São Paulo, sexta-feira, 27 de agosto de 2010

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Televisão chilena exibe mineiros ao vivo

Transmissão mostrou que ânimo do grupo de 33 homens é bom, apesar de terem perdido, em média, 10 quilos

Nasa assessora médicos chilenos para reposição das perdas nutricionais; fumantes receberão até chiclete de nicotina

LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A COPIAPÓ (CHILE)

Eles apareceram. Muitos, e não só uma cara. Exatamente às 22h de ontem, horário do Chile, o noticiário da televisão foi interrompido para uma transmissão ao vivo especial: eram os mineiros enterrados a 688 metros de profundidade desde o dia 5 de agosto que davam as caras.
Barbados, peitos nus, em preto e branco, os homens diziam em ritmo alucinante que estão bem, que têm fé de que se conseguirá extraí-los -vivos- da mina.
No fim, cantaram o hino chileno -alguns com o punho esquerdo erguido.
No restaurante Bavária, centro de Copiapó, cidade mineira de 150 mil habitantes, porta de entrada do deserto de Atacama, no norte do Chile, várias pessoas que jantavam àquela hora choraram de emoção: "Foi a mesma sensação que tive quando, pequenina ainda, vi o homem chegar à Lua", disse a professora Rosário Obrego.
Soterrados há 22 dias por milhares de toneladas de pedras, terra e cobre, quando a mina em que trabalham (a San José) desabou, os 33 mineiros só haviam mantido contato individualmente por telefone, e por carta. Ontem, foi possível vê-los juntos.
As imagens surgiram por iniciativa do ministro da Saúde do Chile, Jaime Mañalich, que achava necessário diagnosticar com precisão o que ocorria com os homens.
Para isso, baixou-se até onde os mineiros estão uma câmera de vídeo. "O objetivo era que os mineiros, filmando-se uns aos outros, mostrassem como organizaram a vida, seu aspecto físico, as feridas que têm na pele, as infecções nos olhos, suas condições psíquicas", disse.
Prevê-se que apenas em novembro ou dezembro se conclua a perfuração de um poço por onde os homens possam ser içados -um de cada vez, por um buraco de 70 centímetros de diâmetro.
Em um período tão amplo sob condições adversas (temperaturas próximas aos 40C, ambiente muito úmido, iluminação precária e muita poeira), os especialistas já sabem: condições psíquicas e físicas se agravam.
Victor Zamora Bugueño, 33, é um cara fortão, animado e fumante -"são 30 por dia", diz a namorada. Em uma carta que enviou ontem a seus parentes, Bugueño fala de seu amor pela família, pede caderno e lápis (para escrever mais mensagens), e "cigarro, cigarro e cigarro. Pelo amor de Deus".
Bugueño é um entre uma maioria de fumantes, que foi obrigado à abstinência -de cigarro, inclusive.

NUTRIÇÃO
Ontem, Mañalich anunciou que mandará um estoque de chicletes de nicotina, para, ao menos nesse quesito, tentar aliviar as pressões sobre os mineiros.
Um grupo da Nasa (agência espacial americana) especializada em "sobrevivência em condições extremas" chegará ao Chile no fim de semana para montar um plano de reposição nutricional.
Em média, cada mineiro emagreceu 10 kg. Parte da perda se deveu à desidratação e à diarreia, com a ingestão de água contaminada.
Em contato telefônico com os médicos que assistem aos mineiros, os especialistas da Nasa aprovaram a estratégia.
Nos dois primeiros dias, o grupo recebeu apenas uma solução de água com glicose. Na quarta-feira, uma barra de cereais de 250 calorias. Ontem, foram duas barras, totalizando 500 calorias. Hoje, devem ser 800.
O objetivo é ir aos poucos ampliando a oferta de calorias, até as 2.000 diárias -normais para um adulto.


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