São Paulo, sexta-feira, 27 de agosto de 2010

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Jornais censuram chacina no México

Com medo, mídia local ignora assassinato de 72 imigrantes ilegais; cônsul põe em dúvida que haja brasileiros

Equador pede ao governo mexicano proteção ao trabalhador que testemunhou o caso e faz a denúncia

Secretaria de Marinha do México/France Presse
Galpão onde foram encontrados 58 homens e 14 mulheres, em San Fernando

GABRIELA MANZINI
ENVIADA ESPECIAL A MATAMOROS

Os jornais da região mexicana de San Fernando, local do massacre de 72 imigrantes ilegais, amanheceram calados ontem, apenas um dia após a descoberta dos corpos num sítio.
Enquanto grandes jornais do país, como o "Reforma", exibem em sua manchete "dizem não aos narcos... e são massacrados", a mídia local está ignorando por completo o crime.
Temendo represálias, jornalistas mexicanos procurados ontem pela Folha confirmaram a força da censura imposta pelo crime.
Parte deles admite, sob condição de anonimato, que só veículos baseados na capital federal ou em Ciudad Victoria, a capital estadual, podem noticiar a acusação ao narcocartel Zetas.
O medo é tamanho que até o porta-voz da Procuradoria de Justiça do Estado de Tamaulipas, o órgão responsável pelas investigações, pediu anonimato ao conceder entrevista à agência France Presse.
Ele acompanhava em San Fernando o início do reconhecimento dos corpos dos imigrantes que, segundo as investigações, tinham idade entre 19 e 45 anos, todos latino-americanos.
Ontem, o cônsul-geral do Brasil no México, Márcio Lage, colocou em dúvida a informação dada no dia anterior pela chancelaria mexicana, corroborada pelo Itamaraty, de que haveria quatro brasileiros entre as vítimas.
Segundo ele, que está na região acompanhando a investigação, ainda não é possível determinar a nacionalidade de nenhuma das vítimas do massacre.

SOBREVIVENTES
Por enquanto a investigação se baseia no depoimento do equatoriano Freddy Pomavilla, 18, que está internado em um hospital, ferido por um tiro na garganta. Foi ele que denunciou o massacre a oficiais da Marinha depois de fingir-se de morto e conseguir escapar.
Ontem, o Equador pediu ao governo mexicano proteção a Pomavilla e criticou a divulgação de fotos dele por agências de notícias.
Uma oficial equatoriana pediu "prudência" aos meios de comunicação de modo a evitar que ele ou seus familiares sofram retaliação do narcotráfico.
Levantamento publicado em 2009 pela Comissão de Direitos Humanos do México revela que 10.000 imigrantes foram sequestrados quando passavam pelo país rumo aos EUA em apenas seis meses.
Desde 2006, estima-se que cerca de 28 mil pessoas tenham morreram em razão da guerra do governo ao narcotráfico.
Apenas como comparação, no mesmo ano no Brasil houve 33.284 mortes causadas por arma de fogo, segundo o "Mapa da Violência" do Ministério da Saúde.


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