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Chanceler iraniano defende cooperação nuclear com Brasil
Países têm posição comum em relação a atividades nucleares pacíficas, diz ministro
Declarações são feitas a menos de um mês de visita a Brasília de presidente do Irã, na qual parceria comercial também vai ser debatida
SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A TEERÃ
O chanceler do Irã, Manouchehr Mottaki, defendeu a intensificação da parceria com o
Brasil em diversas áreas, especialmente em matéria de energia nuclear -setor em que, segundo ele, Teerã e Brasília estão na mesma sintonia.
As declarações, feitas em
meio aos preparativos da visita
a Brasília do presidente Mahmoud Ahmadinejad, no dia 23
de novembro, mostram que o
governo iraniano aposta na relação com o Brasil, potência
emergente com boa inserção
internacional, para aliviar o seu
isolamento diplomático e amparar politicamente o seu controverso programa de enriquecimento de urânio.
"Os dois países têm uma posição comum em relação às atividades nucleares pacíficas e
insistem [em defender os seus]
direitos", disse Mottaki, no encerramento da 16ª Feira Internacional de Mídia de Teerã,
promovida pelo governo.
O chanceler destacou a crescente necessidade de recorrer à
energia atômica como forma de
contornar o "esgotamento paulatino das energias fósseis [como o petróleo]". Ele disse ainda
que o lema compartido com o
governo brasileiro é: "energia
nuclear pacífica para todo
mundo e armas nucleares para
ninguém".
As declarações de Mottaki fazem eco à mensagem divulgada
pelo presidente brasileiro, Luiz
Inácio Lula da Silva, durante a
última Assembleia Geral da
ONU, no mês passado.
O presidente rejeitou pressões internacionais para forçar
Teerã a suspender seu programa nuclear e destacou o direito,
assegurado pelo TNP (Tratado
de Não Proliferação Nuclear),
de todos os países enriquecerem urânio para produzir energia atômica civil, desde que
cooperem com as inspeções da
AIEA (Agência Internacional
de Energia Atômica).
"Defendo para o Irã a mesma
coisa que eu defendo para o
Brasil em relação à energia nuclear", afirmou Lula, após encontro de duas horas com Ahmadinejad em um hotel de Nova York. O brasileiro afirmou
ter recebido do colega iraniano
garantias de que Teerã não
quer a bomba.
A Constituição Federal de
1988 determina que o programa nuclear brasileiro deve ser
usado exclusivamente para fins
pacíficos. Em 2004 o Brasil teve divergências com a AIEA a
respeito do acesso dos inspetores da agência às centrais brasileiras. O embate foi resolvido
por meio de um acordo, mas alguns setores conservadores
nos EUA defendem que a AIEA
seja mais rigorosa com o Brasil.
O Brasil está deixando cada
vez mais clara a sua posição sobre o Irã num momento crucial
nas negociações internacionais
sobre o programa nuclear de
Teerã.
Em aceno ao Ocidente, Mottaki reconheceu ontem a possibilidade de o Irã levar parte de
seu urânio para ser enriquecido
em outro país e levantou ainda
a opção de comprar o produto
no exterior para abastecer suas
centrais atômicas.
Foi o primeiro sinal de que o
Irã pode aceitar a recente proposta dos negociadores internacionais (as cinco potências
nucleares do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha) de enviar cerca de 70% de
seu urânio para a Rússia -o
que retiraria dos iranianos a
maior parte do material necessário para a eventual fabricação
de uma bomba nuclear.
O aparente recuo do Irã ocorreu no mesmo dia em que a
AIEA inspecionou pela primeira vez a central de enriquecimento de urânio da cidade sagrada de Qom, cuja existência
foi revelada no mês passado,
aumentando a pressão sobre
Teerã.
"Salto qualitativo"
Além da questão nuclear,
Mottaki previu que a viagem de
Ahmadinejad ao Brasil provocará um "salto qualitativo" nas
relações políticas, econômicas
e comerciais entre os países.
Nas entrelinhas está o projeto iraniano de equilibrar a balança comercial com o Brasil.
Mais de 90% dos atuais US$ 1,7
bilhão de comércio bilateral
são de exportações brasileiras
ao Irã.
Também estará na pauta de
negociações a isenção de vistos
para turistas nos dois países.
O jornalista SAMY ADGHIRNI viajou a convite
do governo do Irã
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