São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 2002

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AIDS

Segundo a ONU, há 42 milhões de pessoas com o vírus no mundo; na Rússia, total saltou de cerca de 11 mil em 98 para 200 mil hoje

Mulheres já são 50% dos infectados por HIV

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

O relatório 2002 sobre a situação da Aids no mundo, divulgado ontem pela Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids), revela que, até o fim do ano, 42 milhões de pessoas estarão infectadas, das quais 50% serão mulheres -eram 48% em 2001. Segundo o estudo, em 2002, 5 milhões de pessoas foram contaminadas pelo HIV e, até dezembro, 3,1 milhões terão morrido em consequência dele.
A Unaids estima que, em 20 anos, a Aids poderá causar a morte de 68 milhões de pessoas no mundo, cinco vezes o total registrado em cerca de 20 anos de epidemia. Um dos dados mais preocupantes, na opinião de Luiz Antônio Loures, diretor para Europa e América Latina da Unaids, é o avanço da doença em países do Leste Europeu e da Ásia Central, como Rússia, China, Índia e os países dos Bálcãs.
Na Rússia, 200 mil pessoas vivem hoje com o vírus - em 1998 eram 10.993. Na Estônia, os casos notificados passaram de 12 em 1999 para 1.474 em 2001. Na vizinha Letônia, havia 25 casos de pessoas com Aids em 1997; o total saltou para 807 em 2001 e, só nos primeiros seis meses deste ano, 308 pessoas contraíram o HIV.
Na China, o número de pessoas com Aids neste ano aumentou sete vezes em relação a 2001. Cerca de 1 milhão de pessoas vivem com o HIV no país. A Índia, que tem 3,97 milhões de infectados, é o segundo país, depois da África do Sul, com maior número absoluto de casos notificados.
De acordo com Loures, tanto no Leste Europeu quanto nos Bálcãs, o uso de drogas injetáveis é o principal responsável pelo aumento das infecções.
O Caribe é outra região que preocupa, com as maiores taxas de contaminação depois da África Subsaariana. Na região, a doença já é a principal causa da morte entre as mulheres. Em 12 países do Caribe, a taxa de infecção da população é superior a 1%. Haiti e Bahamas têm os piores índices -6% e 3,5%, respectivamente.
Loures alerta para três efeitos catastróficos da doença, caso não se aumentem os investimentos em prevenção e tratamento da Aids no mundo: a fome, a instabilidade social e a insegurança.
"A fome na África está diretamente relacionada aos casos de Aids. Isso porque a maioria dos países essencialmente agrícolas têm as maiores taxas de infecção pelo HIV, como é o caso de Botsuana, Zimbábue e Lesoto. Ou seja, as pessoas que estariam no campo estão morrendo de Aids."
Forças militares desses países e de outros que estão sempre à beira de conflitos, como o Afeganistão e o Uzbequistão, estão perdendo seus militares por causa do HIV. Nos países dos Balcãs, a maioria dos mortos tem menos de 20 anos. "Sem força de trabalho e sem segurança militar, a consequência é a instabilidade e a insegurança", disse Loures.
Por esses motivos, a Aids foi discutida neste ano, pela primeira vez, pelo Conselho de Segurança da ONU. Atualmente, o total de investimentos em Aids no mundo está em US$ 3 bilhões. O ideal, segundo a Unaids, seriam US$ 10,5 bilhões. Dessa forma, poderiam ser evitadas 29 milhões de novas infecções até 2010.
O diretor reconhece que o cenário é pessimista, ainda mais quando se esperava certa estabilização do número de casos, o que significaria 3 milhões a mais de doentes em relação a 2001, e não 5 milhões. "Temos todas as razões para o pessimismo, mas temos condições de mudar isso. Se nada for feito, porém, teremos 68 milhões de mortes nos próximos 20 anos."
Ele disse que o grande impacto da doença para os próximos dez anos serão meninos e meninas que estão hoje completando o ensino fundamental. Isso porque, segundo ele, os métodos para prevenir o contágio pelo HIV ainda não fazem parte de seu cotidiano.
"Os programas estão muito voltados para os chamados grupos de risco, para aqueles em idade sexualmente ativa e que podem se envolver com drogas. Só que a vida sexual, assim como o uso de drogas, começa cada vez mais cedo, e a educação não tem acompanhado essa mudança."


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