São Paulo, terça-feira, 27 de outubro de 2009

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Chanceler iraniano defende cooperação nuclear com Brasil

Países têm posição comum em relação a atividades nucleares pacíficas, diz ministro

Declarações são feitas a menos de um mês de visita a Brasília de presidente do Irã, na qual parceria comercial também vai ser debatida


SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A TEERÃ

O chanceler do Irã, Manouchehr Mottaki, defendeu a intensificação da parceria com o Brasil em diversas áreas, especialmente em matéria de energia nuclear -setor em que, segundo ele, Teerã e Brasília estão na mesma sintonia. As declarações, feitas em meio aos preparativos da visita a Brasília do presidente Mahmoud Ahmadinejad, no dia 23 de novembro, mostram que o governo iraniano aposta na relação com o Brasil, potência emergente com boa inserção internacional, para aliviar o seu isolamento diplomático e amparar politicamente o seu controverso programa de enriquecimento de urânio.
"Os dois países têm uma posição comum em relação às atividades nucleares pacíficas e insistem [em defender os seus] direitos", disse Mottaki, no encerramento da 16ª Feira Internacional de Mídia de Teerã, promovida pelo governo. O chanceler destacou a crescente necessidade de recorrer à energia atômica como forma de contornar o "esgotamento paulatino das energias fósseis [como o petróleo]". Ele disse ainda que o lema compartido com o governo brasileiro é: "energia nuclear pacífica para todo mundo e armas nucleares para ninguém".
As declarações de Mottaki fazem eco à mensagem divulgada pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a última Assembleia Geral da ONU, no mês passado.
O presidente rejeitou pressões internacionais para forçar Teerã a suspender seu programa nuclear e destacou o direito, assegurado pelo TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear), de todos os países enriquecerem urânio para produzir energia atômica civil, desde que cooperem com as inspeções da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).
"Defendo para o Irã a mesma coisa que eu defendo para o Brasil em relação à energia nuclear", afirmou Lula, após encontro de duas horas com Ahmadinejad em um hotel de Nova York. O brasileiro afirmou ter recebido do colega iraniano garantias de que Teerã não quer a bomba. A Constituição Federal de 1988 determina que o programa nuclear brasileiro deve ser usado exclusivamente para fins pacíficos. Em 2004 o Brasil teve divergências com a AIEA a respeito do acesso dos inspetores da agência às centrais brasileiras. O embate foi resolvido por meio de um acordo, mas alguns setores conservadores nos EUA defendem que a AIEA seja mais rigorosa com o Brasil.
O Brasil está deixando cada vez mais clara a sua posição sobre o Irã num momento crucial nas negociações internacionais sobre o programa nuclear de Teerã. Em aceno ao Ocidente, Mottaki reconheceu ontem a possibilidade de o Irã levar parte de seu urânio para ser enriquecido em outro país e levantou ainda a opção de comprar o produto no exterior para abastecer suas centrais atômicas.
Foi o primeiro sinal de que o Irã pode aceitar a recente proposta dos negociadores internacionais (as cinco potências nucleares do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha) de enviar cerca de 70% de seu urânio para a Rússia -o que retiraria dos iranianos a maior parte do material necessário para a eventual fabricação de uma bomba nuclear. O aparente recuo do Irã ocorreu no mesmo dia em que a AIEA inspecionou pela primeira vez a central de enriquecimento de urânio da cidade sagrada de Qom, cuja existência foi revelada no mês passado, aumentando a pressão sobre Teerã.

"Salto qualitativo"
Além da questão nuclear, Mottaki previu que a viagem de Ahmadinejad ao Brasil provocará um "salto qualitativo" nas relações políticas, econômicas e comerciais entre os países. Nas entrelinhas está o projeto iraniano de equilibrar a balança comercial com o Brasil. Mais de 90% dos atuais US$ 1,7 bilhão de comércio bilateral são de exportações brasileiras ao Irã.
Também estará na pauta de negociações a isenção de vistos para turistas nos dois países.

O jornalista SAMY ADGHIRNI viajou a convite do governo do Irã



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