São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2008

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Refém das Farc é libertado por desertor

Versão inicial do governo colombiano falava em resgate militar, com mortes; cerco do Exército induziu a deserção

Ex-deputado Óscar Lizcano agradece antigo algoz pela "coragem de fugir com um velho doente"; guerrilheiro será recebido pela França


Luis Robayo/Associated Press
Lizcano, mantido refém por oito anos, ouve ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, em Cali

DA REDAÇÃO

O ex-deputado Óscar Tulio Lizcano, refém das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) por oito anos, foi encontrado ontem por militares, após fugir com o líder do grupo do comando guerrilheiro, que o mantinha refém, e vagar pela selva por três dias. As autoridades divulgaram inicialmente que Lizcano havia sido resgatado pelo Exército.
A versão inicial divulgada pela imprensa colombiana, que citava o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, era que Lizcano havia sido resgatado em uma operação militar na qual nove guerrilheiros foram mortos e seis, capturados. Informado por desertores sobre a localização do cativeiro, o Exército cercava a área há várias semanas. Mas não houve resgate militar e sim deserção.
Lizcano conta que, pressionado pelo cerco militar, o guerrilheiro Isaza decidiu fugir com ele para se entregar às autoridades. O político conservador, de 62 anos, agradeceu ao antigo carcereiro pela "coragem de fugir com um velho doente".
Lizcano e Isaza caminharam por três dias até encontrarem os militares, às 8h15 de ontem, em na zona rural de San José del Palmar, município no departamento de Cauca. Fragilizado pelo longo cativeiro, o ex-deputado foi levado de helicóptero à base militar Marco Fidel Suárez, em Cali, de onde seguiu para uma clínica.
O guerrilheiro, identificado apenas pelo codinome, será exilado na França, anunciou ontem presidente colombiano, Álvaro Uribe. O país aceitou o pedido de Bogotá para que receba ele e sua companheira, que abandonou as Farc há quatro meses. Isaza também receberá uma recompensa em dinheiro por abandonar as armas e libertar o ex-deputado, disse Uribe, que não informou o valor do prêmio.

Cerco
É mais um duro golpe para as Farc, fragilizada militar e moralmente. As mortes de Marulanda, Reyes e Iván Rios, todas em março, desfalcaram o comando da guerrilha. Em julho, o resgate de Ingrid Betancourt e outros 14 reféns, sem o disparo de nenhum tiro, expôs a infiltração militar nas Farc.
A organização enfrenta ainda deserções em massa, estimuladas pela pressão militar e por incentivos financeiros aos que abandonem a luta armada. A crescente oposição da sociedade aos métodos usados pelas Farc dificulta o recrutamento voluntário de novos membros.
Além dos seqüestros que financiam suas atividades, o grupo mantém "reféns políticos", que pretende trocar pelos cerca de 500 guerrilheiros presos. São policiais, militares e políticos, como ex-governador Alan Jara, seqüestrado em 2001.

Protesto ofuscado
A presença de Lizcano em Cali ofuscou a mobilização dos índios colombianos, que se encontrarão com Uribe na cidade, para cobrar compromissos de compras de terras e investigações sobre mortes de indígenas. A marcha promovida pela Onic (Organização Nacional de Indígenas da Colômbia) chegou a Cali na noite de anteontem, reunindo 40 mil pessoas.
Uribe inicialmente se recusara a dialogar com os índios, mas cedeu à pressão para encontra-los na cidade após duas semanas protestos, que deixaram três mortos. O presidente acusou os manifestantes de terem ligação com as Farc e tentarem barrar a aprovação do TLC (Tratado de Livre Comércio) com os EUA, parado no Congresso americano. Um dos entraves apontado pelo democratas ao TLC é o assassinato de sindicalistas na Colômbia.
Apenas neste ano, 66 líderes indígenas foram assassinados no país. Os índios são apenas 2% da população colombiana, mas, segundo a ONU, constituem 12% dos deslocados internos, forçados a deixar suas casas em razão dos conflitos entre o governo e guerrilheiros.


Com agências internacionais


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