São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2010

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Venezuela registra baixa abstenção

Governo estima participação em eleição legislativa em 70%, considerada alta já que voto não é obrigatório

Até o fechamento desta edição, não haviam sido divulgados resultados parciais nem pesquisas de boca de urna

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

Extremamente polarizados na Venezuela, governo e oposição conseguiram ontem um incomum consenso: reconhecer que não houve problemas realmente sérios na votação para eleger os 165 integrantes da Assembleia Nacional e louvar o elevado comparecimento às urnas.
O presidente Hugo Chávez chegou a calcular, logo depois de votar, na hora do almoço, que o comparecimento bateria em 70%, o que, mesmo que se confirme, não chega a ser um recorde.
É um número idêntico ao do referendo do ano passado e inferior aos 75% que votaram para reeleger Chávez em 2006. O voto não é obrigatório no país.
A votação se encerraria às 18h (19h30 em Brasília), mas a legislação venezuelana só autoriza o fechamento dos colégios eleitorais se não houver mais filas para votar.
Em dois Estados (Carabobo e Vargas), houve incidentes que atrasaram a votação, o que levou a presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Tibisay Lucena, a estender a votação nesses lugares.
Lucena informou também que apenas cinco das 36.563 mesas eleitorais tiveram de recorrer à votação manual, por problemas no sistema eletrônico adotado na Venezuela, como no Brasil.
A organização oposicionista Súmate disse ter recebido 931 denúncias sobre problemas nas seções, a maioria relativa ao funcionamento das máquinas de votação.
A divulgação de qualquer resultado estava proibida até que fosse anunciado o primeiro boletim oficial. Na semana passada, o CNE informara que pretendia divulgar um boletim com resultados consistentes por volta de 20h (21h30 em Brasília).
Mas até 23h não havia nenhum resultado disponível nem mesmo de boca de urna.
De todo modo, oposição e governo festejaram o dia em si. María Corina Machado, candidata da Mesa de Unidade Democrática, chegou a dizer que a jornada pusera em marcha "uma Venezuela democrática, plural e aberta ao diálogo".
É uma alusão velada ao fato de que, na eleição parlamentar anterior, a oposição se recusou a participar, com o que o chavismo elegeu todos os 165 parlamentares (depois, dez deputados se manifestaram em dissidência, número obviamente insuficiente para alterar o rolo compressor governista).
Agora, a oposição terá uma representação muito mais numerosa. A grande dúvida é quão numerosa será, embora os cálculos dos analistas indiquem que o partido governista, o PSUV (Partido Socialista Unido de Venezuela) fará a maioria.
A oposição espera chegar ou a 56 assentos ou, na hipótese mais otimista, a 67.
Com 56 pode bloquear as leis orgânicas que exigem dois terços para aprovação. Com 67, bloqueia os três quintos que permitem a Chávez governar por decreto e assim acelerar a marcha ao "socialismo do século 21".


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