São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA/ CONFRONTO DIRETO

Plano é "veredicto final" da gestão de Bush, diz Obama

Economia domina início do 1º debate entre democrata e o rival John McCain

Republicano, mais agressivo ao tratar de Iraque e Irã, diz que pacote econômico "é fim do começo da crise" e ressalta apoio bipartidário

Gerald Herbert/Associated Press
Obama e McCain deixam o palco do teatro da Universidade do Mississippi ao final do primeiro debate entre os dois candidatos

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A OXFORD (MISSISSIPPI)

Apesar de o tema da noite ser política externa, a crise econômica por que passa os EUA dominou os primeiros 39 minutos do primeiro e morno debate entre os candidatos Barack Obama e John McCain ontem, no Mississippi. O democrata chamou o plano que passa por votação agora no Congresso de "veredicto final" da gestão de Bush, e o republicano disse que era "o fim do começo" da crise.
"Temos de reconhecer que esse é o veredicto final de oito anos de políticas econômicas fracassadas promovidas por George W. Bush, apoiado pelo senador McCain", começou Obama. "Uma teoria que basicamente joga fora regulações e proteções a consumidores e dá mais e mais para para os mais [ricos] e [espera que] de alguma maneira a prosperidade vai se espalhar."
McCain retorquiu polindo suas credenciais de republicano independente, que o colocaram em destaque no cenário nacional no começo de sua carreira política. "O povo americano me conhece bem. [Sabe] que eu sou independente, e fico feliz em dizer que tenha uma parceira [a candidata a vice-presidente, Sarah Palin] que é verdadeiramente independente".
O republicano também quis destacar o apoio bipartidário ao pacote econômico em discussão no Congresso. "Estamos vendo pela primeira vez em muito tempo democratas e republicanos sentados juntos, tentando achar uma solução para a crise fiscal", disse.
Mas a noite era de boxe verbal. Esse era facilitado pelo formato inédito do encontro, em que os dois candidatos podiam discutir entre si a partir de um estímulo dado pelo mediador, o jornalista Jim Lehrer, da emissora pública PBS.
Obama, 47, se portou como o lutador estreante, cheio de força, mas não tão seguro no quanto a táticas. McCain, 72, assumiu seu papel de mais experiente, levando as pancadas resignado, mas encaixando de vez em quando jabs diretos no queixo da retórica do oponente, principalmente na parte final do debate, quando defendeu suas posições sobre o Irã e a Guerra do Iraque.
"John, há dez dias você disse que os fundamentos da economia estavam sólidos", disse Obama, apontando gafe recente do oponente, instado pelo mediador a fazer uso das novas possibilidades do formato, em seu primeiro ataque direto.
Fez o mesmo quando McCain prometeu cortar gastos públicos. "Foi o seu presidente, com quem você disse que concorda 90% das vezes, que comandou essa orgia de gastos. Você votou por quase todos os Orçamentos dele".
"Obama tem o histórico mais liberal [progressista, nos EUA] de votação do Senado", contra-atacou McCain. "É difícil cruzar o corredor quando você vem de tão longe da esquerda."

Sem vencedor claro
Se facilitava a interação entre os dois, o novo formato diminuiu o papel do moderador, e com isso os dois perderam a concisão e o foco nos temas propostos. Nenhum dos dois, por exemplo, explorou a crise financeira no aspecto sugerido com insistência pelo mediador Jim Lehrer, o de sua ligação com a influência e o poder internacionais dos EUA.
Sem parâmetros precisos, McCain se repetiu em frases feitas soltas ao longo da campanha, como quando disse pela enésima vez que "nós, republicanos, chegamos ao poder para mudar o governo, e o governo nos mudou".
O resultado é que, num primeiro momento pelo menos, não houve um vencedor claro.
Os dois se enfrentaram ontem no primeiro e mais importante debate presidencial dessa corrida, em Oxford, um dos quatro campus da Universidade do Mississippi. O encontro aconteceu sob a sombra da maior crise econômica a atingir os EUA desde pelo menos o final da Segunda Guerra e em meio a negociações difíceis no Congresso para aprovar um pacote de US$ 700 bilhões para voltar a fazer o crédito fluir pelo sistema financeiro do país.
O debate passou parte do dia também sob ameaça de cancelamento. Na quarta, John McCain anunciara que estava suspendendo te as atividades principais de sua campanha por conta da gravidade da crise. No mesmo dia, sugeriu que o debate fosse adiado.
Na quinta-feira, voou para Washington e, à tarde, encontrou-se com o presidente George W. Bush e Barack Obama na Casa Branca, numa ação inesperada. A interpretação mais disseminada -e negada pelo time de McCain- é que se tratou de jogada política para desviar o foco da atenção de uma campanha que perde votos devido ao descontentamento do eleitor com a situação econômica. Na ocasião, McCain disse que só viria ao debate se um acordo para o pacote proposto pelo governo fosse alcançado. O acordo não saiu, e o ele decidiu no final da manhã de ontem que viria mesmo assim.


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