada na aprovação de leis sobre sistema de saúde, direitos civis e imigração

ago.1972/France Presse
Ted Kennedy em 1968, aos 36 anos; em cinco décadas de política, ele passou de "Kennedy playboy' a "Leão do Senado' no imaginário americano

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Morreu ontem aos 77 anos o senador Edward Kennedy, pilar do Legislativo americano e caçula de um trio de irmãos democratas que deu um presidente, John Fitzgerald Kennedy, e um secretário da Justiça e pré-candidato à Casa Branca, Robert Kennedy, ambos assassinados nos anos 60. Ted, como era conhecido pelo público, sofria de um tumor no cérebro, descoberto em 2008.
Em seu oitavo mandato representando o Estado de Massachusetts, Ted Kennedy era o principal nome da ala progressista do Partido Democrata no Congresso e o terceiro mais longevo do Senado, com 46 anos de Casa. Herdeiro político da trágica família de católicos irlandeses, à sua liderança e iniciativa são atribuídas importantes vitórias em leis aprovadas sobre direitos civis, mas também salário mínimo, sistema de saúde pública e direitos dos imigrantes.
A mais recente foi a Lei Sirva a América, que dobra o número de voluntários federais e leva seu nome, cuja cerimônia de assinatura marcou uma de suas últimas aparições em público, em abril. É dele também o esboço da polêmica reforma do sistema de saúde pública dos EUA, que vem merecendo defesa apaixonada de Barack Obama, mas dividiu o país e segue empacada no Congresso.
O presidente interrompeu suas férias na ilha de Martha's Vineyard, no Estado natal do senador, para lamentar a morte do amigo, que chamou de "um dos melhores senadores da história". Dizendo-se de "coração partido", assinou ordem determinando que as bandeiras do país fiquem hasteadas a meio pau até o dia seguinte ao enterro do político, no sábado, no cemitério militar de Arlington, na Virgínia.
Depois de dizer que a sobrevida do senador após o diagnóstico permitiu que amigos e parentes se despedissem dele, luxo que não tiveram os dos irmãos John, assassinado em 1963, em seu terceiro ano de mandato, e Robert, morto a tiros em 1968, quando concorria à indicação democrata, Obama disse que "o extraordinário bem que ele fez prosseguirá".
"Por cinco décadas, virtualmente todas as grandes leis para o progresso dos direitos civis, saúde e bem-estar econômico do povo americano traziam seu nome e foram resultado de seus esforços", disse Obama. "No Senado dos EUA, não consigo imaginar nenhum outro que tenha merecido maior respeito e afeição de membros de ambos os lados do espectro político."
O apoio que Ted Kennedy deu ao então pré-candidato Obama no começo das primárias democratas é considerado fundamental para a aceitação do jovem senador por parte do establishment do partido, que tendia a apoiar a ex-primeira-dama Hillary Clinton. Teve peso também na conquista de Obama de boa parte do eleitorado hispânico e operário, bases de apoio de Kennedy.
Na ocasião, em janeiro de 2008, em um discurso emocionado, o veterano senador disse que considerava Obama digno de continuar a tradição de luta dos Kennedy. Ted então citou o irmão presidente: ""O mundo está mudando. As velhas maneiras não vão ser suficientes. É hora para uma nova geração de liderança." Também é a hora para Barack Obama".
A lista de políticos e comentaristas que soltou declarações de pesar sobre a morte do senador vai da esquerda aos ultraconservadores, no país e no exterior. Do democrata Jimmy Carter ao republicano George W. Bush, os quatro ex-presidentes americanos vieram a público elogiar Kennedy, assim como o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e a chanceler (premiê) alemã, Angela Merkel, entre outros.
Dois senadores, um republicano e um democrata, choraram na tribuna ao relembrar o amigo, que não desfrutou de tamanha unanimidade em vida. Ted Kennedy morre sem ver concluída o que chamava de "causa da minha vida": a reforma da saúde pública dos EUA.


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