São Paulo, sábado, 27 de agosto de 2011

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DIÁRIO DE TRÍPOLI

Mau cheiro reina, e pegar elevador se torna um teste

DOS ENVIADOS A TRÍPOLI

Paira sobre Trípoli um mau cheiro cada vez mais difícil de aguentar.
O incômodo, de origens diversas, se espalha pela cidade empurrado pelo vento do Mediterrâneo. Primeiro, o lixo não recolhido se acumula nas ruas, formando montículos que atraem nuvens de moscas.
Segundo, o fornecimento de água está paralisado. Não se pode tomar banho, escovar os dentes nem dar a descarga desde ontem em toda a cidade.
Faz sol e calor, e todo o mundo sua o dia inteiro.
Pegar o elevador do hotel onde estamos tornou-se teste de civilidade: como não se incomodar com o fedor exalado pela gente espremida que tenta não se encostar?
Mas o cheiro mais difícil de aguentar é o que emana dos cadáveres ainda esparramados em locais de recentes combates.
Nos arredores de Bab al Azizia, a fortaleza de Muammar Gaddafi, não se escapa do mal estar nem dentro do carro com vidros fechados.
Os curiosos que fazem questão de chegar perto dos cadáveres inchados e cobertos de larvas fervilhantes andam tampando o nariz. Moscas voam nervosas.
Nos hospitais o cheiro dos corpos se mescla com fragrâncias de cloro e de água sanitária.
Os combates em Trípoli continuam, mas em menor intensidade. Muitos corpos foram recolhidos e enterrados.
A falta de água alimenta rumores. Dizem que os rebeldes cortaram as canalizações porque o regime envenenou as nascentes.
Há quem explique que a queda de energia causada por destruição da rede afetou as bombas de água.
Ontem, havia gente varrendo calçadas e recolhendo lixo, sinais de que o mutirão de limpeza convocado nas mesquitas pode emplacar. A civilidade que brota da barbárie. (SAMY ADGHIRNI E APU GOMES)



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