São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2007

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entrevista

Solanas lança candidatura contra "traidor"

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

"Mais que cineasta, sou uma das grandes referências da cultura argentina", diz Fernando Solanas, 71. Não contente, ele é também candidato à Presidência pelo Partido Socialista Autêntico nas eleições de amanhã, empunhando a bandeira da "volta à nacionalização do petróleo". Militante político há 50 anos, o cineasta situa o presidente Néstor Kirchner "na mesma vitrine dos traidores da Argentina" onde ele aloja Carlos Menem, por haver "destruído a indústria e vendido o patrimônio público do país". Diretor de "A Hora dos Fornos" (1968) e "Memória do Saque" (2004), Solanas falou à Folha em setembro, no Festival de Cinema do Rio, onde exibiu seu "Argentina Latente".

 

FOLHA - Qual é o eixo de seu programa de governo?
FERNANDO SOLANAS
- A recuperação do petróleo e do gás. Até 1989 [início do governo Menem] os combustíveis eram um serviço público, um bem social e um direito humano. Quando me perguntam se quero nacionalizar a energia, respondo: voltar ao regime anterior. Veja o que fez [o presidente boliviano] Evo Morales. Ninguém foi embora da Bolívia. Mudaram as regras.

FOLHA - Como vê Kirchner?
SOLANAS
- Kirchner aprofundou o modelo de saque. O sistema de corrupção de Menem continuou. Os escandalosos subsídios às corporações continuam. Com as privatizações de petróleo e gás por Menem, a Argentina perdeu US$ 240 bilhões. A partir dessa tragédia, Kirchner impulsionou a segunda privatização. Nós o colocamos na vitrine dos grandes traidores da Argentina.

FOLHA - E quanto à senadora e candidata Cristina Kirchner?
SOLANAS
- Cristina é uma invenção de Kirchner. O projeto Kirchner não é bom para a Argentina. Fora da Argentina, ele construiu uma imagem de progressista, mas usa o mesmo sistema agro-mineiro-exportador de Menem. O sucesso de um crescimento econômico de 8,5% ao ano, ele nunca dividiu.

FOLHA - E por que Kirchner tem alta popularidade?
SOLANAS
- Por causa de uma associação com os órgãos de comunicação. O governo é o maior anunciante dos órgãos de comunicação, e Kirchner prorrogou concessões por dez anos, por decreto.

FOLHA - Que avaliação faz da política externa de Kirchner?
SOLANAS
- É boa. O problema é que os dirigentes do Mercosul não têm competência para ver realmente a longo prazo e pôr fim a disputas mesquinhas.

FOLHA - Lula inclusive?
SOLANAS
- Lula tem mais visão estratégica do que Kirchner; é o maior impulsor do G-20. Não é pouco.

FOLHA - Sua candidatura visa agitar o debate eleitoral?
SOLANAS
- Nestas eleições, o objetivo é plantar as bandeiras. Nas legislativas de 2009, teremos representantes em todas as Províncias. E asseguro que, em 2011, lutaremos pela Presidência, com chances.


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