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Japão deve trocar governo, mas não mudar
Sigla no poder quase ininterruptamente desde 1955 perde nas pesquisas, mas opositores favoritos não empolgam eleitores
Ideologicamente e na falta de carisma de seus líderes, os dois partidos, adversários na eleição deste domingo, são bastante parecidos
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO
Todas as pesquisas eleitorais
das últimas duas semanas indicam que o Japão deve tirar do
poder neste domingo o partido
que governa o país quase ininterruptamente desde 1955.
Mas as pesquisas também
apontam que os japoneses não
acreditam em grandes mudanças. O eleitor quer tirar o Partido Liberal Democrático (PLD)
de cena, mas não se empolga
com a chegada do Partido Democrático do Japão (PDJ).
O PDJ foi criado em 1998,
com dissidentes de vários pequenos partidos oposicionistas
e também com desertores do
próprio PLD.
Ideologicamente e na falta de
carisma de seus líderes, os dois
partidos são bem parecidos.
Os oposicionistas prometeram investir mais na rede de
bem-estar social e ter mais autonomia em relação aos EUA.
Yukio Hatoyama, o líder do
PDJ que pode se tornar premiê,
também diz que o partido será
mais independente em relação
à burocracia estatal que, segundo ele, tem a palavra final nas
políticas do atual governo.
O enorme deficit público (o
endividamento já chega a
200% do PIB japonês), o envelhecimento da população e a
precarização do emprego dos
mais jovens não foram encarados na campanha.
O Japão teve a pior performance entre os países do G7 em
2009, e seu PIB deve cair 6% no
ano (o dobro que os EUA). A
economia cresceu 0,9% no último trimestre, após quatro trimestres seguidos em queda.
"Os jovens não se casam porque não têm emprego estável,
os velhos não gastam porque
temem o colapso da Previdência, assim fica difícil estimular a
economia", avalia o economista
Nobuaki Hamaguchi, professor
da Universidade de Kobe.
"O deficit público não para de
crescer, e o governo começa a
sentir que será difícil levantar
dinheiro no Japão quando ninguém mais quiser comprar seus
papéis. Falta liderança, os dois
partidos não oferecem um cardápio para o futuro, ainda que
uma mudança já seja positiva."
As regras eleitorais do Japão
não ajudam a vencer a apatia.
Não há grandes outdoors, nem
muita campanha na TV. Com
menos de dois metros de largura, os cartazes com as fotos dos
candidatos nas ruas de Tóquio
são minimalistas.
A campanha dura só 11 dias, o
que obriga os candidatos a visitar cinco cidades por dia, quase
sempre usando os trens de alta
velocidade. Os comícios duram
dez minutos, normalmente em
cima de vans, em pequenas carreatas que passam por estações
de trem, shoppings ou parques
públicos.
Invariavelmente, o candidato chora em cada uma dessas
aparições ao lembrar da infância, ao falar do amor pelo Japão
ou ao notar a chegada da mídia.
Na internet, os candidatos e
os partidos são proibidos de fazer campanha.
"O atual sistema vai falir, e
nossa geração vai sair perdendo", diz Kensuke Harada, 23,
estudante de Direito da Universidade de Tóquio que criou
uma ONG para promover a política e o voto entre os mais jovens. "Políticos precisam levar
em conta os mais jovens e precisamos votar pelo nosso futuro", diz. Em média, apenas 30%
dos eleitores entre 20 e 30 anos
votam, menos da metade do
que em outros grupos etários.
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