São Paulo, sábado, 27 de setembro de 1997.



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TRAGÉDIA
Afrescos de Giotto, que adornam basílica de são Francisco, sofrem danos menores; 5.000 ficam desabrigados
Tremor mata 10 e danifica basílica na Itália

das agências internacionais

Pelo menos dez pessoas morreram quando dois fortes terremotos atingiram o centro da Itália ontem, causando danos graves em toda a região.
Parte da famosa basílica de são Francisco, na cidade de Assis, desabou após o segundo tremor. Mas os afrescos de Giotto, cujo valor é inestimável, aparentemente sofreram apenas danos menores.
As equipes de resgate retiraram os corpos de dois frades e de dois pesquisadores de uma montanha de destroços dentro da basílica. Eles faziam parte do grupo que entrou no local para analisar os danos causados pelo primeiro tremor. Seis pessoas morreram em aldeias próximas após o primeiro terremoto, que levou a população às ruas em pânico.
As equipes de resgate ainda procuravam sobreviventes ontem à noite entre os destroços espalhados pela Itália central, e enormes acampamentos foram montados para abrigar cerca de 5.000 desabrigados.
Com poucas chances de o número de mortos aumentar dramaticamente, as atenções das autoridades se voltaram para o grande acervo cultural da região.
Os afrescos de Assis, que retratam a vida de um dos santos mais cultuados do cristianismo, foram pintados no final do século 13 e atraem milhões de turistas todo ano para a cidade medieval no alto das montanhas da Úmbria.
As primeiras informações sugeriam que os afrescos, que também incluem o trabalho de Cimabue, contemporâneo de Giotto, não foram danificados com gravidade.
"Ainda havia muita poeira, mas pelo que eu vi da porta, não deve haver nenhum dano que seja irreparável", disse Constantino Centroni, superintendente do patrimônio cultural da Úmbria. Um frade da igreja disse que o túmulo de são Francisco, na parte inferior da basílica, não foi atingido.
Guiseppe Basile, um especialista do estatal Instituto Central de Restauração, afirmou que um trabalho menos conhecido de Giotto no teto da basílica desabou.
A TV italiana exibiu imagens dramáticas do colapso do teto, feitas por um cinegrafista que entrou na igreja para filmar os danos causados pelo primeiro tremor. As imagens mostram frades e repórteres correndo para as saídas enquanto o teto desaba.
O primeiro terremoto, que ocorreu às 2h33 (21h33 de anteontem em Brasília), provocou rachaduras nos afrescos, enquanto o segundo, às 11h42, fez parte da abóbada desabar em dois lugares. Outras igrejas abrigando obras de arte, em Assis e na região central da Itália, também foram danificadas.
À tarde, o primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, e seu vice, o ministro da Cultura, Walter Veltroni, fizeram uma visita rápida a Assis para inspecionar os danos. Foram recebidos com vaias pelos parentes das vítimas, que os acusaram de negligência. No início da manhã, antes do segundo abalo, representantes do governo haviam dito no rádio e na TV que o pior já tinha passado.
O primeiro terremoto atingiu 5,5 na escala Richter. O segundo chegou a 5,6. As duas cidades mais atingidas foram Collecurti e a vizinha Cesi.
Fortes tremores foram sentidos em Roma, a mais de 100 km do epicentro (em Foligno) e vários prédios balançaram na capital. Um lustre caiu no prédio do Senado, ferindo um funcionário.
A Itália sofre terremotos com frequência. Em 23 de novembro de 1980, mais de 2.500 pessoas foram mortas quando um terremoto medindo 6,8 na escala Richter devastou grandes áreas das Regiões de Campanha e Basilicata. Muitas pessoas desabrigadas na época ainda vivem em acomodações temporárias.







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