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Refém das Farc é libertado por desertor
Versão inicial do governo colombiano falava em resgate militar, com mortes; cerco do Exército induziu a deserção
Ex-deputado Óscar Lizcano agradece antigo algoz pela "coragem de fugir com um velho doente"; guerrilheiro será recebido pela França
Luis Robayo/Associated Press
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Lizcano, mantido refém por oito anos, ouve ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, em Cali
DA REDAÇÃO
O ex-deputado Óscar Tulio
Lizcano, refém das Farc (Forças Armadas Revolucionárias
da Colômbia) por oito anos, foi
encontrado ontem por militares, após fugir com o líder do
grupo do comando guerrilheiro, que o mantinha refém, e vagar pela selva por três dias. As
autoridades divulgaram inicialmente que Lizcano havia sido
resgatado pelo Exército.
A versão inicial divulgada pela imprensa colombiana, que
citava o ministro da Defesa,
Juan Manuel Santos, era que
Lizcano havia sido resgatado
em uma operação militar na
qual nove guerrilheiros foram
mortos e seis, capturados. Informado por desertores sobre a
localização do cativeiro, o Exército cercava a área há várias semanas. Mas não houve resgate
militar e sim deserção.
Lizcano conta que, pressionado pelo cerco militar, o guerrilheiro Isaza decidiu fugir com
ele para se entregar às autoridades. O político conservador,
de 62 anos, agradeceu ao antigo
carcereiro pela "coragem de fugir com um velho doente".
Lizcano e Isaza caminharam
por três dias até encontrarem
os militares, às 8h15 de ontem,
em na zona rural de San José
del Palmar, município no departamento de Cauca. Fragilizado pelo longo cativeiro, o ex-deputado foi levado de helicóptero à base militar Marco Fidel
Suárez, em Cali, de onde seguiu
para uma clínica.
O guerrilheiro, identificado
apenas pelo codinome, será
exilado na França, anunciou
ontem presidente colombiano,
Álvaro Uribe. O país aceitou o
pedido de Bogotá para que receba ele e sua companheira,
que abandonou as Farc há quatro meses. Isaza também receberá uma recompensa em dinheiro por abandonar as armas e libertar o ex-deputado, disse
Uribe, que não informou o valor do prêmio.
Cerco
É mais um duro golpe para as
Farc, fragilizada militar e moralmente. As mortes de Marulanda, Reyes e Iván Rios, todas
em março, desfalcaram o comando da guerrilha. Em julho,
o resgate de Ingrid Betancourt
e outros 14 reféns, sem o disparo de nenhum tiro, expôs a infiltração militar nas Farc.
A organização enfrenta ainda
deserções em massa, estimuladas pela pressão militar e por
incentivos financeiros aos que
abandonem a luta armada. A
crescente oposição da sociedade aos métodos usados pelas
Farc dificulta o recrutamento
voluntário de novos membros.
Além dos seqüestros que financiam suas atividades, o grupo mantém "reféns políticos",
que pretende trocar pelos cerca
de 500 guerrilheiros presos.
São policiais, militares e políticos, como ex-governador Alan
Jara, seqüestrado em 2001.
Protesto ofuscado
A presença de Lizcano em
Cali ofuscou a mobilização dos
índios colombianos, que se encontrarão com Uribe na cidade,
para cobrar compromissos de
compras de terras e investigações sobre mortes de indígenas.
A marcha promovida pela Onic
(Organização Nacional de Indígenas da Colômbia) chegou a
Cali na noite de anteontem,
reunindo 40 mil pessoas.
Uribe inicialmente se recusara a dialogar com os índios, mas
cedeu à pressão para encontra-los na cidade após duas semanas protestos, que deixaram
três mortos. O presidente acusou os manifestantes de terem
ligação com as Farc e tentarem
barrar a aprovação do TLC
(Tratado de Livre Comércio)
com os EUA, parado no Congresso americano. Um dos entraves apontado pelo democratas ao TLC é o assassinato de
sindicalistas na Colômbia.
Apenas neste ano, 66 líderes
indígenas foram assassinados
no país. Os índios são apenas
2% da população colombiana,
mas, segundo a ONU, constituem 12% dos deslocados internos, forçados a deixar suas casas em razão dos conflitos entre o governo e guerrilheiros.
Com agências internacionais
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