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Golpe divide candidatos à eleição em Honduras
Ex-vice de Manuel Zelaya defende que presidente deposto enfrente a Justiça
Oposicionista aposta na fragmentação do partido do governo e busca se manter neutro em relação à crise para sustentar favoritismo
GUSTAVO HENNEMANN
DA REDAÇÃO
Sem declarar abertamente
apoio a um dos lados da contenda política que divide os eleitores, os principais candidatos à
Presidência de Honduras se
uniram em busca de respaldo
internacional para o pleito de
29 de novembro, mas têm estratégias e opiniões bem diferentes em relação ao golpe de
Estado que depôs o presidente
Manuel Zelaya há três meses.
Dos 6 postulantes, 4 apostam
nas eleições como instrumento
de pacificação do país e defendem sua realização mesmo sob
o regime golpista do presidente
interino Roberto Micheletti.
Os outros dois, com poucas
chances, boicotam a eleição e
condicionam a participação à
restituição de Zelaya.
Membro do PL (Partido Liberal) -sigla de Zelaya e também de Micheletti-, o ex-vice
presidente Elvin Santos se
aproxima do discurso do regime golpista quando cobra mais
"isenção e imparcialidade da
comunidade internacional e
principalmente do Brasil", que
abriga Zelaya em sua embaixada em Tegucigalpa.
Próximo a Micheletti e rompido com Zelaya desde 2008,
quando deixou a Vice-Presidência, o candidato defende
que o presidente deposto enfrente a Justiça e responda pelos 18 crimes dos quais é acusado -todos vinculados à sua
tentativa de promover consulta
sobre Constituinte que Justiça
e Congresso consideram ilegal.
"A restituição de Zelaya é um
tema dos órgãos judiciais [hondurenhos] e não [deve ser] arbitrado por uma pessoa, organização ou país que não Honduras. Como a Corte Suprema e o
Ministério Público já disseram
que não é possível [a restituição], a comunidade internacional não deve aplicar as leis de
seu sentimento, violentando as
leis de nosso país", disse Santos
em entrevista à Folha.
Ele concorre principalmente
com Porfirio Lobo Sosa, do PN
(Partido Nacional), que perdeu
para Zelaya em 2005 mas aparece como favorito neste ano. O
oposicionista aposta na fragmentação do PL e na neutralidade para agregar votos.
"Eu apoio a solução que
emergir do diálogo entre as
duas partes, seja ela qual for.
Afinal, os dois [Zelaya e Micheletti] são do mesmo partido e
esse é um problema deles, politicamente. Preciso ser equânime. Se não, como vou ser presidente depois, se fiz parte do
conflito? Vai gerar problemas."
Pepe Lobo, como é conhecido, diz que não quer "perseguição a ninguém" e defende anistia aos envolvidos, como consta
do Acordo de San José, proposto pelo mediador da crise e presidente da Costa Rica, Óscar
Arias. Questionado a respeito
da restituição de Zelaya
-maior entrave ao acordo-,
porém, ele prefere se abster.
Também em campanha, com
menos força porém, estão o ex-dirigente sindical Felícito Avila, da Democracia Cristã, e Bernard Martínez, da sigla Pinu,
que à Folha disse representar a
social-democracia no país.
Ambos evocam um documento, assinado também por
Santos e Lobo, que argumenta
que o processo eleitoral não é
dirigido pelo governo golpista,
mas por órgãos democráticos e
independentes, como o Tribunal Supremo Eleitoral, e por isso merece reconhecimento internacional mesmo que Zelaya
não volte ao poder.
Para Martínez, Zelaya é o
"mais intransigente" na crise e
sua volta ao país foi "imprudente" e "complicou" a situação. Ele diz que é preciso uma
readequação do acordo que
não necessariamente implique
na restituição do deposto.
Resistência
Integrantes da Frente Nacional de Resistência ao Golpe, os
candidatos Carlos Reyes, sem
partido, e César Ham, deputado pela esquerdista Unificação
Democrática, se mantêm fiéis a
Zelaya e resistem em participar
do processo eleitoral enquanto
os golpistas estiverem no comando. Ambos lideram protestos contra o golpe.
"Nós [da esquerda] não temos acesso aos meios de comunicação, golpistas, e nossos correligionários são perseguidos e
agredidos pela polícia. Não há
condições para uma eleição crível e democrática", diz Ham.
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