São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 2011

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Líder do maior partido secular da Tunísia descarta lei islâmica

Sigla, porém, admite coalizão com partido religioso no novo governo

MARCELO NINIO

ENVIADO ESPECIAL A TÚNIS

Em meio à preocupação de tunisianos não religiosos com a vitória do Partido do Renascimento Islâmico (Nahda) nas eleições de domingo passado, um dos principais ativistas de direitos humanos do país -que poderá ser o fiel da balança do novo governo- prefere dar aos vencedores o benefício da dúvida.
Líder do CPR (Congresso para a República), partido secular que deve ter a segunda maior bancada na Assembleia Constituinte, Moncef Marzouki admite aliar-se ao Nahda para formar um "governo de união nacional".
Em entrevista à Folha, Marzouki, 66, afastou a hipótese de que a vitória do Nahda leve à aplicação da sharia (lei islâmica) na Tunísia. Para ele, não há contradição na aliança de um defensor dos direitos humanos com um partido islâmico moderado.
"[Os líderes do Nahda] prometeram proteger os direitos humanos e os direitos da mulher", diz Marzouki. "Não é como na Líbia. Ninguém na Tunísia está falando em sharia."
Até ontem, a apuração das urnas na Tunísia não tinha sido concluída. Segundo os resultados parciais, o Nahda conquistou pelo menos 65 das 217 cadeiras da Constituinte -cerca de 40% das 159 já apuradas-, tendo a maior bancada, mas não a maioria.
Negociações já estão em andamento para formar uma coalizão com os dois maiores partidos seculares, o CPR e o esquerdista Ettakatol, que deve ficar em terceiro lugar.
Marzouki -veterano da oposição ao ditador Zine Ben Ali, deposto no início do ano na primeira onda de protestos da Primavera Árabe- apoia a ideia.
"A Tunísia precisa de um governo de união nacional para enfrentar seus graves problemas econômicos, como o alto desemprego."
Mesmo antes do anúncio oficial dos resultados eleitorais, o Nahda já se prepara para governar o país. Soumaya Ghannouchi, porta-voz do partido, disse à Folha que o secretário-geral do Nahda, Hamadi Jebali, será apontado para o cargo de premiê.
Jebali, engenheiro de 62 anos, passou 16 deles preso por oposição ao ditador, sendo dez na solitária.
Em entrevista ontem, ele procurou acalmar tunisianos não religiosos e investidores preocupados com a possível "islamização" da Tunísia.
Elogiado pelo Nahda, o modelo turco de convivência entre um Estado laico e um país islâmico parece razoável também para o principal partido secular.


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