São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

O IMPÉRIO VOTA

Latinos atacam plebiscito sobre maconha

Presidentes de México, Colômbia e outros países da região criticam possível liberação da droga na Califórnia

Líder colombiano diz que a votação gerará confusão na população e cobra nova estratégia de combate ao tráfico

GABRIELA MANZINI
DE SÃO PAULO

Palcos de milionárias operações militares americanas de combate ao narcotráfico, o México e a Colômbia capitanearam ontem críticas ao Estado da Califórnia que, no dia 2, irá decidir em plebiscito se libera o uso recreativo de maconha.
Os dois países costumam criticar a ambiguidade do poderoso aliado do norte que, enquanto financia a guerra antidrogas, seria leniente com o consumo interno.
Conforme a Unodc, a agência antidrogas da ONU, os EUA são hoje o segundo maior mercado de maconha do continente, perdendo só para o Canadá.
"É confuso para a nossa gente ver que, enquanto perdemos vidas e investimos recursos na luta ao narcotráfico, em países consumidores sejam promovidas iniciativas como a do referendo da Califórnia", afirmou ontem o presidente Juan Manuel Santos, da Colômbia.
"Se não atuarmos de forma consistente neste assunto, se tudo o que fizermos for mandar nossos conterrâneos à prisão enquanto, em outras latitudes, se legaliza o mercado, então devemos nos questionar: não é hora de revisar a estratégia?", completou.
Durante cúpula regional realizada em Cartagena (Colômbia), Santos, seu colega mexicano, Felipe Calderón, e presidentes da América Central debateram formas de cooperação.
"É, no mínimo, uma mensagem contraditória na luta antidrogas", defendeu Laura Chinchilla, da Costa Rica. "Por um lado, um Estado populoso que originará consumo e, por outro, uma política federal que impulsiona a perseguição a nossos países."
O hondurenho Porfirio Lobo previu consequências "funestas", no caso de legalização. "Em problemas graves como o narcotráfico, é preciso chegar a acordos entre todos", pediu.

IMPACTO NA FRONTEIRA
"Estudos indicam que [a liberação] poderá aumentar o uso, ao menos no curto prazo. Isso dá sinais conflitantes", avalia Robert Donnelly, pesquisador do Instituto do México do Woodrow Wilson Center, de Washington.
"Mas o projeto na Califórnia autoriza ou permite o cultivo para o uso pessoal, não abre a fronteira e nem acaba com barreiras nacionais à entrada da droga", pondera.
Raul Benitez Manaut, do Centro de Pesquisas da América do Norte da Unam (Universidade Nacional Autônoma do México), também minimiza o impacto da eventual liberação.
Para o pesquisador, mesmo com a vitória do "sim", a procura não deve aumentar, porque isso só "oficializaria uma situação que já existe", já que o consumo de maconha na Califórnia é "historicamente alto".
"Pode ter um impacto forte na fronteira, em Tijuana, que fica ao lado de San Diego, a terceira maior cidade da Califórnia. Porém, em termos nacionais, é difícil de saber. Há quem diga que será grande, há quem diga que será baixo. Do ponto de vista político, o debate irá continuar."
O referendo legaliza o uso e a plantação de maconha a maiores de 21 anos e incumbe os governos locais de regular o comércio. Pesquisas de intenção de voto indicam que a diferença entre "sim" e "não" é pequena, de cerca de cinco pontos percentuais.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Especialistas dizem ter havido só coincidência
Próximo Texto: Votação antecipada favorece Partido Democrata
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.