São Paulo, domingo, 27 de setembro de 2009

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Golpe divide candidatos à eleição em Honduras

Ex-vice de Manuel Zelaya defende que presidente deposto enfrente a Justiça

Oposicionista aposta na fragmentação do partido do governo e busca se manter neutro em relação à crise para sustentar favoritismo


GUSTAVO HENNEMANN
DA REDAÇÃO

Sem declarar abertamente apoio a um dos lados da contenda política que divide os eleitores, os principais candidatos à Presidência de Honduras se uniram em busca de respaldo internacional para o pleito de 29 de novembro, mas têm estratégias e opiniões bem diferentes em relação ao golpe de Estado que depôs o presidente Manuel Zelaya há três meses.
Dos 6 postulantes, 4 apostam nas eleições como instrumento de pacificação do país e defendem sua realização mesmo sob o regime golpista do presidente interino Roberto Micheletti. Os outros dois, com poucas chances, boicotam a eleição e condicionam a participação à restituição de Zelaya.
Membro do PL (Partido Liberal) -sigla de Zelaya e também de Micheletti-, o ex-vice presidente Elvin Santos se aproxima do discurso do regime golpista quando cobra mais "isenção e imparcialidade da comunidade internacional e principalmente do Brasil", que abriga Zelaya em sua embaixada em Tegucigalpa.
Próximo a Micheletti e rompido com Zelaya desde 2008, quando deixou a Vice-Presidência, o candidato defende que o presidente deposto enfrente a Justiça e responda pelos 18 crimes dos quais é acusado -todos vinculados à sua tentativa de promover consulta sobre Constituinte que Justiça e Congresso consideram ilegal.
"A restituição de Zelaya é um tema dos órgãos judiciais [hondurenhos] e não [deve ser] arbitrado por uma pessoa, organização ou país que não Honduras. Como a Corte Suprema e o Ministério Público já disseram que não é possível [a restituição], a comunidade internacional não deve aplicar as leis de seu sentimento, violentando as leis de nosso país", disse Santos em entrevista à Folha.
Ele concorre principalmente com Porfirio Lobo Sosa, do PN (Partido Nacional), que perdeu para Zelaya em 2005 mas aparece como favorito neste ano. O oposicionista aposta na fragmentação do PL e na neutralidade para agregar votos.
"Eu apoio a solução que emergir do diálogo entre as duas partes, seja ela qual for. Afinal, os dois [Zelaya e Micheletti] são do mesmo partido e esse é um problema deles, politicamente. Preciso ser equânime. Se não, como vou ser presidente depois, se fiz parte do conflito? Vai gerar problemas."
Pepe Lobo, como é conhecido, diz que não quer "perseguição a ninguém" e defende anistia aos envolvidos, como consta do Acordo de San José, proposto pelo mediador da crise e presidente da Costa Rica, Óscar Arias. Questionado a respeito da restituição de Zelaya -maior entrave ao acordo-, porém, ele prefere se abster.
Também em campanha, com menos força porém, estão o ex-dirigente sindical Felícito Avila, da Democracia Cristã, e Bernard Martínez, da sigla Pinu, que à Folha disse representar a social-democracia no país.
Ambos evocam um documento, assinado também por Santos e Lobo, que argumenta que o processo eleitoral não é dirigido pelo governo golpista, mas por órgãos democráticos e independentes, como o Tribunal Supremo Eleitoral, e por isso merece reconhecimento internacional mesmo que Zelaya não volte ao poder.
Para Martínez, Zelaya é o "mais intransigente" na crise e sua volta ao país foi "imprudente" e "complicou" a situação. Ele diz que é preciso uma readequação do acordo que não necessariamente implique na restituição do deposto.

Resistência
Integrantes da Frente Nacional de Resistência ao Golpe, os candidatos Carlos Reyes, sem partido, e César Ham, deputado pela esquerdista Unificação Democrática, se mantêm fiéis a Zelaya e resistem em participar do processo eleitoral enquanto os golpistas estiverem no comando. Ambos lideram protestos contra o golpe.
"Nós [da esquerda] não temos acesso aos meios de comunicação, golpistas, e nossos correligionários são perseguidos e agredidos pela polícia. Não há condições para uma eleição crível e democrática", diz Ham.


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