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entrevista
Solanas lança candidatura contra "traidor"
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
"Mais que cineasta, sou
uma das grandes referências da cultura argentina",
diz Fernando Solanas, 71.
Não contente, ele é também candidato à Presidência pelo Partido Socialista
Autêntico nas eleições de
amanhã, empunhando a
bandeira da "volta à nacionalização do petróleo".
Militante político há 50
anos, o cineasta situa o
presidente Néstor Kirchner "na mesma vitrine dos
traidores da Argentina"
onde ele aloja Carlos Menem, por haver "destruído
a indústria e vendido o patrimônio público do país".
Diretor de "A Hora dos
Fornos" (1968) e "Memória do Saque" (2004), Solanas falou à Folha em setembro, no Festival de Cinema do Rio, onde exibiu
seu "Argentina Latente".
FOLHA - Qual é o eixo de seu
programa de governo?
FERNANDO SOLANAS - A recuperação do petróleo e do
gás. Até 1989 [início do governo Menem] os combustíveis eram um serviço
público, um bem social e
um direito humano.
Quando me perguntam se
quero nacionalizar a energia, respondo: voltar ao regime anterior. Veja o que
fez [o presidente boliviano] Evo Morales. Ninguém foi embora da Bolívia. Mudaram as regras.
FOLHA - Como vê Kirchner?
SOLANAS - Kirchner aprofundou o modelo de saque.
O sistema de corrupção de
Menem continuou. Os escandalosos subsídios às
corporações continuam.
Com as privatizações de
petróleo e gás por Menem,
a Argentina perdeu US$
240 bilhões. A partir dessa
tragédia, Kirchner impulsionou a segunda privatização. Nós o colocamos na
vitrine dos grandes traidores da Argentina.
FOLHA - E quanto à senadora
e candidata Cristina Kirchner?
SOLANAS - Cristina é uma
invenção de Kirchner. O
projeto Kirchner não é
bom para a Argentina. Fora da Argentina, ele construiu uma imagem de progressista, mas usa o mesmo sistema agro-mineiro-exportador de Menem. O
sucesso de um crescimento econômico de 8,5% ao
ano, ele nunca dividiu.
FOLHA - E por que Kirchner
tem alta popularidade?
SOLANAS - Por causa de
uma associação com os órgãos de comunicação. O
governo é o maior anunciante dos órgãos de comunicação, e Kirchner
prorrogou concessões por
dez anos, por decreto.
FOLHA - Que avaliação faz da
política externa de Kirchner?
SOLANAS - É boa. O problema é que os dirigentes do
Mercosul não têm competência para ver realmente
a longo prazo e pôr fim a
disputas mesquinhas.
FOLHA - Lula inclusive?
SOLANAS - Lula tem mais
visão estratégica do que
Kirchner; é o maior impulsor do G-20. Não é pouco.
FOLHA - Sua candidatura visa
agitar o debate eleitoral?
SOLANAS - Nestas eleições,
o objetivo é plantar as bandeiras. Nas legislativas de
2009, teremos representantes em todas as Províncias. E asseguro que, em
2011, lutaremos pela Presidência, com chances.
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