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Venezuela registra baixa abstenção
Governo estima participação em eleição legislativa em 70%, considerada alta já que voto não é obrigatório
Até o fechamento desta edição, não haviam sido divulgados resultados parciais nem pesquisas
de boca de urna
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS
Extremamente polarizados na Venezuela, governo e
oposição conseguiram ontem um incomum consenso:
reconhecer que não houve
problemas realmente sérios
na votação para eleger os 165
integrantes da Assembleia
Nacional e louvar o elevado
comparecimento às urnas.
O presidente Hugo Chávez
chegou a calcular, logo depois de votar, na hora do almoço, que o comparecimento bateria em 70%, o que,
mesmo que se confirme, não
chega a ser um recorde.
É um número idêntico ao
do referendo do ano passado
e inferior aos 75% que votaram para reeleger Chávez em
2006. O voto não é obrigatório no país.
A votação se encerraria às
18h (19h30 em Brasília), mas
a legislação venezuelana só
autoriza o fechamento dos
colégios eleitorais se não
houver mais filas para votar.
Em dois Estados (Carabobo e Vargas), houve incidentes que atrasaram a votação,
o que levou a presidente do
Conselho Nacional Eleitoral,
Tibisay Lucena, a estender a
votação nesses lugares.
Lucena informou também
que apenas cinco das 36.563
mesas eleitorais tiveram de
recorrer à votação manual,
por problemas no sistema
eletrônico adotado na Venezuela, como no Brasil.
A organização oposicionista Súmate disse ter recebido 931 denúncias sobre problemas nas seções, a maioria
relativa ao funcionamento
das máquinas de votação.
A divulgação de qualquer
resultado estava proibida até
que fosse anunciado o primeiro boletim oficial. Na semana passada, o CNE informara que pretendia divulgar
um boletim com resultados
consistentes por volta de 20h
(21h30 em Brasília).
Mas até 23h não havia nenhum resultado disponível
nem mesmo de boca de urna.
De todo modo, oposição e
governo festejaram o dia em
si. María Corina Machado,
candidata da Mesa de Unidade Democrática, chegou a dizer que a jornada pusera em
marcha "uma Venezuela democrática, plural e aberta ao
diálogo".
É uma alusão velada ao fato de que, na eleição parlamentar anterior, a oposição
se recusou a participar, com
o que o chavismo elegeu todos os 165 parlamentares
(depois, dez deputados se
manifestaram em dissidência, número obviamente insuficiente para alterar o rolo
compressor governista).
Agora, a oposição terá
uma representação muito
mais numerosa. A grande
dúvida é quão numerosa será, embora os cálculos dos
analistas indiquem que o
partido governista, o PSUV
(Partido Socialista Unido de
Venezuela) fará a maioria.
A oposição espera chegar
ou a 56 assentos ou, na hipótese mais otimista, a 67.
Com 56 pode bloquear as
leis orgânicas que exigem
dois terços para aprovação.
Com 67, bloqueia os três
quintos que permitem a Chávez governar por decreto e
assim acelerar a marcha ao
"socialismo do século 21".
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