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AIDS
Segundo a ONU, há 42 milhões de pessoas com o vírus no mundo; na Rússia, total saltou de cerca de 11 mil em 98 para 200 mil hoje
Mulheres já são 50% dos infectados por HIV
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
O relatório 2002 sobre a situação
da Aids no mundo, divulgado ontem pela Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre
HIV/Aids), revela que, até o fim
do ano, 42 milhões de pessoas estarão infectadas, das quais 50%
serão mulheres -eram 48% em
2001. Segundo o estudo, em 2002,
5 milhões de pessoas foram contaminadas pelo HIV e, até dezembro, 3,1 milhões terão morrido em
consequência dele.
A Unaids estima que, em 20
anos, a Aids poderá causar a morte de 68 milhões de pessoas no
mundo, cinco vezes o total registrado em cerca de 20 anos de epidemia. Um dos dados mais preocupantes, na opinião de Luiz Antônio Loures, diretor para Europa
e América Latina da Unaids, é o
avanço da doença em países do
Leste Europeu e da Ásia Central,
como Rússia, China, Índia e os
países dos Bálcãs.
Na Rússia, 200 mil pessoas vivem hoje com o vírus - em 1998
eram 10.993. Na Estônia, os casos
notificados passaram de 12 em
1999 para 1.474 em 2001. Na vizinha Letônia, havia 25 casos de
pessoas com Aids em 1997; o total
saltou para 807 em 2001 e, só nos
primeiros seis meses deste ano,
308 pessoas contraíram o HIV.
Na China, o número de pessoas
com Aids neste ano aumentou sete vezes em relação a 2001. Cerca
de 1 milhão de pessoas vivem com
o HIV no país. A Índia, que tem
3,97 milhões de infectados, é o segundo país, depois da África do
Sul, com maior número absoluto
de casos notificados.
De acordo com Loures, tanto no
Leste Europeu quanto nos Bálcãs,
o uso de drogas injetáveis é o
principal responsável pelo aumento das infecções.
O Caribe é outra região que
preocupa, com as maiores taxas
de contaminação depois da África
Subsaariana. Na região, a doença
já é a principal causa da morte entre as mulheres. Em 12 países do
Caribe, a taxa de infecção da população é superior a 1%. Haiti e
Bahamas têm os piores índices
-6% e 3,5%, respectivamente.
Loures alerta para três efeitos
catastróficos da doença, caso não
se aumentem os investimentos
em prevenção e tratamento da
Aids no mundo: a fome, a instabilidade social e a insegurança.
"A fome na África está diretamente relacionada aos casos de
Aids. Isso porque a maioria dos
países essencialmente agrícolas
têm as maiores taxas de infecção
pelo HIV, como é o caso de Botsuana, Zimbábue e Lesoto. Ou seja, as pessoas que estariam no
campo estão morrendo de Aids."
Forças militares desses países e
de outros que estão sempre à beira de conflitos, como o Afeganistão e o Uzbequistão, estão perdendo seus militares por causa do
HIV. Nos países dos Balcãs, a
maioria dos mortos tem menos
de 20 anos. "Sem força de trabalho e sem segurança militar, a
consequência é a instabilidade e a
insegurança", disse Loures.
Por esses motivos, a Aids foi discutida neste ano, pela primeira
vez, pelo Conselho de Segurança
da ONU. Atualmente, o total de
investimentos em Aids no mundo
está em US$ 3 bilhões. O ideal, segundo a Unaids, seriam US$ 10,5
bilhões. Dessa forma, poderiam
ser evitadas 29 milhões de novas
infecções até 2010.
O diretor reconhece que o cenário é pessimista, ainda mais quando se esperava certa estabilização
do número de casos, o que significaria 3 milhões a mais de doentes
em relação a 2001, e não 5 milhões. "Temos todas as razões para o pessimismo, mas temos condições de mudar isso. Se nada for
feito, porém, teremos 68 milhões
de mortes nos próximos 20 anos."
Ele disse que o grande impacto
da doença para os próximos dez
anos serão meninos e meninas
que estão hoje completando o ensino fundamental. Isso porque,
segundo ele, os métodos para prevenir o contágio pelo HIV ainda
não fazem parte de seu cotidiano.
"Os programas estão muito voltados para os chamados grupos
de risco, para aqueles em idade
sexualmente ativa e que podem se
envolver com drogas. Só que a vida sexual, assim como o uso de
drogas, começa cada vez mais cedo, e a educação não tem acompanhado essa mudança."
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