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Argentina ensina peronismo a estrangeiros
Agência estatal de notícias cria curso para jornalistas e diplomatas entenderem significado de Perón
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
O governo do presidente
Néstor Kirchner, que pertence
ao Partido Justicialista (peronista), montou um curso para
ensinar o que é o peronismo a
diplomatas e a jornalistas estrangeiros que trabalham na
Argentina. O curso é oferecido
gratuitamente pela Télam, a
agência oficial de notícias. É a
primeira vez que o órgão promove cursos do tipo. A Folha
assistiu na última quarta-feira
à primeira das quatro aulas, de
duas horas cada uma.
O programa do curso "Peronismo para Estrangeiros" começa com o cenário que possibilitou a chegada ao poder do
general Juan Domingo Perón
(1895-1974) e vai até o golpe
militar que o derrubou em
1955. Por decisão dos organizadores, não será ensinado o último mandato de Perón, que foi
três vezes presidente da Argentina, nem os desdobramentos
do peronismo da morte do general em 1974 até os dias de hoje. Assim, ficarão de fora a guinada política feita pelo próprio
Perón e as forças que o sucederam, como o menemismo, o
duhaldismo e o kirchnerismo.
A professora escolhida foi a
historiadora Patricia Berrotarán, diretora do curso de ciências sociais da Universidade
Nacional de Quilmes, instituição pública que abriu as portas
em 1991, durante o governo do
presidente Carlos Menem.
"Não há uma visão definitiva
[do que seja o peronismo] e
também não serei eu a dá-la. É
um fenômeno político muito
complexo", disse Berrotarán.
Ela afirmou que a definição do
período histórico abordado foi
da agência oficial e que seria
"difícil explicar" o terceiro
mandato de Perón e o que
ocorreu depois com o peronismo. "Seria uma outra coisa."
Alejandro Horowitz, professor da UBA (Universidade de
Buenos Aires) e autor do livro
"Os Quatro Peronismos" elogiou a promoção de um curso
sobre o tema, mas criticou o
programa. "Está mal colocado.
É desperdiçar uma oportunidade única", afirmou. "Mas,
claro, explicar o terceiro mandato seria contar que o programa de Perón em 1973 trazia
propostas que estão distantes
das de Kirchner."
Autor de dois volumes intitulados "História do Peronismo", o jornalista Hugo Gambini é bem mais duro. "Uma
agência oficial de noticias não
tem que fazer um curso sobre
uma tendência politica. Eu
desconfio dessas coisas", declarou. "O peronismo, quando está no poder, faz uma confusão
entre partido e Estado. O curso
é só uma prova disso."
O sociólogo Ricardo Sidicaro,
também professor da UBA e
autor do livro "Os Três Peronismos", elogia a professora escolhida, que foi sua orientanda,
e defende a iniciativa. "É bom
que façam isso. E falar do peronismo fundador é uma escolha.
Hoje, há muitos peronismos."
Segundo Martín Granovsky,
presidente da Télam, "a idéia é
dar ferramentas de análise aos
estrangeiros". Ele diz que era
grande a demanda, sobretudo
de jornalistas, para "entender
melhor o peronismo".
E Kirchner, é peronista?
Walter Curia, jornalista do
"Clarín" e autor de uma biografia de Kirchner chamada "O Último Peronista" diz ter ouvido
do presidente que ele não era
peronista "havia muito tempo". "Kirchner não é peronista
nem não-peronista. Joga todo
o tempo com essa incógnita."
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