São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2008

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EUA punem Bolívia por "fracasso" na ação antidroga

Fim de programa de isenção sucede expulsão de embaixador

DA REDAÇÃO

O governo dos EUA anunciou ontem ter iniciado o processo para suspender o programa que concede à Bolívia isenção de tarifa na exportação de itens ao mercado americano. O motivo é a suposta falta de cooperação do país andino no combate ao tráfico de drogas.
É o primeiro anúncio concreto de corte de ajuda desde a expulsão, pelo governo Evo Morales, do embaixador americano em La Paz, Philip Goldberg, no último dia 10, no ponto mais baixo da conturbada relação bilateral. Morales acusou Goldberg de aliar-se à oposição para conspirar contra o governo. Por reciprocidade, os EUA também expulsaram o embaixador boliviano em Washington.
O comunicado americano cita o aumento "notável" da produção de folha de coca na Bolívia e o "fracasso" do governo em combater o tráfico. Argumenta que ações de La Paz "não são as de um sócio e não cumprem normas" do programa.
O chanceler boliviano, David Choquehuanca, disse que a medida é "política" e uma "agressão". Comparou a performance antidrogas da Bolívia com a dos países também beneficiados pelo programa de isenção tarifária americano.
Além de Bolívia, fazem parte da Lei de Preferências Tarifárias Andinas e Erradicação de Drogas (ATPDEA, na sigla em inglês) Colômbia e Peru -os três são os maiores produtores de folha de coca, base da cocaína, do mundo- e ainda o Equador, rota de narcotráfico.
Segundo os dados mais recentes da ONU, relativos a 2007, a área de plantio de coca cresceu 5% na Bolívia, contra 4% no Peru (recentemente elogiado por Washington pelo combate às drogas) e 27% na Colômbia, a principal aliada dos EUA na região.

Cifras e programas
Os empresários bolivianos lamentaram a sanção, cuja implementação não é imediata e pode ser revista, segundo o comunicado americano assinado pela representante do Comércio Exterior, Susan Schwab.
Pelo programa, a Bolívia exportou US$ 268 milhões em 2007, principalmente têxteis e jóias. A extinção da preferência afetaria 40 mil empregos, estima o empresariado local.
No texto, Schwab não cita a expulsão do embaixador americano, mas menciona a expulsão, em junho, de agentes antidroga e técnicos da agência de cooperação Usaid da região cocaleira do Chapare, berço político de Morales. A acusação foi a mesma: conspiração.
Atualmente, praticamente toda a política antidrogas boliviana é custeada pelos EUA, mas o governo Morales já anunciou que busca outros parceiros, como a Rússia, cuja relação com o governo George W. Bush está estremecida.
Apesar do anúncio, os EUA acenaram que manterão os outros itens de ajuda ao país andino, estimada em US$ 100 milhões anuais. Em um memorando sobre cooperação antidrogas, no dia 16, Bush pôs a Bolívia na "lista negra" do setor, mas disse que manter programas antidrogas no país é vital para os interesses americanos na região.


Com agências internacionais


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