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Jornais censuram chacina no México
Com medo, mídia local ignora assassinato de 72 imigrantes ilegais; cônsul põe em dúvida que haja brasileiros
Equador pede ao governo mexicano proteção ao trabalhador que testemunhou o caso e faz a denúncia
Secretaria de Marinha do México/France Presse
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Galpão onde foram encontrados 58
homens e 14 mulheres, em San Fernando
GABRIELA MANZINI
ENVIADA ESPECIAL A MATAMOROS
Os jornais da região mexicana de San Fernando, local
do massacre de 72 imigrantes
ilegais, amanheceram calados ontem, apenas um dia
após a descoberta dos corpos
num sítio.
Enquanto grandes jornais
do país, como o "Reforma",
exibem em sua manchete
"dizem não aos narcos... e
são massacrados", a mídia
local está ignorando por
completo o crime.
Temendo represálias, jornalistas mexicanos procurados ontem pela Folha confirmaram a força da censura
imposta pelo crime.
Parte deles admite, sob
condição de anonimato, que
só veículos baseados na capital federal ou em Ciudad Victoria, a capital estadual, podem noticiar a acusação ao
narcocartel Zetas.
O medo é tamanho que até
o porta-voz da Procuradoria
de Justiça do Estado de Tamaulipas, o órgão responsável pelas investigações, pediu anonimato ao conceder
entrevista à agência France
Presse.
Ele acompanhava em San
Fernando o início do reconhecimento dos corpos dos
imigrantes que, segundo as
investigações, tinham idade
entre 19 e 45 anos, todos latino-americanos.
Ontem, o cônsul-geral do
Brasil no México, Márcio Lage, colocou em dúvida a informação dada no dia anterior pela chancelaria mexicana, corroborada pelo Itamaraty, de que haveria quatro
brasileiros entre as vítimas.
Segundo ele, que está na
região acompanhando a investigação, ainda não é possível determinar a nacionalidade de nenhuma das vítimas do massacre.
SOBREVIVENTES
Por enquanto a investigação se baseia no depoimento
do equatoriano Freddy Pomavilla, 18, que está internado em um hospital, ferido por
um tiro na garganta. Foi ele
que denunciou o massacre a
oficiais da Marinha depois de
fingir-se de morto e conseguir escapar.
Ontem, o Equador pediu
ao governo mexicano proteção a Pomavilla e criticou a
divulgação de fotos dele por
agências de notícias.
Uma oficial equatoriana
pediu "prudência" aos meios
de comunicação de modo a
evitar que ele ou seus familiares sofram retaliação do
narcotráfico.
Levantamento publicado
em 2009 pela Comissão de
Direitos Humanos do México
revela que 10.000 imigrantes
foram sequestrados quando
passavam pelo país rumo aos
EUA em apenas seis meses.
Desde 2006, estima-se que
cerca de 28 mil pessoas tenham morreram em razão da
guerra do governo ao narcotráfico.
Apenas como comparação, no mesmo ano no Brasil
houve 33.284 mortes causadas por arma de fogo, segundo o "Mapa da Violência" do
Ministério da Saúde.
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