|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Televisão chilena exibe mineiros ao vivo
Transmissão mostrou que ânimo do grupo de 33 homens é bom, apesar de terem perdido, em média, 10 quilos
Nasa assessora médicos chilenos para reposição das perdas nutricionais; fumantes receberão
até chiclete de nicotina
LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A COPIAPÓ (CHILE)
Eles apareceram. Muitos, e
não só uma cara. Exatamente
às 22h de ontem, horário do
Chile, o noticiário da televisão foi interrompido para
uma transmissão ao vivo especial: eram os mineiros enterrados a 688 metros de profundidade desde o dia 5 de
agosto que davam as caras.
Barbados, peitos nus, em
preto e branco, os homens diziam em ritmo alucinante
que estão bem, que têm fé de
que se conseguirá extraí-los
-vivos- da mina.
No fim, cantaram o hino
chileno -alguns com o punho esquerdo erguido.
No restaurante Bavária,
centro de Copiapó, cidade
mineira de 150 mil habitantes, porta de entrada do deserto de Atacama, no norte
do Chile, várias pessoas que
jantavam àquela hora choraram de emoção: "Foi a mesma sensação que tive quando, pequenina ainda, vi o homem chegar à Lua", disse a
professora Rosário Obrego.
Soterrados há 22 dias por
milhares de toneladas de pedras, terra e cobre, quando a
mina em que trabalham (a
San José) desabou, os 33 mineiros só haviam mantido
contato individualmente por
telefone, e por carta. Ontem,
foi possível vê-los juntos.
As imagens surgiram por
iniciativa do ministro da Saúde do Chile, Jaime Mañalich,
que achava necessário diagnosticar com precisão o que
ocorria com os homens.
Para isso, baixou-se até
onde os mineiros estão uma
câmera de vídeo. "O objetivo
era que os mineiros, filmando-se uns aos outros, mostrassem como organizaram a
vida, seu aspecto físico, as feridas que têm na pele, as infecções nos olhos, suas condições psíquicas", disse.
Prevê-se que apenas em
novembro ou dezembro se
conclua a perfuração de um
poço por onde os homens
possam ser içados -um de
cada vez, por um buraco de
70 centímetros de diâmetro.
Em um período tão amplo
sob condições adversas (temperaturas próximas aos
40C, ambiente muito úmido, iluminação precária e
muita poeira), os especialistas já sabem: condições psíquicas e físicas se agravam.
Victor Zamora Bugueño,
33, é um cara fortão, animado e fumante -"são 30 por
dia", diz a namorada. Em
uma carta que enviou ontem
a seus parentes, Bugueño fala de seu amor pela família,
pede caderno e lápis (para
escrever mais mensagens), e
"cigarro, cigarro e cigarro.
Pelo amor de Deus".
Bugueño é um entre uma
maioria de fumantes, que foi
obrigado à abstinência -de
cigarro, inclusive.
NUTRIÇÃO
Ontem, Mañalich anunciou que mandará um estoque de chicletes de nicotina,
para, ao menos nesse quesito, tentar aliviar as pressões
sobre os mineiros.
Um grupo da Nasa (agência espacial americana) especializada em "sobrevivência
em condições extremas" chegará ao Chile no fim de semana para montar um plano de
reposição nutricional.
Em média, cada mineiro
emagreceu 10 kg. Parte da
perda se deveu à desidratação e à diarreia, com a ingestão de água contaminada.
Em contato telefônico com
os médicos que assistem aos
mineiros, os especialistas da
Nasa aprovaram a estratégia.
Nos dois primeiros dias, o
grupo recebeu apenas uma
solução de água com glicose.
Na quarta-feira, uma barra
de cereais de 250 calorias.
Ontem, foram duas barras,
totalizando 500 calorias. Hoje, devem ser 800.
O objetivo é ir aos poucos
ampliando a oferta de calorias, até as 2.000 diárias
-normais para um adulto.
Texto Anterior: Discurso: Obama dirá na TV que foco é a guerra no Afeganistão Próximo Texto: Indenização: Justiça retém pagamento a mineradora Índice
|