São Paulo, terça-feira, 27 de outubro de 2009

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Irmã de Fidel Castro revela em livro que colaborou com a CIA

Juanita afirma que não traiu irmão, mas sim foi traída por ele, junto com milhares de cubanos que lutaram por revolução

Segundo cubana, foi mulher de embaixador brasileiro quem a apresentou, nos anos 60, a membro de agência de inteligência


Ivan Canas-04.ago.06/Notimex/France Presse
Juanita Castro, irmã de Fidel e Raúl, em Miami (EUA), onde vive

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

Juanita Castro, uma das irmãs mais novas de Fidel Castro, revelou em livro lançado ontem nos EUA que colaborou com a CIA nos anos 60 e que foi apresentada a um dos agentes por meio de Virgínia Leitão da Cunha, mulher do embaixador do Brasil em Cuba na época, Vasco Leitão da Cunha.
No livro de memórias "Fidel e Raúl, meus irmãos -a história secreta", Juanita diz que se sentiu traída pelo irmão. Ela apoiou a revolução no começo, mas afirma que depois se desiludiu com as atitudes tomadas pelo irmão no poder.
"Tive remorsos por trair Fidel ao aceitar reunir-me com o inimigo? Não, por uma simples razão: eu não o traí. Ele me traiu. Ele traiu os milhares que sofremos e lutamos pela revolução que nos oferecia, a que era generosa e justa e traria paz e democracia para Cuba e que, como ele prometeu, seria tão cubana quanto as palmeiras."
Juanita conheceu Virgínia em 1958, quando ficou durante três meses na Embaixada do Brasil em Cuba como asilada política durante o governo de Fulgencio Batista. Na época, ela colaborava com o Movimento Revolucionário 26 de Julho. No período, elas se tornaram amigas, e Juanita só saiu de lá em janeiro de 1959, pouco depois de Batista deixar o país. A embaixada abrigou também outros ativistas que atuavam contra a ditadura de Batista.
Logo após a invasão da baía dos Porcos, em 1961, (a tentativa frustrada de invadir o sul de Cuba por forças de exilados cubanos com o apoio americano), o relacionamento entre Juanita e Fidel começou a piorar sensivelmente. À época, Juanita já havia alugado uma casa que hospedava pessoas interessadas em sair do país. Ela dizia para as autoridades que tinha decidido administrar uma casa de hóspedes. Ali, providenciava passaportes e evitava que boa parte dos pertences dos viajantes fossem confiscados.
Virgínia chamou então Juanita para uma visita e avisou que o presidente João Goulart tinha dado ao marido a tarefa de se tornar embaixador na antiga União Soviética.
"Tenho pensado muito em tuas atividades. (...) Tudo isso me levou a te entregar uma mensagem de uns amigos que conhecem teu trabalho e querem te ajudar." A partir daí, as duas combinaram um encontro no México com um representante da CIA, que se apresentou como Enrique. Anos depois ela descobriu que o nome do contato era Tony Sforza e que ele tinha vivido infiltrado em Cuba, onde se passava por um jogador de cassinos, com o nome de Frank Stevens.
Ela relata que a única condição imposta para ajudar era que não queria se envolver em atividades violentas contra os irmãos ou contra funcionários do regime. Ouviu como resposta que suas missões envolviam só proteger e mover os agentes em segurança. Na época, a CIA tinha planos de matar Fidel.
A partir do encontro, Juanita começou a enviar informações para agentes da CIA no país por meio de um rádio de ondas curtas. Com o codinome de Donna, levava mensagens, documentos e repassava informações. O livro relata que, no meio de uma missão, o carro quebrou na estrada e ela foi resgatada pelo próprio Fidel, que passava em comitiva no caminho.
O livro afirma ainda que Juanita passou informações aos EUA sobre mísseis soviéticos que estavam sendo instalados na ilha e que a cada dia mais gente da União Soviética chegava ao país. A crise dos mísseis em Cuba explodiu em 1962 e virou um dos momentos de maior tensão da Guerra Fria.
Juanita deixou Cuba em 1964, após alerta de Raúl de que suas atividades haviam sido descobertas. E foi para Miami.
No livro, Juanita deixa clara a distinção no relacionamento com os irmãos. Raúl é descrito como uma pessoa mais sensata e emotiva, e Fidel, como egoísta, inteligente e insensível.


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